Após terem se reunido duas vezes com o governo federal em um espaço de uma semana e terem escutado um pedido por “mais paciência”, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) aumentou a pressão sobre o presidente Lula da Silva (PT) e ameaça realizar um “Abril Vermelho” de mais invasões, caso suas demandas não sejam atendidas.
Os sem-terra participaram de reunião com Lula nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, onde pleitearam um número maior de assentamentos, além de mais orçamento para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). As demandas foram as mesmas apresentadas ao ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Social e Agrário, na semana passada.
O encontro que se deu em Belém, capital do Pará, não foi considerado positivo, sem uma resolução para os pleitos do movimento. Neste contexto, o petista recebeu pessoalmente os sem-terra, e pediu compreensão para que as demandas sejam atendidas. O pleito principal do MST é de que 65 mil famílias sejam assentadas ainda este ano — o Planalto se compromete com 20 mil, o que não é avaliado como suficiente.
Como de costume, diante das insatisfações, o MST recorre à pressão popular. A insatisfação ocorre dois meses antes do início do “Abril Vermelho”, período que marca o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, quando 19 sem-terras foram assassinados em 1996. Integrantes ouvidos pelo GLOBO afirmam que, caso não haja uma agilização no processo de reforma agrária, um endurecimento é esperado.
Ao longo do “Abril Vermelho”, o MST tem o costume de fazer acampamentos em terras avaliadas por eles como “improdutivas”, no intuito de pleitear que esses espaços possam se tornar assentamentos. No ano passado, este período já foi marcado por um aumento de 150% nas invasões, em relação a 2023. Foram 35 contra 14 do ano anterior.
Ao GLOBO, Ceres Hadich, integrante da direção nacional do movimento, assume a frustração com o “governo da esperança” que ainda “não mostrou ao que veio”, mas minimiza a correlação entre as demandas e as invasões de terra. Ela afirma que hoje há 115 mil famílias acampadas e, mesmo que 65 mil sejam assentadas, ainda haveria um passivo de 50 mil.
— Ainda não tivemos uma solução do governo, mas a pressão política se faz independente de ter uma reação, uma resolutiva do governo. Independente do retorno breve por parte do presidente, por parte do governo, iremos nos mobilizar. É nosso método de luta e tende a se manter mesmo se tivermos nossas demandas atendidas — afirma Ceres.
A insatisfação com o governo federal não data de hoje. Em dezembro, irritados com a demora, o movimento articulou ações em três estados — Rio Grande do Sul, Pará e Mato Grosso do Sul.
Alinhado a isso, parte do movimento também pede a demissão do ministro Paulo Teixeira. Segundo o movimento, a pasta não tem priorizado a reforma agrária e o titular “não tem conhecimento do campo para traçar estratégias”.
O governo, por outro lado, tem alegado limitações orçamentárias para atender os pleitos com maior agilidade. Um dos argumentos é que o programa de reforma agrária estava totalmente paralisada desde o governo Michel Temer e que, por isso, há necessidade de os sem-terra compreenderem a conjuntura.
Neste contexto, Teixeira tem buscado soluções alternativas como a destinação de imóveis rurais penhorados por dívidas em ações judiciais da União ou de autarquias públicas para o programa de reforma agrária. O ritmo, contudo, não ocorre no passo que o MST deseja.
Em 2024, o INCRA aplicou R$ 567 milhões na temática. O valor já é quase duas vezes maior que o de 2023, quando R$ 300 milhões foram destinados.
A média de investimentos do Lula III nesses dois primeiros anos de governo, todavia, é ao menos cinco vezes menor do que os outros períodos em que o PT esteve à frente do país. Os maiores recursos se deram no segundo mandato de Lula, quando a média anual chegou a R$ 3,675 bilhões.