A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reprovou, na semana passada, o uso da Sputnik V, mas o Chile, na contramão da decisão brasileira, está em negociação para adquirir 4 milhões de doses do imunizante. Conforme informou a agência de notícias Reuters, o diretor de saúde pública do Chile, Heriberto Garcia, não vê motivos para barrar a importação, tendo como base os dados obtidos da Argentina e do México, países que já estão utilizando a vacina russa.
Segundo Garcia, há de fato necessidade de mais clareza no relatório do Instituto Gamaleya, que produz a Sputnik V, quanto à reprodução de adenovírus, que pode provocar efeitos colaterais nos vacinados, motivo capital da reprovação decretada pela Anvisa. O diretor, entretanto, disse que, no teste efetivo de campo, as reações detectadas nos argentinos e mexicanos vacinados com a Sputnik V não são diferentes daquelas registradas nos chilenos que receberam as vacinas Pfizer e Sinovac (CoronaVac).
Após a reprovação da importação da primeira leva de um total de 66 milhões de doses, o consórcio que comercializa a Sputnik V ameaçou processar a Anvisa por difamação, pois alega que a presença de adenovírus consta dos relatórios do Gamaleya. A diretoria da agência brasileira, em contrapartida, não nega que a informação esteja nos relatórios. Segundo o gerente-geral de medicamentos Gustavo Mendes, não está em disputa a presença ou não do adenovírus, mas suas justificativas. “A vacina é composta de dois tipos de adenovírus. Para um, é apresentada justificativa para não replicação, para outro, não”, disse Mendes em entrevista, conforme reportado pela Agência Brasil.
Ainda em entrevista, o gerente-geral esclarece que o processo está em desacordo com o desenvolvimento de qualquer vacina de vetor viral, conforme os parâmetros de autoridades regulatórias dos Estados Unidos e da União Europeia. Ele alertou que, uma vez no organismo humano, o adenovírus replicante pode causar viroses e se acumular em tecidos específicos do corpo, como os rins.
A reprovação da Sputnik V terá impacto significativo na campanha brasileira contra a Covid-19. Caso não seja substituída imediatamente, poderá ocasionar atrasos irreparáveis no cronograma de vacinação. O Chile, que deve fechar acordo com o consórcio russo nos próximos dias, é o país sul-americano com a melhor performance no ranking mundial, já tendo imunizado mais de 42% de sua população com pelo menos uma dose, incluindo jovens adultos na faixa etária de 30 anos. Em termos percentuais, está atrás apenas de Israel, Reino Unido e Estados Unidos, segundo o site de estatísticas Our World in Data.