Às vésperas das eleições municipais, aliados de Jair Bolsonaro (PL) usaram a CPAC Brasil (sigla em inglês para Conferência de Ação Política Conservadora), no fim de semana, em Balneário Camboriú (SC), para engajar a militância e tentar manter viva a ideia de que o ex-presidente, apesar de inelegível até 2030, poderá concorrer ao Palácio do Planalto em 2026.
Condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro está impedido de participar das eleições de 2026 e o nome de eventuais substitutos já começam a ser ventilados, doz a colunista do Valor, Julia Lindner.
No domingo (7), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, seguiu a estratégia de sustentar a viabilidade eleitoral do ex-presidente. Afirmou ao jornal Valor que Bolsonaro retornará eventualmente ao cargo. Segundo ele, o ex-presidente deve reverter a inelegibilidade na Justiça “da mesma forma que [o presidente] Lula” fez no passado.
Na avaliação de Valdemar, o caso do Bolsonaro é “mais fácil” de ser revisto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), embora a situação seja considerada complexa e difícil nos meios político e jurídico.
Bolsonaro foi condenado por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação. Em 2022, o então presidente fez ataques às urnas eletrônicas durante reunião com embaixadores estrangeiros. No mesmo ano, foi considerado que ele usou as comemorações pelo Bicentenário da Independência para se promover eleitoralmente.
O presidente Lula da Silva (PT), por sua vez, conseguiu derrubar no Supremo as condenações da Operação Lava-Jato. O petista havia sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas o Supremo considerou que a Justiça Federal de Curitiba não era competente para analisar o caso.
Em discurso oficial na CPAC, Valdemar também enfatizou que é Bolsonaro quem “decide a vida do partido”. A eventual substituição do ex-presidente na corrida eleitoral foi rechaçada por seus aliados e apoiadores. O evento foi marcado por coros de “volta, Bolsonaro”.
Em um dos seus pronunciamentos, o ex-presidente disse que a composição do TSE está mudando, que chegou em um “ponto de inflexão e “não vai recuar” mesmo com o avanço de investigações contra ele – dois dias antes, ele havia sido indiciado pela Polícia Federal (PF) pela venda de joias sauditas dadas de presente ao governo brasileiro.
No lugar de prestar esclarecimentos sobre o caso das joias, Bolsonaro repetiu mais de uma vez que gostaria de participar de uma sabatina de duas horas, ao vivo, para ser indagado pela imprensa sobre “qualquer tema”.
“Apesar dos problemas, apesar de a PF ter ido três vezes na minha casa, na casa dos meus filhos, hoje eu tenho trezentos e poucos processos, mas vale a pena. A gente não vai recuar”, declarou.
O encontro conservador contou com as presenças de autoridades, entre elas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como possível sucessor de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026, considerando que o ex-presidente está inelegível. O governador fez questão de ressaltar que Bolsonaro é a única liderança da direita.
No sábado, Tarcísio participou de uma palestra ao lado Bolsonaro, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Ao iniciar a fala do grupo, Nikolas perguntou: “Quem quer Bolsonaro de volta em 2026?”. Os participantes reagiram com gritos e acenos positivos.
Na chegada, Tarcísio estava acompanhado do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e foi recepcionado por Bolsonaro. O ex-presidente afirmou que Tarcísio é o melhor governador do país e Jorginho, “o mais bonito”.
“A direita está unida e tem uma liderança, que é Jair Bolsonaro”
— Tarcísio de Freitas
Em certo momento, houve comentário de um apoiador sobre o pleito de 2026, mas o restante do grupo reagiu gritando: “2026 é Bolsonaro.” Jorginho também disse que está esperando Tarcísio mais vezes em SC e depois emendou: “Mas ele [Bolsonaro] continua sendo o meu candidato [à Presidência].”
Em uma das palestras, o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) cobrou que governadores aliados se unam para reverter a inelegibilidade de Bolsonaro e pela anistia aos presos pelo 8 de Janeiro, ao invés de se colocarem como potenciais sucessores do ex-presidente na eleição de 2026.
“Ultimamente há alguns governadores, figuras de expressão nacional, já lançando seus nomes à Presidência da República, mas o nosso pré-candidato à Presidência em 2026 se chama Jair Messias Bolsonaro”, disse Diniz.
“Estes que não usam a sua força política para que o presidente fique elegível em 2026, muita calma, vai devagar com o andor”, emendou o parlamentar.
Tarcísio, por sua vez, afirmou que “a direita está unida e tem uma liderança, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro”.
“O presidente [Bolsonaro] tem muito a contribuir. Nós esperamos muito do presidente Bolsonaro. Ele é uma fortaleza para nós”, afirmou o governador.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que organiza o evento, afirmou que o grupo voltará ao poder em 2026. O lema, de acordo com ele, é “não parar, não precipitar, não retroceder”.
O ex-ministro Onyx Lorenzoni disse que os conservadores precisam ter “paciência, resistir e persistir”. “A esquerda tem 40 anos de atuação, já a direita tem sete anos”, afirmou.
A CPAC se apresenta como o “maior evento conservador do mundo no Brasil”. A cúpula é organizada pelo Instituto Conservador Liberal (ICL-BR). Entre os patrocinadores, está a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso.
Na entrada da CPAC, os organizadores do evento montaram uma loja com itens que levam a imagem de Bolsonaro e que remetem a alguns dos seus aliados. A “Bolsonaro Store” vendia artigos como um calendário que tem o ex-presidente sem camisa na capa, agendas, quadros, canecas e até vinhos. Além disso, eram vendidas por até R$ 100 tiaras semelhantes às usadas pela deputada Júlia Zanatta (PL-SC).
No primeiro dia da CPAC, Eduardo Bolsonaro autografou os vinhos e espumantes que levam o nome da família em um dos estandes – os valores das garrafas partiam de R$ 119. A iniciativa gerou uma fila que se estendeu por horas. Também havia barracas de livros conservadores.
Nos dois dias, adesivos antiaborto foram distribuídos.