A cerca de cinco meses das eleições municipais, 20 de 26 governadores já anunciaram o candidato que vão apoiar em suas capitais. Apesar de disputado pelos pré-postulantes, o aval dos chefes estaduais tem baixo impacto nas urnas, segundo o histórico das duas últimas eleições. Levantamento do GLOBO feito com base nos resultados dos pleitos de 2016 e 2020 revela que menos de um terço dos prefeitos eleitos tinham o apoio do gestor estadual. Em contrapartida, mais da metade dos que saíram vitoriosos era ligados ao grupo político que comandava o Executivo municipal.
No período analisado, os candidatos dos governadores tiveram um resultado eleitoral pior ou igual àqueles que não contaram com o suporte da máquina. Em 2016, apenas oito prefeitos eleitos contaram com os governadores, contra sete em 2020. Neste último ano, outsiders da política conquistaram o mesmo número de cadeiras.
Nas próximas eleições de outubro, entre os seis governadores que ainda não se decidiram estão Wanderlei Barbosa (Republicanos), do Tocantins; e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Ambos têm pedido paciência aos aliados em Palmas e Porto Alegre, respectivamente. No Rio Grande do Sul, fala-se, inclusive, no adiamento da votação devido à tragédia das chuvas.
O PSDB, do governador gaúcho, contudo, tem falado abertamente sobre o desejo ter candidatura própria em Porto Alegre para fazer frente ao prefeito Sebastião Melo (MDB). O principal cotado é o ex-governador Ranolfo Viera Júnior, após a deputada estadual Delegada Nadine ter recusado o convite.
— Não é preciso ter pressa. Iremos definir nos próximos meses — diz o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.
Em Porto Alegre, os últimos dois prefeitos eleitos — Melo e Nelson Marchezan Jr. — chegaram a seus postos sem apoio do governo do estado nem faziam parte do grupo político do gestor que lhes antecederam.
O cenário é similar ao de Belo Horizonte, hoje comandado por Fuad Noman (PSD), que herdou a prefeitura em 2022 com a saída de Alexandre Kalil. Em 2016, quando eleito pela primeira vez, Kalil não tinha o apoio do então governador Fernando Pimentel (PT).
O sucessor do petista em Minas, Romeu Zema (Novo), também teve seu candidato derrotado em 2020 contra Kalil. Postulante pelo Novo, Rodrigo Paiva teve 3,6% dos votos, ficando em quinto lugar. Nestas eleições, oficialmente, a sigla lançou a secretária estadual Luísa Barreto como pré-candidata, mas nos bastidores não é dado como certo o apoio por parte do governador.
Descolamento no Rio
Na semana passada, Zema iniciou uma negociação com o senador Carlos Viana (Podemos) e também é requisitado pelo nome do bolsonarismo, o deputado estadual Bruno Engler (PL).
As derrotas estaduais também ocorreram no Rio de Janeiro, cuja capital hoje é comandada por Eduardo Paes (PSD), que é pré-candidato à reeleição. Em 2016, Paes e o então governador Luiz Fernando Pezão apostaram suas fichas no deputado federal Pedro Paulo (PSD), que sequer chegou ao segundo turno, ficando em terceiro lugar na disputa.
Quatro anos depois, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) não conseguiu se reeleger e Paes voltou ao comando da capital fluminense. Na ocasião, o governador Cláudio Castro (PL) optou por não apoiar nenhum dos dois.
Este ano a posicionamento de Castro mudou: o governador já se comprometeu com a pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), o nome do bolsonarismo no Rio.
Já em São Paulo, prefeitura e governo do estado estiveram juntas enquanto durou a hegemonia do PSDB no estado. Em 2016 e em 2020, Bruno Covas se elegeu com o apoio de Geraldo Alckmin e João Doria, respectivamente. Hoje, tanto Doria quanto Alckmin são ex-tucanos.
Este será o primeiro pleito que o PSDB não está no comando da prefeitura nem do governo do estado, hoje ocupado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nunes, contudo, concorrerá à reeleição com o apoio do Palácio dos Bandeirantes, assim como os tucanos fizeram no passado.
Em Recife, o PSB, de João Campos, também perdeu o comando estadual nas eleições presidenciais após 16 anos no poder. Em 2020, o prefeito foi eleito com o apoio do governador Paulo Câmara. Neste ano, Campos desponta como favorito para a reeleição, mesmo tendo a governadora Raquel Lyra (PSDB) como adversária. Ela, por sua vez, já declarou apoio ao seu ex-secretário Daniel Coelho (PSD).
— Na eleição municipal existe uma certa autonomia dos políticos locais em relação às dinâmicas nacionais e estaduais. Isso explica por que é cada vez menos importante que um candidato tenha o apoio de um presidente ou do governador do estado — avalia a cientista política Mayra Goulart, da UFRJ.
Rivalidades locais
No Nordeste, Executivo estadual e municipal têm rivalidades. No caso de Fortaleza, PT e PDT caminhavam juntos até 2022, quando o ex-ministro e pedetista Ciro Gomes evitou qualquer palanque com Lula. O movimento gerou uma debandada do partido liderada pelo senador Cid Gomes, irmão de Ciro, hoje filiado ao PSB, e apoiador dos petistas.
Nestas eleições, o prefeito José Sarto (PDT) concorrerá à reeleição contra o ex-pedetista e presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PT) — nessa briga é máquina municipal contra a estadual, já que o governador, Elmano de Freitas, é do mesmo partido de Leitão.
Já em São Luís, no Maranhão, o grupo político do hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino perdeu a prefeitura nas eleições de 2020, quando o deputado federal Duarte Júnior (PSB) foi derrotado por Eduardo Braide (PSD). Os dois voltarão a se enfrentar em outubro deste ano.