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Apoiadores do candidato de centro-esquerda Andréss Arauz, durante comício em Quito Foto: RODRIGO BUENDIA / AFP
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sábado 6 de fevereiro de 2021 às 10:32h

Favorito em eleição presidencial no Equador é da esquerda

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Governo brasileiro acompanha processo eleitoral com preocupação, diz jornal

Conforme reportagem do jornal O Globo, após a volta ao poder do kirchnerismo na Argentina, no final de 2019, e do Movimento ao Socialismo (MAS) na Bolívia, em 2020, este domingo (7) será a vez do Equador decidir, nas urnas, se dará uma nova chance ao movimento político liderado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).

Primeiro nas pesquisas e, para alguns, com possibilidades até mesmo de vencer no primeiro turno, o jovem economista Andrés Arauz (ex-funcionário dos governos de Correa) foi o escolhido pelo ex-chefe de Estado para encarar uma batalha política crucial para o futuro do país e, também, para o equilíbrio de forças regionais.

Se a aliança esquerdista União pela Esperança (Unes) vencer, o país se alinhará com os governos argentino, boliviano, mexicano e venezuelano — e, num futuro não muito distante, o grupo poderia incluir, ainda, um eventual governo de centro-esquerda no Chile. Para o Brasil de Jair Bolsonaro, seria um cenário profundamente adverso. O presidente brasileiro acaba de perder seu principal aliado internacional, o ex-chefe de Estado americano Donald Trump, e enfrenta o desafio de dar novos contornos ao relacionamento bilateral com os EUA de Joe Biden.

Brasil preocupado

Com este pano de fundo e lembrando que o relacionamento do Brasil com o governo Correa não foi fácil, o Palácio do Planalto e o Itamaraty acompanham a eleição no Equador com preocupação. Nos últimos tempos, Bolsonaro melhorou sua relação com o governo argentino, ao ponto de que está sendo organizada uma reunião entre os dois presidentes em local ainda a ser confirmado, em março. Esteve recentemente em Brasília o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e estão na agenda do primeiro trimestre um encontro com o presidente da Colômbia, Iván Duque, e a realização de uma cúpula entre chefes de Estado para comemorar os 30 anos do Mercosul, em 26 de março.

Existe uma clara tentativa de reduzir o isolamento regional do Brasil. Um eventual fortalecimento da frente de esquerda que hoje integram Argentina, Bolívia, México e Venezuela (questionada, mas não excluída) tornaria mais difícil para o governo Bolsonaro a construção de pontes com seus vizinhos.

Com um percentual de indecisos que, segundo algumas pesquisas, atinge 40%, é impossível antecipar o desfecho de uma disputa acirrada. Para vencer uma eleição presidencial no primeiro turno, é preciso obter mais de 40% dos votos e uma diferença de pelo menos dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado — ou mais de 50%.

Segundo uma média das principais pesquisas dos últimos dias, Arauz tem 35%, contra 26% do ex-banqueiro Guillermo Lasso, da aliança entre o movimento Creo e o tradicional Partido Social Cristão. Em terceiro lugar e com forte crescimento nas últimas semanas, o candidato do movimento indígena Pachakutik, Yaku Pérez, alcança 16,2%.

‘Correísmo envergonhado’

O cenário mais provável, arriscou o professor Felipe Burbano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), é um eventual segundo turno, em 11 de abril, entre Arauz e Lasso — que competirá pela terceira vez pela Presidência. Mas não se pode descartar um triunfo contundente do candidato de Correa amanhã e, tampouco, a surpresa de ter Pérez num segundo turno.

— Todas as pesquisas que vemos são contraditórias, erráticas, estamos chegando a esta eleição no escuro. Mas uma coisa é certa: o correismo tem altas chances de voltar ao poder — assegurou Bubano.

O anticorreísmo é expressivo, mas pesquisas mostram que a base de apoio do correísmo ainda é sólida. Segundo Leonardo Magalhães, coordenador de projetos do Atlas Político, esta base hoje oscila entre 33% e 35%.

— Existe um correísmo envergonhado. Se Correa fosse candidato, obteria entre 40% e 42% — explicou Magalhães.

Com 16 candidatos disputando esta eleição, Arauz, até pouco tempo atrás um desconhecido para muitos, conseguiu se impor como favorito colando na imagem do ex-presidente. Correa está exilado na Bélgica e se puser os pés no Equador será detido. Seu ex-vice, Jorge Glas, e o ex-secretário de Assuntos Jurídicos Alexis Mera estão presos, condenados por corrupção, inclusive no esquema da Odebrecht.

Em abril passado, a Justiça confirmou pena de oito anos para o ex-presidente e outras 17 pessoas, todos envolvidos numa rede criminal formada para obter financiamento de campanha em troca de contratos públicos. Foi o primeiro grande revés judicial de Correa, que, apesar disso, continuou cogitando durante vários meses ser candidato a vice-presidente, repetindo a jogada da atual vice argentina, Cristina Kirchner (também acusada de corrupção).

Ambos se tornaram próximos quando estavam nas Presidências de seus países, e se uniram mais ainda na cruzada contra o chamado lawfare, uma suposta campanha conservadora de interferência do poder político no Judiciário para perseguir lideranças de esquerda. Já como candidato, Arauz foi recebido por Alberto Fernández em Buenos Aires. O candidato equatoriano e o presidente argentino se encontraram, também, na posse de Luis Arce, na Bolívia, no final do ano passado.

— Tudo indica que Arauz, se vencer, será um presidente de transição, a mesma coisa que muitos opinam de Fernández — explicou Burbano.

A cepa de esquerda

Para o professor da Flacso, se o correismo retornar ao Palácio de Carondelet, “se fortalecerá uma nova frente de esquerda na região”.

— Voltaremos a ouvir discursos sintonizados defendendo a soberania nacional, a pátria grande latino-americana, o nacionalismo e o anti-imperialismo — completou.

Existe algo em comum entre estas lideranças esquerdistas latino-americanas? Para o consultor político Pipo Lasso, pode estar surgindo, em tempos de Covid-19, uma “nova cepa de esquerda na região”. Em cada país, ela tem características diferentes. Se na Bolívia os tempos políticos foram curtos e precipitaram o retorno do MAS ao poder, no Equador o processo foi mais complexo. O presidente Lenin Moreno foi eleito em 2018 por ser o candidato de Correa, mas acabou se descolando de seu padrinho político e dando uma guinada à direita, que incluiu acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não adiantou. Houve um aprofundamento da crise econômica: queda de 11% do PIB em 2020, segundo projeção do FMI, e 1,8 milhão de novos pobres (a taxa de pobreza aumentou de 27,2% para 37,6%).

Sem recursos do passado

Se na Argentina a pragmática aliança entre Kirchner e Fernández conseguiu capitalizar o péssimo desempenho do presidente Mauricio Macri (2015-2019), no Equador a estratégia de Correa foi acusar Moreno de traição e prometer uma volta a um passado recente de bonança — graças aos preços altos das commodities. A questão, e nisso Argentina e Equador se parecem, é que esta nova cepa de esquerda não conta com os recursos de outras épocas.

— A democracia equatoriana ainda está em busca de um caminho. Lembrem que entre 1997 e 2007 tivemos oito presidentes. Nos dez anos seguintes, só um. Nesta eleição decidiremos se queremos dar uma chance a Lasso e sua agenda de abertura econômica, ou voltar ao correísmo — disse Juan Rivadeneira, consultor político da LLYC no Equador.

Se a opção, como na Argentina e na Bolívia, for dar um passo para trás, o Equador mergulhará, assegurou Rivadeneira, na instabilidade.

— Parece difícil de acreditar que Correa ficará como assessor externo, fora do país — disse o consultor.

Pelo contrário, a sensação que predomina no Equador é a de que uma eventual vitória de Aráuz implicará uma Presidência nas sombras de Correa. A expectativa é grande em Buenos Aires, La Paz, Caracas, Santiago e Cidade do México. Em Brasília, teme-se mais uma surra na agenda de política externa do chanceler Ernesto Araújo.

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