O governador do Ceará, Elmano Freitas (PT), decidiu retirar o mausoléu do primeiro presidente da ditadura militar da sede do governo do estado. A informação é de Patricia Calderón, da Folhapress.
O complexo atualmente abriga os restos mortais de Humberto de Alencar Castello Branco, que governou o país de 1964 a 1967, e é tombado pelo patrimônio histórico e cultural do estado.
A estrutura está localizada ao lado do Palácio da Abolição, sede do Poder Executivo.
Na última quinta-feira (31), Elmano de Freitas disse que “no Palácio da Abolição não ficará o mausoléu de quem apoiou a ditadura”.
“De um momento tão importante em nossa história, a nossa proposta é instalar, no Palácio da Abolição, um monumento em homenagem ao movimento abolicionista, dando destaque ao principal líder desse movimento no Ceará, o jangadeiro Dragão do Mar”, disse o governador.
O jangadeiro foi líder de mobilização contra a escravidão no século 19 no estado, ao comandar uma greve.
A gestão estadual não informou para onde serão levados os restos mortais de Castello Branco. O tema está sendo tratado com familiares e o Exército. Também estão no local os restos mortais da esposa, a ex-primeira-dama Argentina Castello Branco.
O novo destino do espaço será alvo de projeto na Secretaria de Cultura do estado.
“Para que fique claro, o tombamento da estrutura arquitetônica será mantido e respeitado. Vamos abrir diálogo na elaboração do projeto, respeitando a repercussão pública, além do cuidado e respeito com as tratativas entre os familiares do ex-presidente”, disse a secretária Luísa Cela.
Para ela, é contraditório que o Palácio da Abolição seja abrigo dos restos mortais de um representante da ditadura.
Em março, uma carta assinada por representantes de 55 entidades latino-americanas ligadas aos Reslac (órgão que reúne entidades de direitos humanos de 13 países) manifestava apoio pelo fim do mausoléu abrigado na sede do governo cearense.
Os objetos do acervo e pertences particulares de Castello Branco já haviam sido removidos do espaço por familiares. O presidente, nascido em Fortaleza, morreu meses após deixar o cargo, em 1967, em um acidente aéreo.
O nome do novo memorial ainda será divulgado. A remoção deve acontecer entre dezembro e março do ano que vem.
A escolha de dezembro faria referência ao dia 10, Dia Internacional dos Direitos Humanos, enquanto março aos 60 anos do golpe que deu início à ditadura.
Na Assembleia Legislativa, opositores de Elmano de Freitas criticaram a iniciativa.
O deputado Sargento Reginauro (União Brasil) disse nesta terça (5) que a medida é uma “cortina de fumaça” para esconder os problemas no estado e que Elmano de Freitas “governa para a militância”.
Para Reginauro, a decisão “desrespeita o patrimônio histórico-cultural” e deveria haver um debate com a população. Deputados do PL concordaram com a fala e elogiaram a trajetória do presidente militar.
O deputado Queiroz Filho (PDT) afirmou que o estado está passando por problemas maiores do que a necessidade de mudar nomes.