Confira trecho da entrevista do presidente do Esporte Clube Bahia, Guilherme Bellintani, ao jornal A Tarde:
Antes de entrar para a gestão do Bahia, você atuava na vida pública como político. Volta e meia seu nome é lembrado pelo ambiente da política. Alimenta o desejo de voltar à política?
Eu me identificava muito mais com o termo gestor público do que propriamente com o termo político. E nada contra os políticos, eu acho que a política é uma coisa que é necessária e positiva para o país. Mas eu nunca cheguei a disputar uma eleição e não tive uma vivência político-eleitoral. Mas fazer política e fazer gestão pública sempre fizeram parte da minha vida, da minha história, com o movimento estudantil que foi desde o grêmio da escola, diretório acadêmico da faculdade, mesmo como empresário, que montei minha primeira empresa aos 20 anos, sempre fui um empresário muito atuante e preocupado com a vida pública do meu país. Quando eu pude dar por 5 anos a minha contribuição como gestor público eu também vivi a política e fiz a política. Eu gosto muito de colaborar e intervir nos movimentos da minha cidade, meu estado, meu país, e entendo que foi um momento muito benéfico na minha vida e que pude fazer também minha colaboração à sociedade. Mas nesse momento agora minha concentração é absoluta no Esporte Clube Bahia. Eu estou num ano de muita dificuldade, de reconstrução financeira do clube por conta da pandemia, e desafios esportivos também muito grandes. Estou focado nisso agora.
Uma das especulações dão conta que você pode disputar na vaga de vice na chapa do ex-prefeito ACM Neto. Existem conversas já para 2022?
Eu acho muito bom que um presidente de um clube de futebol seja especulado na gestão pública. É bom isso. Eu acho que mostra que o trabalho está sendo reconhecido, é bem feito, por mais que tenha crítica, futebol é muito difícil de você ter unanimidade, varia muito conforme a posição do time na tabela, a avaliação do seu trabalho varia muito conforme a posição do time. Mas eu acho que o trabalho que não só eu, mas o grupo que a gente tem junto no Bahia vem fazendo termina projetando para outros desafios. Então eu me orgulho muito de ser lembrado, eu tenho uma relação pessoal com ACM Neto, estive por 5 anos como secretário dele, criamos uma relação de amizade, hoje temos uma relação que é muito boa, muito positiva, mas eu não acho que está na hora de falar de nenhum movimento político, porque, como eu falei, o meu foco agora está no Bahia e já é um ano muito difícil que eu tenho muitas atribuições, não está dando tempo nem de respirar outra coisa.
Você estaria ajudando na formação do plano de governo de ACM Neto para 2022. Como será sua participação na área da educação, área que você atuou muito fortemente na gestão municipal?
Sim, participei. Foi muito bom, fiquei muito orgulhoso e agradecido a Neto por me chamar para opinar um pouco no que ele pensa, de discussão. Não foi propriamente uma reunião de plano de governo, mas o que ele pensa sobre a gestão da educação no estado da Bahia, como ele vê a educação. Me chamou para opinar sobre isso, eu tenho minha opinião muito formada, gosto muito da área de educação, foi o que eu estudei no meu mestrado, meu doutorado, fui secretário de educação por 2 anos. Tenho uma visão muito clara do que eu penso sobre o processo de educação pública no Brasil, na Bahia, em Salvador. Tenho essa experiência e eu gostei muito. Foi uma reunião bem interessante que Neto me chamou para opinar um pouco sobre essa visão da educação e o futuro da educação no estado. Foi bem legal. Eu relembrei um pouco os meus tempos de secretário.
Que avaliação você faz do atual governo do estado? Há um cansaço do PT na Bahia?
Eu não gosto dessa expressão “cansaço do PT na Bahia”. Eu acho que é uma expressão superficial, eu acho que ela não é nem crítica na medida certa e nem traz o valor que também deve ser trazido. Eu acho que essa expressão é muito genérica. Eu acho que todo governo quando passa muito tempo tem trabalhos sólidos que são implementados e dá tempo de se consolidar mesmo, um trabalho sério. E, por outro, lado coisas que não são feitas e que as pessoas começam a sentir falta. Eu acho que isso é natural num governo que se alonga por quatro mandatos aí na mesma corrente política. Mas a expressão “cansaço do PT” eu a acho superficial e, digamos assim, generalista demais para caracterizar um movimento político, uma gestão de um estado.
Como você avalia o Governo Bolsonaro e que avaliação você faz para o cenário de 2022 que se avizinha?
Eu não tenho habilidade política para fazer avaliação de 2022. Eu acho que o Governo Bolsonaro, se você prestar atenção no que ele disse durante a campanha, ele talvez esteja seguindo de forma muito parecida com o que disse que ia fazer.
Você a credita que uma aliança de ACM Neto com Bolsonaro já no primeiro turno causaria prejuízos para o ex-prefeito na Bahia?
Eu não sou talvez a pessoa mais certa para fazer esse tipo de análise de tendência política ou de quem tem a perder e quem tem a ganhar se aliando com A, com B ou com C. O que eu sei é que eu participei da gestão de ACM Neto por 5 anos e encontro ali as práticas e a forma de pensar da gestão, ela foi bem diferente do que eu vejo hoje no Governo Federal. A gestão pública que eu vivi por 5 anos é uma gestão com o viés muito diferente das tendências que o Governo Federal vem apresentando nesse momento e desde que começou, na verdade. Então eu não sei, eu não vou falar por ACM Neto, por ninguém, das escolhas que cada um faz, mas eu vi estilos e tendências de visão de política e de mundo bastante diferentes comparando com o que eu vi na gestão de ACM Neto, o que eu vivi por 5 anos, com o Governo Federal.
Falando em tendências, na última campanha para prefeito o seu nome foi muito cogitado para ser candidato pelo PT e com o apoio do governo do estado. Em que lado você se colocaria hoje na política? Mais ligado ao PT, namorando mais com o DEM?
Hoje eu me encaixo na política do Esporte Clube Bahia. Eu já tenho muita política para fazer dentro do clube. Mas quem me conhece sabe que eu sou, não escondo isso, nunca escondi meu viés político, minha formação política, eu sou um cara humanista, tenho uma formação humanista, tenho isso como grande berço na minha vida, e isso trago para a política também. Então eu sempre estarei do lado que for prioritariamente seguir um processo de transformação social que o país começou desde a Constituição de 1988 e foi aprofundado no Governo Lula, foi ampliado no Governo Lula, foi seguido depois no Governo Dilma, teve valores também que trouxeram do Governo de Fernando Henrique Cardoso, que eu também acho que em vários aspectos teve avanços para o país. A visão que eu tenho é de um país mais humanista, mais sensível, mais estruturado socialmente, que consiga trazer evoluções que sejam melhores para nossa cidade, nosso estado, nosso país. Eu estarei sempre desse lado. Do lado da democracia, do lado de um país mais livre, mais aberto, mais progressista. Esse é meu viés político. Eu hoje estou concentrado de forma absoluta no Esporte Clube Bahia e deixo a gestão da política profissional, no bom sentido, para quem está envolvido nela. Hoje não é meu foco.
O voto é secreto, mas há uma clara polarização entre Bolsonaro e o PT desde a última eleição. Em quem você votou em 2018, Bellintani?
Sua pergunta é direta e minha resposta é direta. Na eleição em 2018 eu votei em Ciro Gomes no primeiro turno e em Fernando Haddad no segundo turno.