A demissão do vice-governador Thiago Pampolha (MDB) da Secretaria de Estado do Ambiente pelo governador Cláudio Castro (PL) joga luz sobre um passado recente de atritos entre duplas que comandaram o Palácio Guanabara. Desde Anthony Garotinho com a petista Benedita da Silva, quase todos os governadores do Rio tiveram algum tipo de rompimento com o vice.
Normalmente, o confronto mais aberto se dá ao fim da gestão, mas há casos, como o de Garotinho, que remetem ao cenário atual. Bem avaliado em 2002, o ex-prefeito de Campos dos Goytacazes decidiu repetir o que fez seu padrinho político — o também ex-governador Leonel Brizola (PDT) — e concorrer à Presidência tendo o Rio como trampolim. Antes de apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, o então filiado ao PSB criou desconforto com Benedita ao tecer ataques ao partido de Lula antes de deixar o Guanabara.
Com os petistas reclamando da situação econômica que herdariam no Estado, Garotinho antecipou as críticas que pretendia fazer apenas no período eleitoral.
— O PT não tem feito outra coisa na sua vida política a não ser difamar, porque quando administra é um desastre — disse em março de 2002.
Depois que a mulher de Garotinho, Rosinha, venceu a eleição estadual daquele ano e se preparava para assumir o governo, o ex-governador comentou ainda que iria “desinfetar” o Guanabara antes dela ocupar o cargo. A frase à época foi vista como racista pelo PT.
A própria Rosinha, junto com o marido, protagonizou uma ruptura com o vice Luiz Paulo Conde. Ex-prefeito, ele tentou voltar ao Palácio da Cidade em 2004, em disputa contra o ex-aliado Cesar Maia — que venceria mais uma eleição municipal. Durante a campanha, Conde foi abandonado pelo clã Garotinho, que mal apareceu nos comerciais de TV do candidato. Antes do período eleitoral, as discordâncias começaram: o candidato queria escolher outro vice, mas Garotinho, evangélico, impôs o pastor Manoel Ferreira.
Quando Sérgio Cabral (MDB) comandou o estado ao lado do vice Luiz Fernando Pezão (MDB), a relação foi um céu de brigadeiro. Depois, no entanto, os problemas surgiram. Já na cadeia — foi preso em novembro de 2016, em desdobramento da Lava-Jato –, Cabral aproveitou interrogatório na Justiça em 2017 para dizer que a crise pela qual o Rio passava “não era dele”, e sim do sucessor. À época, o estado enfrentava a maior crise fiscal da História.
Cabral ainda acusou Pezão de participar dos esquemas de corrupção que o levaram à cadeia. No último mês de mandato, Pezão foi detido pela Lava-Jato. Posteriormente, o emedebista foi absolvido. Pezão, inclusive, é exceção no quesito brigas com vice. Manteve relação fiel e de gratidão com Francisco Dornelles (PP), que assumiu o governo quando o então governador enfrentava um câncer.
Hoje protagonista do embate com Pampolha, Castro já foi vidraça. Após Witzel sofrer impeachment, em 2021, Castro entrou no alvo do ex-juiz. Segundo o cassado, o ex-vice teria articulado a saída dele do Guanabara junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a PGR.