Um dos pilares do Centrão, grupo político que dava sustentação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos tem se aproximado da administração do presidente Lula, revela Lauriberto Pompeu, do O Globo. Nomes importantes do partido já começaram a negociar cargos no governo e admitem votar a favor de projetos de interesse da gestão petista, como um novo arcabouço fiscal para o país.
Por ora, o Republicanos se declara independente do Palácio do Planalto. O partido, ligado à Igreja Universal, é comandado por Marcos Pereira (SP), pré-candidato à presidência da Câmara em 2025.
O próprio líder do partido na Casa, Hugo Motta (PB), está negociando postos no governo, que até agora não conseguiu arregimentar uma base confiável no Congresso. Ele pleiteia a indicação de um afilhado político para o comando da superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) na Paraíba — cargo ainda a ser criado.
O deputado, cuja mulher, Luana Medeiros Motta, é assessora na Codevasf, diz que o partido vai agir de forma colaborativa:
— Essa postura de independência nos dá tranquilidade para dialogar com o governo em algumas pautas, como o arcabouço fiscal. Ninguém é irresponsável de ficar contra. Está no estatuto do partido a responsabilidade com as contas públicas.
Apoiador de Lula desde o primeiro turno, apesar de seu partido ter integrado a coligação de Bolsonaro, o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE)deve emplacar um aliado na superintendência da Codevasf em Pernambuco. O pai dele, Silvio Costa (Republicanos-PE), é suplente da senadora petista Teresa Leitão (PE). No curto prazo, além de postos de segundo e terceiro escalões no governo, o partido negocia o apoio do Planalto a um projeto que amplia a isenção de impostos para igrejas.
Apesar dos gestos de aproximação do Republicanos com a gestão Lula, o discurso de Marcos Pereira é de que não há possibilidade de a legenda aderir à base aliada. Ele admite, entretanto, que 40% dos seus correligionários se mostram propensos a negociar uma aliança com o Planalto.
— Temos um programa político-partidário que não coaduna com o programa do governo — argumenta Pereira.
A disputa pelo comando da Câmara em 2025 pode afastar ainda mais o Republicanos do PP, que também compõe o Centrão. O atual dirigente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) tende a apoiar Elmar Nascimento (União-BA) para sucedê-lo.
— O presidente Marcos tem um bom diálogo com a esquerda. Tanto que foi lembrado como opção para ser o candidato da esquerda em outras ocasiões — disse Silvio Costa Filho.
Demandas atendidas
Com o apoio do PT, nos primeiros dias da nova legislatura, o partido conseguiu emplacar um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), o ex-deputado Jhonatan de Jesus (RR), em indicação que cabia à Câmara; e a vice-presidência da Casa, ocupada por Marcos Pereira.
— Não há condicionamento nem troca de espaço por apoio, mas, quando o governo valoriza um parlamentar, isso vem — disse Hugo Motta.
Recentemente, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, recebeu o ex-prefeito do Rio e deputado Marcelo Crivella (Republicanos). Ele sinalizou que o governo pode apoiar uma Proposta de Emenda à Constituição, de autoria de Crivella, que amplia a imunidade tributária das igrejas. Assim como o próprio presidente do partido, Marcos Pereira, Crivella é bispo da Universal.
O ex-prefeito já foi apoiador de Bolsonaro, mas também ministro da Pesca da petista Dilma Rousseff. Crivella evitou se classificar como oposição ou base de Lula:
— A maioria de nós é pela independência: apoiar o governo nas ações a favor do povo, mas nas causas da família, tradições, da vida, a maioria vota contra.
O Republicanos tem se distanciado das siglas com as quais caminhou nos últimos quatro anos — o PP e o PL, de Bolsonaro — e formavam o núcleo duro do Centrão. Na semana passada, se uniu a PSD, MDB, Podemos e PSC para formar o maior bloco partidário da Câmara, com 142 deputados. Quanto maior o grupo, mais poder ele tem para assumir relatorias de projetos importantes na Casa, além de espaços no Executivo.