O empresário Bruno Campos Selem — em cuja delação premiada afirmou que o governador interino, Cláudio Castro, recebeu mais de R$ 100 mil em propina —, disse que o empresário Flávio Chadud, dono da ServLog, empresa apontada como uma das principais beneficiadas no suposto esquema, lhe contou, quando foram presos na mesma sela, que o pagamento a Castro havia sido feito na véspera.
Selem foi um dos alvos da Operação Catarata, que, na semana passada, revelou indícios de desvios de recursos destinados a programas sociais do estado e da prefeitura, e suas acusações fazem parte de acordo homologado pelo Tribunal de Justiça do Rio.
Imagens de câmeras de segurança mostram Castro e Chadud chegando juntos à sede da ServLog, num shopping da Barra, na manhã de 29 de julho de 2019. Era véspera da primeira etapa da Operação Catarata, que resultou na prisão do empresário e de Selem. A gravação mostra o então vice-governador entrando às 9h26 num elevador com o dono da empresa, que tinha contratos milionários com a Fundação Leão XIII, órgão subordinado, na época, à vice-governadoria do estado.
Selem calcula que Castro tenha recebido cerca de R$ 100 mil em espécie, valor que faltava no cofre da empresa após a reunião. O delator afirmou que, antes do encontro, havia R$ 300 mil; depois, verificou que restavam R$ 170 mil. Selem diz não ter visto a entrega do dinheiro, mas afirmou ter certeza de que ela aconteceu porque, na mesma manhã, Chadud lhe perguntou qual foi o valor pago pela Fundação Leão XIII à ServLog, para calcular a propina. Até aquele momento, tinham sido pagos quase R$ 900 mil. Segundo o delator, Chadud contou, quando foram presos na mesma cela, que o pagamento havia sido feito na véspera.
Em relatório, a Polícia Civil afirma que é possível confirmar que Selem esteve no local, chegando seis minutos após Chadud e Castro, que deixaram o prédio cerca de uma hora depois. A saída do vice-governador foi registrada às 10h33, quando ele deixa o elevador com uma mochila e cumprimenta discretamente o empresário Flávio Chadud.
As suspeitas de corrupção nesses contratos estavam na mira do MP, que no dia seguinte prendeu Chadud e Selem, que seria seu braço direito.
Por causa do cargo que ocupa desde o afastamento de Witzel, Cláudio Castro tem foro junto ao STJ. O governador interino afirmou em nota que a especulação do delator sobre recebimento de propina é mentirosa, que nunca encontrou Selem no local. Castro também diz que, apesar de conhecer Chadud, determinou um corte de R$ 7 milhões nos contratos da Fundação Leão XII com a Servlog.
Em nota, a defesa de Chadud negou envolvimento em irregularidades e disse que Selem criou uma versão falsa.