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quarta-feira 17 de janeiro de 2024 às 10:38h

Fortaleza subterrânea: Extensão, profundidade e qualidade de túneis do Hamas em Gaza surpreendem Israel

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Um túnel em Gaza era suficientemente largo para que um alto responsável do Hamas conduzisse um carro no seu interior. Outro se estendia por quase três campos de futebol e estava escondido sob um hospital. Sob a casa de um alto comandante do Hamas, os militares israelenses encontraram uma escada em espiral que levava a um túnel de aproximadamente sete andares de profundidade.

Esses detalhes e novas informações sobre os túneis, alguns tornados públicos pelos militares israelenses e documentados por vídeos e imagens, sublinham a razão pela qual essas galerias subterrâneas eram consideradas uma grande ameaça para os soldados de Israel em Gaza mesmo antes do início da guerra.

Mas os oficiais ​​e soldados que desde então estiveram nos túneis — bem como os atuais e antigos oficiais ​​norte-americanos com experiência na região — dizem que o alcance, a profundidade e a qualidade dessas galerias construídas pelo Hamas os surpreenderam. Até mesmo algumas das máquinas que o grupo utilizou para construí-los, observadas em vídeos, surpreenderam os militares.

Eles acreditam agora que existam muito mais túneis sob Gaza.

Em dezembro, a rede foi avaliada em cerca de 402 quilômetros. Autoridades de alto escalão ​​das Forças Armadas de Israel, que falaram sob condição de anonimato para discutir questões de inteligência, estimam atualmente que a rede tenha entre 560 km e 720 km — números extraordinários para um território que, no seu ponto mais longo, tem apenas 40 quilômetros. Dois dos funcionários também avaliaram que existem cerca de 5,7 mil poços separados que levam aos túneis.

Os números não puderam ser verificados de forma independente, e há estimativas variadas feitas por autoridades israelenses sobre o aumento do alcance da rede de túneis com base em diferentes informações de inteligência. Mas os imensos esforços do Hamas para militarizar o enclave não estão em discussão; nem as falhas de inteligência dos militares israelenses em subestimar a extensão e a importância da rede para a sobrevivência dos combatentes.

Pesadelo subterrâneo

Em uma reunião em janeiro de 2023, um alto oficial militar de Israel disse que os túneis nem sequer seriam um fator em qualquer guerra futura com o Hamas devido à força militar do Estado judeu, de acordo com uma transcrição da discussão revista pelo New York Times.

— O Hamas utilizou o tempo e os recursos ao longo dos últimos 15 anos para transformar Gaza numa fortaleza — disse Aaron Greenstone, um antigo oficial da CIA que trabalhou extensivamente no Oriente Médio.

'Objetivo de Israel está agora concentrado em destruir os túneis [do Hamas]' — Foto: Avishag Shaar-Yashuv/New York Times
‘Objetivo de Israel está agora concentrado em destruir os túneis [do Hamas]’ — Foto: Avishag Shaar-Yashuv/New York Times

Para os soldados de Israel, os túneis são um pesadelo subterrâneo e o núcleo da capacidade de sobrevivência do Hamas. Todos os objetivos estratégicos de Israel em Gaza estão agora ligados à sua destruição.

— Se quisermos destruir a liderança e o arsenal do Hamas, temos de destruir os túneis — disse Daphné Richemond-Barak, especialista em guerra em túneis da Universidade Reichman, em Israel. — Ele se conectou a todas as partes das missões militares.

O Hamas investiu pesadamente na rede, uma vez que não possui recursos ou números para combater os militares israelenses numa guerra convencional. O grupo utiliza os túneis como bases militares e para arsenais e depende deles para movimentar suas forças sem ser detectado e proteger seus principais comandantes.

Um documento de 2022 mostrou que o Hamas gastou US$ 1 milhão nas portas dos túneis, oficinas subterrâneas e outras despesas em Khan Younis.

Dois tipos de túneis

Autoridades de inteligência israelenses avaliaram recentemente que havia cerca de 160 km de túneis logo abaixo de Khan Younis, a maior cidade do sul de Gaza, onde as forças israelenses estão agora em combates intensos. Yahya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza, tinha uma casa na região.

Além disso, um relatório de 2015 indicou que o Hamas gastou mais de US$ 3 milhões em túneis ao longo de todo o enclave palestino, incluindo muitos construídos sob infraestruturas civis e locais sensíveis, como escolas e hospitais, segundo os militares israelenses.

Eles disseram ter encontrado dois tipos de túneis: uns usados ​​por comandantes e outros usados ​​por combatentes. Os usados por comandantes são mais profundos e confortáveis, permitindo estadas mais prolongadas e a utilização de revestimentos cerâmicos. As outras galerias são mais simples e muitas vezes mais rasos.

Um oficial israelense disse que os militares teriam passado um ano localizando um único túnel, mas que agora a campanha terrestre forneceu um tesouro de informações sobre a rede subterrânea do enclave palestino.

Os militares examinaram computadores usados ​​por combatentes do Hamas encarregados da construção dessas galerias para encontrar as passagens subterrâneas, explicou um alto funcionário israelense. Alguns documentos capturados na guerra também se revelam vitais. Os militares encontraram listas das famílias que “hospedaram” as entradas dos túneis nas suas casas.

Em um caso, os soldados localizaram um mapa da rede em Beit Hanoun, uma cidade no norte da Faixa, e usaram-no para encontrar e destruir túneis. Mesmo com essa informação sobre o campo de batalha, os combates no enclave ao redor dos túneis têm sido desgastantes. Os militares relatam que quase 190 soldados foram mortos e cerca de 240 ficaram gravemente feridos desde o início da incursão terrestre. Mas eles não divulgaram o número de mortos e feridos relacionados com a guerra de túnel.

Os militares israelenses encontraram dois tipos de túneis: uns usados ​​por comandantes e outros usados ​​por combatentes. — Foto: Avishag Shaar-Yashuv/New York Times
Os militares israelenses encontraram dois tipos de túneis: uns usados ​​por comandantes e outros usados ​​por combatentes. — Foto: Avishag Shaar-Yashuv/New York Times

Um soldado, falando sob condição de anonimato por razões de segurança, disse que supervisionou a destruição de cerca de 50 túneis em Beit Hanoun. Todos estavam com armadilhas, disse. O militar, um oficial dos engenheiros em combate, disse que sua unidade encontrou bombas escondidas nas paredes e um enorme dispositivo explosivo conectado para ser ativado remotamente.

O soldado, que era reservista e já foi dispensado, disse que o aparelho foi fabricado em uma fábrica e tinha um número de série. Se tivesse explodido, a bomba teria matado qualquer pessoa dentro e fora do túnel, disse.

O Hamas divulgou um vídeo em novembro do ano passado mostrando como atraiu um grupo de cinco soldados israelenses para a entrada de um túnel em Beit Hanoun e depois usou uma bomba na estrada para matá-los.

Richemond-Barak disse que o grupo palestino importou a tática dos rebeldes sírios que mataram dezenas de soldados do governo em um ataque num túnel em 2014, em Aleppo.

Os túneis por dentro

Em 8 de janeiro, soldados israelenses levaram jornalistas para ver três poços de túneis no centro de Gaza — um dentro de um prédio agrícola de apenas um andar nos arredores de Bureij, o segundo dentro de uma siderúrgica civil nos limites de Maghazi, e um terceiro dentro de um galpão próximo à siderurgia.

O poço da siderúrgica era o mais profundo e sofisticado. Ele descia cerca de 30 metros e foi equipado com uma espécie de elevador. Os soldados disseram que era usado para transportar peças de munições moldadas na siderúrgica. Um balde de granadas ou cabeças de foguete estava próximo. Os militares disseram que os projéteis foram baseados em um modelo de morteiro amarelo feito nos EUA com a inscrição “projétil de morteiro de 20 mm; Lote 1-2008.”

Os soldados israelenses não permitiram a entrada de jornalistas, alegando o risco de explosões, mas explicaram que o Hamas levaria as peças de munição para o túnel para transportá-las para outra parte da rede, onde seriam equipadas com explosivos.

Acredita-se que o túnel leve a um galpão próximo feito de ferro corrugado. Os jornalistas foram escoltados até o galpão, onde avistaram dez grandes foguetes com cerca de três metros de comprimento e pintados de verde oliva. Os foguetes estavam guardados em longas gaiolas arredondadas, possivelmente usadas para transportá-los.

Dois oficiais israelenses avaliaram que existem cerca de 5,7 mil poços separados que levam aos túneis. — Foto: Tamir Kalifa/New York Times
Dois oficiais israelenses avaliaram que existem cerca de 5,7 mil poços separados que levam aos túneis. — Foto: Tamir Kalifa/New York Times

Os soldados disseram que os foguetes tinham um alcance de cerca de 96,5 quilômetros. Um poço no chão conduzia ao subsolo, mas não estava claro para onde levava ou qual a sua profundidade. Parecia mais raso que o primeiro poço.

O logotipo das Brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço militar do Hamas, estava colado na parede.

Mais tarde, o Exército de Israel publicou fotos e vídeos dos poços e de outras instalações próximas. Um fotógrafo do Times também documentou a infraestrutura militar.

Os soldados também levaram jornalistas para ver um terceiro túnel no edifício agrícola em Bureij, a cerca de um 1,5 quilômetro a norte, rodeado por terras agrícolas. Eles disseram que o poço estava escondido atrás de uma porta trancada, cujas dobradiças foram arrancadas. Os jornalistas novamente não foram autorizados a entrar no túnel.

Do lado de fora, a cerca de 100 metros de distância, escavadeiras militares pareciam ter desenterrado parte do túnel que levava ao prédio da fazenda. Ficava cerca de 5 metros abaixo da superfície, em formato arqueado e largo o suficiente para uma pessoa passar confortavelmente.

O Hamas melhorou sua capacidade de ocultar os túneis, mas o alto funcionário disse que os militares israelenses descobriram um dos modelos operacionais do grupo. O oficial chamou isso de “triângulo”. Sempre que os militares encontram uma escola, um hospital ou uma mesquita, os soldados sabem que podem esperar localizar um sistema de túneis subterrâneos abaixo deles, explicou o oficial.

Destruir os túneis não é uma tarefa fácil, disse. Eles precisam ser mapeados, verificados em busca de reféns e não apenas danificados, mas tornados irreparáveis. Tentativas recentes de demolir os túneis inundando-os com água do mar falharam. O funcionário estimou que poderiam levar anos para desativar o sistema de túneis.

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