A Polícia Federal ouviu nesta terça-feira (14) o ex-ministro Bento Albuquerque e seu então assessor Marcos André Soeiro sobre o caso das joias sauditas.
À PF, o ex-ministro de Minas e Energia afirmou que as joias lhe foram entregues em pacotes fechados, embalados em papel de luxo fechados por um brasão de cera com o carimbo da família real da Arábia Saudita.
Bento Albuquerque foi instado pela PF a construir uma linha do tempo da entrega dos presentes. O ex-ministro relatou então que, nos três dias de missão oficial, recebeu do país uma série de outros presentes, como uma grande caixa com tâmaras, azeites e café árabe.
Segundo Bento, no último dia de evento foi oferecido um ato fechado, restrito a chefes de delegação e chefes de Estado. Ele, que já estava prestes a voltar ao Brasil, teria, então, comunicado o ministro de Energia saudita que precisaria sair mais cedo. Foi quando, segundo relato do ex-ministro, o governo saudita afirmou que enviaria “um presente”, sem especificar do que se tratava, ao hotel.
As duas caixas foram entregues fechadas, com brasão. Bento afirmou à PF que não abriu os conteúdos.
Disse ainda que assinou um termo em árabe relatando o recebimento de dois volumes lacrados; que perguntou ao mensageiro do que se tratava e este respondeu que era apenas o entregador, não sabia.
Joias masculinas na mala do ministro
A comitiva, ainda segundo o ex-ministro, havia viajado com malas de mão, e estava com dificuldade de alocar todos os presentes recebidos. Um pacote foi colocado na mala de Soeiro, então assessor de Bento, e o outro, que sabe-se ser o pacote de joias masculinas, o ex-ministro transportou em uma sacola de mão.
Ao entrarem no Brasil, Soeiro foi selecionado à inspeção na alfândega e o auditor fiscal foi abrindo os pacotes recebidos, com os presentes, quando se deparou com o embrulho luxuoso. Soeiro relatou para a PF que o auditor, de imediato disse: “Isso eu vou precisar abrir, porque parece ser joia”. Estava ali o conjunto de colar, anel, brincos e relógio avaliado em mais de R$ 16 milhões.
O assessor, então, afirmou que os presentes foram entregues ao ministro, a quem telefonou. Bento, então, retorna à alfândega.
À PF, o ex-ministro disse que citou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como destinatária das joias como dedução, mas que sempre entendeu que o destino final seria o patrimônio público do Estado, não para uso pessoal.
Bento ainda afirmou que o pacote que estava com ele foi aberto no dia seguinte, em seu gabinete e na presença de outras duas pessoas —e que assim que constatou serem joias, mandou alocar em cofre e comunicar o acervo público da Presidência, o que foi feito.
Sobre as tentativas de liberar o conjunto de joias que ficou em Guarulhos, o ex-ministro disse que seguiu orientações dadas pelos órgãos e que em nenhum momento agiu fora do manual legal. E segundo pessoa a par do depoimento, ele ressaltou que entendia que o destino era o acervo público, não o privado dos Bolsonaro.