A equipe humanitária da ONU alerta para um “retorno aos dias sombrios de 2006” após nova onda de ataques israelenses no Líbano. Na terça-feira (24), representantes da organização pediram pela contenção da violência e a proteção dos civis.
Falando de Beirute, após o “pior dia dos últimos 18 anos” no Líbano, a representante adjunta do Fundo das Nações Unidas para a Infância. Unicef, no país, Ettie Higgins, disse que, a menos que a violência pare, as consequências podem ser “inconcebíveis”.
Líbano não pode repetir história de Gaza
Os ataques israelenses da última segunda-feira (23) em retaliação aos ataques do grupo armado Hezbollah mataram pelo menos 492 pessoas, incluindo 35 crianças e 58 mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. Outras 1.645 pessoas também ficaram feridas em todo o país.
Em rede social, o secretário-geral da ONU, António Guterres, publicou uma frase-chave de seu discurso aos líderes mundiais na terça-feira dizendo que o Líbano estava “à beira do abismo”. Para ele, “o mundo não pode permitir que o Líbano se torne outra Gaza”.
Regras de guerra
A porta-voz do Escritório de Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, expressou alarme com a “escalada acentuada” da violência entre Israel e o Hezbollah e pediu a todas as partes que “cessem imediatamente a violência e garantam a proteção dos civis”.
Desde o início da guerra em Gaza, em outubro do ano passado, a violência transfronteiriça entre Israel e o Hezbollah se intensificou, deslocando dezenas de milhares de pessoas em Israel e no sul do Líbano.
A situação se agravou ainda mais na semana passada, quando dezenas de libaneses foram mortos e milhares ficaram feridos quando pagers e walkie-talkies usados por membros do Hezbollah explodiram. No fim de semana, o Hezbollah teria lançado 150 mísseis no norte de Israel.
A chefe do Unicef no Líbano avalia que qualquer nova escalada nesse conflito será absolutamente catastrófica para todas as crianças, especialmente para as famílias das cidades e vilarejos do sul e de Bekaa, no leste. Segundo a agência, os novos deslocados se somam às 112 mil pessoas já desalojadas desde outubro passado. O Unicef confirma haver 87 abrigos criados para acomodar os deslocados.
Fugindo em pânico
Ettie Higgins informou que as escolas foram fechadas em todo o país na terça-feira, “deixando as crianças em casa com medo”. Aqueles que estão se deslocando estão “chegando apenas com as roupas que deixaram”, pois muitos “dormiram em carros e na beira da estrada”.
Da agência de refugiados da ONU, Acnur, o porta-voz Matthew Saltmarsh observou que o Líbano tem sido, por muitos anos, um “anfitrião generoso” para os refugiados, incluindo um número estimado de 1,5 milhão de sírios que vivem no país.
Ele alertou que, devido à atual escalada, muitos enfrentam o deslocamento mais uma vez, uma nova crise “pós a Covid-19, crise econômica e explosão de Beirute” no porto da capital há mais de quatro anos.
Saúde sobrecarregada
A Organização Mundial da Saúde, OMS, no Líbano, disse que mais de 2 mil cirurgias foram realizadas nos feridos, após os ataques da semana passada. Cerca de mil pessoas ainda estão hospitalizadas.
A agência da ONU vem trabalhando com as autoridades de saúde libanesas desde outubro do ano passado para se preparar para um possível evento de vítimas em massa, mas informou que os impactos dos ataques com dispositivos sem fio foram “sem precedentes”. A situação poderia “sobrecarregar qualquer sistema de saúde”.
A maioria dos ferimentos relacionados foi no rosto e nas mãos, explicou ele, e muitas pessoas tiveram ferimentos nos olhos e nas mãos, exigindo “dois conjuntos diferentes de operações”.