segunda-feira 23 de dezembro de 2024
Jorge Glas é escoltado por agentes penitenciários durante chegada à prisão de segurança máxima La Roca, em Guayaquil — Foto: AFP/ Polícia do Equador
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domingo 7 de abril de 2024 às 09:44h

Equador transfere ex-vice-presidente para segurança máxima em meio à indignação internacional por invasão de embaixada

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O ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas foi transferido neste último sábado (6) para o presídio de segurança máxima de La Roca, em Guayaquil, reservado aos criminosos mais perigosos do país, após ser detido pelo atual governo na embaixada mexicana em Quito, na noite de sexta-feira. A invasão, ordenada pelo presidente Daniel Noboa, levou o México a cortar relações diplomáticas com os equatorianos.

México e Equador vivem seus momentos mais tensos por causa de Jorge Glas, um dos políticos equatorianos mais importantes dos últimos 20 anos. Primeiro vice-presidente de Rafael Correa e depois de Lenín Moreno, ele se tornou o responsável pelos recursos petrolíferos em um país que alcançou um desenvolvimento vertiginoso graças ao dinheiro que choveu do petróleo bruto. Ele foi um dos rostos mais visíveis do movimento que cresceu em torno de Correa, um líder populista e carismático que alegava estar conduzindo seu país ao socialismo do século XXI.

Entretanto, Glas foi desonrado por três casos de corrupção nos quais foi implicado pela Procuradoria Geral da República. Ele considera isso uma perseguição judicial por parte de seus oponentes, que agora estão no poder. É por isso que ele se refugiou na embaixada mexicana em 17 de dezembro, aguardando o status de refugiado político, que finalmente foi concedido na sexta-feira, horas antes de ser retirado à força da missão diplomática. Esse foi o início de uma confusão diplomática de alto risco que atraiu a ira internacional.

Glas esperava ter acesso a um espaço seguro, longe do martelo da Justiça, como Correa, asilado na Bélgica, está agora. Mas a imunidade do ex-vice-presidente era uma miragem. A polícia equatoriana, seguindo as instruções do presidente Daniel Noboa, cercou a Embaixada do México na noite de sexta-feira e, após uma hora de tensão e confusão, iniciou um ataque. Os policiais arrombaram portas e portões que davam acesso ao jardim e vasculharam o prédio até encontrar Glas, que assistia perplexo à sua captura e à maneira violenta com que foi levado. Os agentes sacudiram e empurraram Roberto Canseco, o chefe da seção consular mexicana, que tentou conter os agentes por conta própria. O diplomata acabou no chão, desesperado e indefeso, e viu uma caravana de vans escurecidas levar Glas embora. Seu tempo em liberdade havia terminado.

O político se recusou a ser o candidato de Correa nas eleições presidenciais de 2023, que Noboa conquistou com um discurso empresarial voltado para a geração do milênio e que queria mostrar que o socialismo equatoriano estava enterrado. Seu governo prendeu Glas, que passou a noite na Unidade de Flagrância do Ministério Público na capital, Quito, sob sete chaves. Ao amanhecer de sábado, ele foi levado em um avião da Força Aérea para Guayaquil, onde outro contingente de policiais e militares o aguardava para levá-lo à prisão conhecida como La Roca, uma prisão de segurança máxima.

O ex-vice-presidente foi tratado como um criminoso perigoso que poderia escapar a qualquer momento. Dentro da prisão, ele foi submetido a uma avaliação médica. Em imagens divulgadas pelo governo, ele pode ser visto entrando na prisão com uma expressão triste, com algemas nas mãos, vestindo um agasalho e um moletom cinza, enquanto é conduzido por um policial em seu braço.

La Roca tem capacidade para cem prisioneiros, cada um deles vivendo em uma cela individual. Há alguns meses, ela abrigava os chefes das gangues contra as quais Noboa declarou guerra na esteira da crise de segurança interna. Uma declaração presidencial permitiu que os soldados assumissem a segurança nas ruas e o controle das prisões.

O presidente, que tem apenas 36 anos de idade, aplica receitas de punho de ferro à maneira de Nayib Bukele em El Salvador. Essa violação da soberania mexicana coloca a segurança interna e a punição severa dos infratores da lei acima do respeito aos direitos humanos.

O México ficou chocado com essa medida de força. Horas antes do ataque, o governo mexicano havia solicitado salvo-conduto ao Equador para que Glas pudesse embarcar em um avião para a Cidade do México. Após a invasão, o presidente mexicano Andrés López Obrador rompeu relações com Quito como “uma violação flagrante do direito internacional”. Até o momento, somente a Nicarágua seguiu o exemplo do governo mexicano.

A ministra mexicana das Relações Exteriores, Alicia Bárcena, disse no sábado que, de acordo com as instruções do presidente, o pessoal diplomático foi retirado do país por companhias aéreas comerciais em uma operação que foi apoiada por embaixadas amigas. López Obrador agradeceu à comunidade regional no sábado por sua solidariedade em condenar o ataque e a violação de tratados internacionais. Ele também pediu aos mexicanos que “se comportem com muita prudência” e evitem “o caos e as provocações”. Alguns partidários de seu governo convocaram um protesto em frente à embaixada equatoriana na Cidade do México. O Ministério do Interior mexicano desaconselhou a ida ao local para evitar o aumento da pressão.

O repúdio regional ao ataque foi quase unânime. A Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o colombiano, Gustavo Petro, o chileno, Gabriel Boric, e e até mesmo o argentino, Javier Milei, que teve discussões acaloradas com López Obrador, ficaram do lado do México e denunciaram a flagrante violação do direito internacional pelo Equador.

No centro de tudo isso está Glas, que tem duas condenações. Ele passou cinco anos na prisão e foi libertado depois que seus advogados obtiveram medidas cautelares. A última delas foi revogada pelo Tribunal Constitucional, forçando-o a retornar à prisão por mais oito anos. Além disso, ele tem um novo julgamento por desvio de fundos, para o qual um juiz solicitou prisão preventiva. Para evitar ir parar atrás das grades novamente, ele foi morar na embaixada do México, um país que o considera uma pessoa perseguida politicamente. O Equador, por outro lado, o considera um criminoso e, portanto, o procurou debaixo de cada pedra, provocando um conflito internacional. O destino de Jorge Glas rompeu a convivência de dois países.

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