O governo brasileiro avalia os impactos da crise entre Rússia e Ucrânia sobre o agronegócio nacional, segundo fontes. A leitura do governo, até o momento, é de que os efeitos sobre o agronegócio brasileiro dependerão da abrangência de eventuais sanções econômicas que possam ser impostas aos russos pelos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A reação nos preços das commodities agrícolas e dos fertilizantes e, consequentemente, nos alimentos já é uma questão considerada “dada como certa” pelo governo.
Os produtos do agronegócio são a base da balança comercial entre Brasil e Rússia. Nas importações, o destaque é para os fertilizantes, com a Rússia contribuindo com cerca de 20% dos adubos internalizados anualmente e sendo o maior fornecedor de adubos ao Brasil.
No ano passado, a importação de adubos russos pelas indústrias brasileiras foi de 9,273 milhões de toneladas de um total de 41,573 milhões de toneladas, segundo dados do Comextat (serviço de estatísticas de comércio exterior do Brasil) da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério da Economia.
Trigo e malte também compõem o rol de principais produtos agrícolas russos importados pela indústria brasileira. Do lado das exportações, as vendas brasileiras de soja para o país lideram o ranking da relação bilateral com 768,18 mil toneladas exportadas em 2021. Na sequência, constam itens como carnes, açúcares e café.
O efeito das sanções sobre o agronegócio brasileiro pode variar para as exportações e as importações. Há entendimento de que eventuais sanções afetando os grãos russos poderiam até mesmo aumentar as exportações do agro brasileiro, com o aumento da demanda de outros países pelos produtos brasileiros.
Por outro lado, embargos comerciais às exportações russas tendem a refletir diretamente na importação de adubos pelo Brasil.
Além disso, as sanções podem ser de ordem financeira, proibindo negócios e remessas financeiras de empresas americanas ou europeias com as companhias russas. Além das sanções, há ainda os entraves para escoamento em virtude das principais rotas logísticas do país estarem próximas do bloco europeu.
Outra fonte do governo avalia que, diferentemente do que ocorre com o Irã, um comércio entre Brasil e Rússia por troca comercial de produtos alimentícios e commodities esbarraria na dificuldade russa em se inserir no comércio em cenário de isolamento.
Um diplomata ouvido pelo Estadão/Broadcast avalia que o impacto das sanções dependerá também da participação da China e de eventuais alternativas buscadas pela Rússia para manter o escoamento de produtos.