O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), alterou o nome do assentamento Che Guevara, localização na cidade de Mirante do Paranapanema, no oeste do estado, para “Projeto de Assentamento Irmã Dulce”, registra Guilherme Caetano, do O Globo.
“(É) de notório conhecimento que a Sra. Maria Rita Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados, sendo assim uma figura que tanto contribuiu com o país e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz”, justifica o governo.
A alteração foi publicada no Diário Oficial do Estado nesta terça-feira, assinada pelo diretor-executivo da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Lucas França Bressanin. O órgão é vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, comandada por Guilherme Piai, que é nascido em Presidente Prudente, a 70 km de Mirante do Paranapanema.
“Antes o nome de um revolucionário cubano. Agora de uma santa brasileira que dedicou sua vida a obras de caridade”, escreveu Piai em suas redes sociais, enaltecendo a troca de nome.
O assentamento surgiu de uma ocupação de terras no começo dos anos 1990 e hoje conta com 46 famílias, de acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), responsável pela iniciativa de mais de três décadas atrás. A organização chamou a decisão do governo paulista de “autoritária e antidemocrática”.
“Che Guevara é precursor de lutas socialistas e símbolo de organização de massas pela mudança da realidade de exploração sob a qual os mais pobres vivem. É com base nessas ideias que as famílias de trabalhadores e trabalhadoras sem terra possuem identificação política com o legado de Che Guevara, que inspirou a nomeação do assentamento logo e inspira a luta pela continuidade da melhores condições de vida no campo até os dias de hoje”, escreveu o MST em seu site.
O governo Tarcísio vem colecionando iniciativas para rebatizar vias e espaços públicos associados à esquerda. No lugar, tem preferido referências a nomes da direita e até mesmo próceres da ditadura.
No ano passado, o governador sancionou um projeto de lei que dava o nome de “Deputado Erasmo Dias” para um viaduto em Paraguaçu Paulista, no interior. Dias ficou conhecido por ter liderado uma invasão à Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, em 1977, plena ditadura militar, quando dezenas de estudantes foram presos.
Em outro caso, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu, também no ano passado, uma decisão do Metrô que alterava o nome da futura estação Educador Paulo Freire para Fernão Dias, bandeirante associado à escravização de indígenas em sua exploração pelas terras paulistas.