A aprovação pelo Cidadania de uma federação com o PSDB deve minar a pré-candidatura do senador sergipano Alessandro Vieira ao Palácio do Planalto.
Oficialmente, Vieira ainda é o nome do Cidadania para a disputa presidencial. Políticos do partido, porém, consideram ser apenas questão de tempo até sua desistência forçada em detrimento da correligionária e colega de Senado Eliziane Gama (MA).
O Diretório Nacional do Cidadania decidiu no sábado (19), em votação, que formará uma federação partidária com o PSDB, embora os tucanos ainda tenham de ratificar a decisão. Se a federação realmente for formalizada, as siglas terão a obrigação de permanecerem juntas durante os quatro anos de mandato tanto nas eleições majoritárias (presidente, governador) quanto nas proporcionais (deputados).
Ou seja, ambos os partidos terão que escolher apenas um nome para apoiar como pré-candidato ao Planalto.
Alessandro Vieira se absteve de votar e continuou como presidenciável do Cidadania após a decisão, mas os presidentes dos dois partidos, Roberto Freire e Bruno Araújo, vêm costurando o acordo em torno de João Doria (PSDB) como o nome a ser lançado na corrida à Presidência. O governador de São Paulo venceu as prévias tucanas para concorrer ao cargo.
Possível vice de Doria
Nesta perspectiva, a senadora Eliziane Gama ganha força para ser vice na eventual chapa com Doria. Ela tem se aproximado do governador nas últimas semanas e é vista com maior potencial eleitoral para alavancar a terceira via do que Alessandro Vieira. A intenção declarada do Cidadania e do PSDB é quebrar a polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Evangélica e nordestina, Eliziane será a líder da bancada feminina no Senado neste ano, o que pode ajudá-la a continuar com maior protagonismo desde a CPI da Covid. Assim como Vieira, Eliziane foi eleita no movimento de renovação de parlamentares nas eleições de 2018.
Uma das principais críticas da senadora a Bolsonaro é o suposto uso distorcido que ele faz do cristianismo para tentar emplacar pautas de interesse do governo, como a ampliação do porte e posse de armas, e angariar votos.
Um político do Cidadania ouvido pela reportagem, sob reserva, afirmou que Vieira é “candidato dele mesmo” e “nunca foi candidato de ninguém”. Para esse político, o senador só não imaginava que seria eliminado pela federação, e não por uma negociação própria.
Vitória de Roberto Freire
Além de uma derrota política de Vieira, a escolha pela federação com o PSDB é vista como uma vitória do presidente do Cidadania, Roberto Freire, com quem o senador vem trocando farpas internamente. Eles chegaram, inclusive, a bater boca em uma reunião — a pré-candidatura de Vieira só não teria sido retirada de forma oficial para não acirrar os ânimos,
“A pré-candidatura foi mantida por unanimidade e a opção pela tentativa de federação com o PSDB atingiu o número mínimo de votos. Faz parte da democracia entender isso e seguir trabalhando pelo futuro do Brasil”, afirmou Alessandro Vieira, em nota, após o resultado a favor da federação.
O PSDB conversa ainda com o União Brasil e o MDB para a ampliação da federação. Na prática, a medida fará com que os partidos atuem como um só ao longo do próximo pleito e dos próximos quatro anos.
O MDB tem como pré-candidata à Presidência da República a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que também vem conversando com Doria, mas rearranjos são discutidos no caso de uma federação. Nenhum desses pré-candidatos — Vieira, Doria, Eliziane e Simone — deslanchou ainda nas pesquisas de intenção de voto, então a situação de nomes que formarão a chapa está em aberto. Decisões mais concretas só devem ser definidas no fim de maio, quando termina o prazo para a definição das federações.
Os próprios termos da aliança entre Cidadania e PSDB serão aprofundados. Isso porque há interesses políticos locais que precisam ser acomodados, como na Paraíba e no Distrito Federal.