A Bolsa está cara ou barata? Se depender de grande parte dos investidores estrangeiros, a reposta está na segunda opção. Mesmo depois de brilharem na Ibovespa no ano passado, com injeção de quase R$ 40 bilhões na B3 apenas nos últimos dois meses do ano, os gringos devem seguir como protagonistas do mercado acionário brasileiro em 2024.
Mas há duas formas de olhar para esse movimento.
• A primeira, mais cautelosa. O superávit dos aportes no ano passado (diferença entre o dinheiro que entrou e o que saiu) alcançou R$ 44,85 bilhões, menos da metade dos R$ 100,82 bilhões registrados em 2022.
• A segunda, mais empolgante. Ao fazer um recorte dos meses de novembro e dezembro de cada ano, o bimestre final de 2023 salta aos olhos. As entradas superaram as saídas em R$ 21,02 bilhões (novembro) e R$ 17,46 bilhões (dezembro), enquanto nos mesmos meses do ano anterior o saldo positivo foi de R$ 2,92 bilhões e R$ 13,77 bilhões, respectivamente. Ou seja, os estrangeiros mergulharam de cabeça na Bolsa brasileira na reta final do ano passado.
Especialistas ouvidos pela DINHEIRO afirmam que o fluxo de estrangeiros na Bolsa brasileira em 2023 foi — e continuará sendo em 2024 — impulsionado por uma combinação de fatores internos e externos.
No Brasil:
• o cenário de inflação sob controle,
• avanço das propostas ficais do ministério da Fazenda no Congresso,
• juros em queda (o que reduz a atratividade da renda fixa),
• e percepção de que há muitos papéis subprecificados na B3 aguça o interesse do capital estrangeiro.
No cenário global:
• o consenso de que a economia americana não entrará em recessão (muito pelo contrário),
• e que os juros definidos pelo Federal Reserve (Fed) tendem a cair encorajam os investidores a buscar alternativas de maior retorno e risco moderado.
22%
Foi a valorização do Ibovespa ano passado, reflexo do apetite dos estrangeiros
R$ 38 bilhões
Foi o superávit dos aportes estrangeiros na B3 no último bimestre de 2023
A economista Bruna Allemann, da corretora Nomos, credenciada da XP Investimentos, considera que a política monetária dos EUA, juntamente de um valuation atraente do Ibovespa, cria um ambiente propício para o investimento estrangeiro neste ano. “A riqueza do Brasil em recursos naturais e a recuperação da economia chinesa contribuem para tornar setores específicos da economia brasileira particularmente atraentes para investidores estrangeiros”, afirmou Bruna. “Esses fatores, combinados, sugerem um cenário positivo para a continuidade do influxo de capital estrangeiro na Bolsa brasileira em 2024.”
Outro aspecto que tem favorecido o fluxo de estrangeiros na B3 é o dólar. A economista da Nomos citou o conceito de dollar smile, uma teoria econômica que explica o comportamento da moeda americana em relação a outras divisas, especialmente em cenários econômicos extremos.
O conceito ilustra que o dólar tende a se fortalecer tanto em momentos de crise global, quando é visto como um refúgio seguro, quanto em períodos de forte crescimento econômico dos Estados Unidos, quando atrai investimentos devido à robustez da economia do país.
No entanto, em situações intermediárias, o dólar pode enfraquecer em relação a outras moedas, especialmente aquelas de países emergentes com economias em crescimento ou com altos retornos de investimento.
Potencial
Segundo Allemann, essa teoria foi observada na prática com a desvalorização significativa do dólar frente ao real em 2023, com uma baixa de 8%, a maior queda anual desde 2016.
Esse cenário leva a um fluxo de capital para mercados com maior potencial de retorno, como o Brasil, onde os investidores buscaram aproveitar as oportunidades de investimento onde há de ações subvalorizadas.
O dólar continua sendo o porto seguro global, mas a movimentação atual traz um cenário favorável para ganhos na Bolsa brasileira por haver condições macroeconômiocas favoráveis.
Na visão de Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, o Brasil pode viver uma segunda onda de valorização de ativos de risco neste ano se o cenário internacional e o ambiente interno permanecerem estáveis. “Redução de juros e controle inflacionário e, no Brasil, com uma contínua redução da taxa de juros e com um [lado] fiscal minimamente mais previsível vão ajudar a gente a continuar nesse ciclo positivo”, afirmou.