O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão diretamente ligado à Presidência da República, ignorou um pedido de compartilhamento do relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) às vésperas dos atos criminosos do dia 8 de janeiro.
Segundo matéria de Marcela Mattos, da Veja, essa solicitação foi feita pelo Comando Militar do Planalto (CMP), vinculado ao Exército, no âmbito do inquérito policial militar (IPM) instaurado para apurar os atentados e a atuação de militares durante a invasão e a depredação das sedes dos três poderes. À época, o GSI era comandado pelo general Gonçalves Dias, que pediu demissão nesta quarta-feira (19) após a CNN Brasil divulgar imagens dele dentro do Palácio do Planalto no momento do quebra-quebra.
Inicialmente, foi enviada uma solicitação à Abin. A agência, no entanto, ressaltou estar sob a alçada do GSI e indicou que o pedido deveria ser feito diretamente ao órgão. Na sequência, então, foi encaminhado o mesmo pedido diretamente ao GSI, que nunca se manifestou sobre o pedido.
Em meio a esse processo, a Abin, por meio de um decreto assinado pelo presidente Lula, foi transferida para o guarda-chuva da Casa Civil, comandada pelo ministro Rui Costa. Responsável pelas apurações, o então chefe do CMP, general Gustavo Dutra, enviou o pedido de compartilhamento do relatório diretamente à Casa Civil, e novamente ficou sem resposta.
O general Dutra prestou depoimento à Polícia Federal no último dia 12. O relatório foi um dos pontos questionados pelos investigadores, e o militar negou ter recebido qualquer informação de inteligência sobre os atos do 8 de janeiro.
O material elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência é tratado como um dos pontos cruciais sobre a atuação do governo Lula nos dias que antecederam os atentados do 8 de janeiro e se houve omissão diante dos alertas de que a manifestação prevista para aquele domingo poderia descambar para atos de violência.
Senadores que integram a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência também solicitaram o documento, e dizem ter recebido o relatório do GSI no final de janeiro. O material estaria sendo mantido a sete chaves em um cofre do Senado.
De acordo com parlamentares que viram o relatório, a Abin alertou que havia a “perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dia 7, 8 e 9 de janeiro de 2023” e que havia “a convocação por parte de organizações de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”.