Chegamos aos últimos dias do ano e parece razoavelmente seguro dizer que Fernando Haddad foi o melhor que o governo produziu até o momento. É até possível argumentar segundo a coluna de Renata Agostini, no Estadão, que a concorrência na Esplanada não esteve assim tão acirrada, mas é indisputável o diagnóstico de que Haddad triunfou.
O ministro, que assumiu a Fazenda sob olhar cético do mundo político e com o nariz torcido dos investidores, se aproxima do fim de seu primeiro ano à frente da equipe econômica tendo cumprido praticamente tudo o que se dispôs a fazer.
A lista não era tacanha. Haddad apresentou e aprovou o “novo arcabouço fiscal”, enterrando o teto de gastos tão criticado pelo PT e pela esquerda; mudou o formato da meta de inflação enquanto segurou na unha a meta fiscal de 2024; negociou com o Congresso aumento de tributos dos “super-ricos”, das grandes empresas com benefícios nos Estados, dos sites de apostas esportivas. Por fim, articulou e ajudou a selar a reforma tributária, que vinha sendo negociada há 30 anos.
Haddad vai poder dizer que entrega a economia ao fim de dezembro com crescimento acima do projetado no início do ano, inflação sob controle, juros em queda e confiança renovada das agências de risco, que elevaram a nota do País.
É uma lista admirável de feitos. Mas ela torna-se especialmente vistosa considerando que o ministro teve de chamar para si em diversos momentos o papel de articulador político, desviar dos muitos petardos de seu partido, entrar em disputa com colegas de Esplanada e convencer o próprio chefe a não desistir de seu plano.
O ministro sai, ainda de acordo com Renata Agostini, fortalecido para as disputas que virão em 2024. Sim, porque elas chegarão. O que se desenha para o próximo ano é uma economia avançando pouco — ou andando de lado — e uma pressão crescente por gastos não só do Congresso, mas também do Palácio do Planalto. Lula não quer saber de cortar despesas, especialmente em ano eleitoral.
Junte-se a isso notórias fragilidades do “plano Haddad”, que será colocado sob forte teste em 2024. A manutenção do compromisso de “déficit zero” só foi possível após uma interpretação da Fazenda de que o novo arcabouço abre espaço para aumento de gastos mesmo se a meta fiscal estiver sob risco. Os projetos aprovados no Congresso, que dão sustentação às metas de arrecadação, foram todos desidratados e, mesmo assim, a Fazenda não reviu de forma significativa o cálculo sobre o que devem produzir de receitas.
Importante lembrar que, neste ano, apesar do desempenho espetacular do agronegócio e do PIB crescendo acima do imaginado, a equipe econômica teve de rever a projeção de rombo nas contas públicas. Sairemos, assim, de um superávit no último ano do governo Jair Bolsonaro — o primeiro, aliás, em oito anos — para um déficit de quase R$ 200 bilhões em 2023. Ou seja, a trajetória da dívida pública vai seguir embicando para cima.
Haddad teve um ano de acertos. Vai poder bater no peito e dizer que, até agora, entregou o prometido. Basta saber, no entanto, se o prometido é suficiente para o País. Para investidores e para gente graúda que acompanha as contas públicas, o plano de Haddad segue capenga e não vai dar conta de entregar o ajuste fiscal necessário. Para o PT, o plano concede demais ao mercado e não vai dar conta de responder aos problemas sociais do País — e aos anseios eleitorais do partido. Haddad tem motivos para celebrar. Mas terá pouco tempo para comemorações.