Desde segunda-feira (10), o PL que equipara aborto a homicídio mobiliza a população, mas somente nesta última sexta-feira (14) o governo Lula resolveu se manifestar contrário ao projeto.
Os líderes do governo tiravam o corpo fora e diziam coisas como “pautas de costumes não é o nosso foco”.
Ou pisavam em ovos, diz Lauro Jardim, do O Globo, como se percebe nesta declaração do ministro Alexandre Padilha, na segunda-feira: “Consideramos que esses projetos de lei não deveriam estar neste momento na pauta prioritária da Câmara”.
Posicionamento que é bom, nada. Hoje, no entanto, as coisas mudaram.
Janja, até então muda sobre o assunto, postou sua posição contrária ao absurdo PL apoiado em peso pela bancada evangélica.
Padilha, por sua vez, deixou de lado os exagerados cuidados da sua fala de segunda-feira e posicionou-se:
— O governo, o presidente Lula ao longo da sua história, até atendendo solicitações de lideranças religiosas de parte da sociedade, sempre disse que nunca ia fazer nada para mudar a legislação atual do aborto no país. Nunca faria nenhum gesto, nenhuma ação para mudar a legislação de interrupção da gravidez no país. E nós continuamos com essa mesma postura.
Antes tarde do que nunca, mas entre o mutismo ou a timidez de segunda-feira e o tom mais assertivo de hoje, a razão para a mudança de atitude pode estar nas pesquisas de opinião, que parecem ter liberado o governo para, enfim, dizer o que pensa.
Fora as pesquisas a que o Palácio do Planalto teve acesso, uma delas é pública e foi divulgada pela Quaest no Estúdio I. A pesquisa mostra uma superioridade acachapante nas redes sociais de quem é contra o projeto: “na média dos últimos três dias, 52% de todas as 1.14 milhão de postagens coletadas defendiam argumentos contrários à medida; enquanto, apenas 15% eram postagens favoráveis”, informa Felipe Nunes, diretor da Quaest.