“Todo mundo tem momentos em que não está feliz, então se você não está feliz, não venha trabalhar.”
É assim que pensa Yu Donglai, magnata do varejo e fundador da Pang Dong Lai, uma rede de supermercados chinesa com mais de 7.000 funcionários. No meio do ano, segundo a Você S/A, a empresa lançou uma política curiosa de saúde mental: as chamadas “licenças de infelicidade”.
Segundo Donglai, os funcionários que tivessem se sentindo tristes, insatisfeitos ou frustrados por qualquer motivo poderiam tirar até 10 dias por ano de folga, sem precisar da aprovação da liderança.
Essa medida não é a única a ser implementada por Yu. Na rede, funcionários trabalham sete horas semanais, têm folga aos fins de semana e direito a 30 a 40 dias de férias todo ano (além de cinco dias de folga durante o Ano Novo Lunar).
A empresa também tem um sistema de certificação por nível de trabalho, não por cargo. Nas palavras dele: “Um zelador pode ganhar até 500 mil yuans por ano (que corresponde a R$ 390 mil, ou R$ 32k por mês) desde que suas capacidades profissionais atinjam um certo nível.”
Responsabilidade das empresas no bem-estar do trabalhador
Donglai tem posicionamentos abertamente críticos à sobrecarga de trabalho, e já afirmou que acredita que o modelo muitas vezes segue padrões “antiéticos”. Mas, segundo a especialista em saúde corporativa e professora da Human SA, Renata Livramento, a decisão das licenças acaba fazendo com que a empresa se abstenha da responsabilidade de promover felicidade e bem estar no trabalho.
Apesar disso, reconhece que a discussão é mais complexa quando vista de um contexto maior, especialmente ao olharmos para a cultura de trabalho chinesa. Segundo um levantamento realizado em 2021, mais de 65% dos trabalhadores chineses se sentia cansado ou infeliz no trabalho. Apesar disso, Renata acredita que a política “está muito longe do ideal e traz intrinsecamente uma visão equivocada de que se retirarmos o que nos gera infelicidade seremos, então, felizes”.
Alternativas
Para a especialista, esse deve ser apenas um dos aspectos que deve contribuir para a melhoria no bem-estar dos funcionários de uma empresa. “Não podemos considerar que esta ação sozinha irá ser determinante para uma melhoria na saúde ou na felicidade desses colaboradores”, ressalta.
A alternativa é um cuidado ativo. Repensar a organização do trabalho e a forma como ele é distribuído, promover políticas internas mais satisfatórias e a capacitação da liderança para lidar com esses problemas de saúde mental de seus colaboradores são alguns exemplos citados pela especialista.
Isso, sim, traria verdadeiros benefícios, como a diminuição de absenteísmo, aumento de engajamento no trabalho, fortalecimento da cultura organizacional, aumento da produtividade e maior lucratividade para a companhia.