Demitido na sexta-feira (17) do comando da OpenAI, Sam Altman já tem um novo emprego: ele e Greg Brockman, que renunciou ao cargo de presidente do conselho da startup americana, se uniram para liderar uma nova equipe de pesquisa avançada em inteligência artificial na Microsoft. O anúncio foi feito pelo executivo-chefe da Microsoft, Satya Nadella, em mensagem publicada no X (ex-Twitter).
Com o ChatGPT, Altman se tornou a face do momento da inteligência artificial, e construiu a companhia como uma das startups mais valiosas no setor de tecnologia. Também foi crucial para a relação próxima com a Microsoft, que se tornou bastante dependente de sua tecnologia e segue como principal investidor da OpenAI, com uma fatia de 49%.
Nos últimos anos, a companhia realizou aportes da ordem de US$ 13 bilhões na startup, sendo a primeira gigante da tecnologia a integrar seus serviços (como o Bing) ao ChatGPT. Em resposta ao anúncio divulgado por Nadella no X, Altman respondeu que “a missão continua”.
Ao justificar a demissão de Altman, a OpenAI disse que ele “não era consistentemente sincero em suas comunicações” com o conselho de administração, que havia perdido a confiança em sua capacidade de liderar a startup. Durante o fim de semana, ainda houve uma nova conversa entre as partes, mas sem acordo. Nesta segunda, 20, a OpenAI apontou Emmett Shear, ex-executivo-chefe da Twitch, como novo CEO, no lugar de Mira Murati (que comanda a área de tecnologia).
Em outro lance depois da saída de Altman, funcionários da startup ameaçam se demitir da companhia caso os atuais diretores não abandonem seus cargos imediatamente. Em carta, eles acusam o conselho de boicotar a empresa, colocar em risco a missão da OpenAI e de falhar com seus deveres de supervisionar a startup.
Esses funcionários afirmam ainda que vão se demitir e se juntar à Microsoft, que “nos garantiu que há vagas para todos os funcionários da OpenAI em sua nova subsidiária caso exista a decisão de nos juntar”. Cerca de 700 pessoas assinam a carta, de um total de 770 trabalhadores da OpenAI.
Entre os signatários da carta, está Ilya Sutskever, cientista-chefe da OpenAI, fundador da empresa e a quem supostamente foi atribuída a decisão de expulsar Altman da companhia na sexta-feira. Também em mensagem no X, ele escreveu: “me arrependo profundamente da minha participação nas ações do conselho”. “Amo tudo o que construímos juntos e farei tudo o que puder para reunir a companhia.”
Início
Em 2015, Sutskever deixou um emprego no Google e ajudou a fundar a OpenAI ao lado de Altman, Brockman e do executivo-chefe da Tesla, Elon Musk. Eles criaram o laboratório como uma organização sem fins lucrativos, afirmando que, ao contrário do Google e de outras empresas, ele não seria movido por incentivos comerciais. Eles prometeram criar o que é chamado de inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês), uma máquina que pode fazer tudo o que o cérebro humano faz.
Altman transformou a OpenAI em uma empresa com fins lucrativos em 2018, e negociou um primeiro investimento no valor de US$ 1 bilhão da Microsoft. A startup ainda era administrada por um conselho sem fins lucrativos. Investidores como a Microsoft recebem lucros da OpenAI, mas seus ganhos são limitados. Qualquer valor acima do limite é canalizado de volta para a organização sem fins lucrativos.
Divisão
A demissão de Altman chamou a atenção para uma antiga divisão na comunidade de IA entre pessoas que acreditam que a tecnologia é a maior oportunidade de negócios em uma geração e outras que se preocupam com o fato de que avançar rápido demais pode ser perigoso. E a votação para removê-lo mostrou como um movimento filosófico dedicado ao medo da IA havia se tornado uma parte inevitável da cultura tecnológica.
Desde que o ChatGPT foi lançado, há quase um ano, a inteligência artificial capturou a imaginação do público, com a esperança de que pudesse ser usada para trabalhos importantes, como pesquisa de medicamentos ou para ajudar a ensinar crianças. No entanto, alguns cientistas e líderes políticos de IA se preocupam com seus riscos, como a extinção de empregos automatizados ou a guerra autônoma que cresce além do controle humano.
O receio de que os pesquisadores de IA estejam criando algo perigoso tem sido uma parte fundamental da cultura da OpenAI. Seus fundadores acreditavam que, por entenderem esses riscos, eram as pessoas certas para construí-la.
Na manhã de sábado, 18, a empresa estava um caos, de acordo com o relato de vários funcionários, que estavam lutando para entender por que o conselho tomou a decisão. “Tenho certeza de que todos vocês estão confusos, tristes e talvez com algum medo”, disse Brad Lightcap, diretor de operações da OpenAI, em um memorando aos funcionários da empresa. “Estamos totalmente focados em lidar com isso, buscando uma resolução e clareza, e voltando ao trabalho.”
‘Processo mal conduzido’, diz novo CEO de startup
O novo CEO da OpenAI, Emmett Shear, disse ontem que vai investigar a demissão do cofundador Sam Altman e trabalhar para reformar a administração da empresa. O executivo assumiu dois dias depois de Mira Murati, chefe de tecnologia da empresa, ficar no cargo em caráter emergencial.
Os acontecimentos ocorrem depois de um fim de semana de especulação sobre como a dinâmica do poder se desenrolaria na OpenAI, cujo chatbot deu início à mania da IA generativa ao produzir textos, imagens, vídeos e músicas.
Shear, de 40 anos, é fundador da plataforma de streaming de games Twitch, e agora assume o cargo de CEO da empresa de IA. Em uma postagem no X (ex-Twitter), ele escreveu que contrataria um investigador independente para analisar o que levou à demissão de Altman e escrever um relatório dentro de 30 dias.
“Está claro que o processo e a comunicação em torno da remoção de Sam foram muito mal conduzidos, o que prejudicou seriamente nossa confiança”, escreveu Shear. Ele disse que também planeja, no próximo mês, “reformar a equipe de gerenciamento e liderança à luz das recentes saídas para formar uma força eficaz” e conversar com funcionários, investidores e clientes.
Depois disso, Shear disse que “conduzirá mudanças na organização”, incluindo “mudanças significativas de governança, se necessário”. Ele observou que o motivo que levou a diretoria a remover Altman não foi um “desacordo específico sobre segurança”.