sexta-feira 27 de dezembro de 2024
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em entrevista ao GLOBO: 'Garantir a aprovação de todos os projetos (no Congresso) não é tarefa só de um' — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
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domingo 14 de julho de 2024 às 16:54h

Entrevista: sucessão de Lira foi antecipada e pode ‘chamuscar’ candidatos, diz Padilha

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Responsável pela articulação política do governo, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) avalia em entrevista a Jeniffer Gularte e Renata Agostini, do O Globo, que o avanço da campanha para a presidência da Câmara pode “chamuscar” os postulantes e atrapalhar votações de interesse de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, “acenderam a fogueira muito cedo”. Padilha minimiza a relação ruim com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e diz ser normal outros colegas ajudarem com as negociações no Congresso, como Rui Costa e Fernando Haddad. Para o auxiliar de Lula, não se deve dar atenção a “fofocas” ou intrigas palacianas. Como diz sua filha, citando Taylor Swift, Shake It Off (“Deixa pra lá”).

No aniversário de Elmar Nascimento (candidato à presidência da Câmara), o senhor apertou a mão de Lira. Vocês se falaram antes ou depois daquilo, ou foi um momento isolado?

Esse papo é da temporada passada da série. E eu já tinha dado o spoiler: essa fofoca não ia atrapalhar a agenda de votação do governo. Diziam que ia paralisar a agenda econômica e votamos tudo. Diziam que ia desorganizar o orçamento, o debate dos vetos, conseguimos manter os vetos necessários, conseguimos cumprir, mais do que cumprir, superar o cronograma de execução de emendas.

O senhor foi chamado por Lira de “incompetente” e “desafeto” à época da votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão. Errou na ocasião?

Isso é temporada passada, já superei.

Desde o rompimento, Rui Costa dialoga com Lira e o senhor foca nos líderes. A articulação política do governo ficou desorganizada?

Eu avalio pelos resultados. Apesar de tudo o que foi dito, o que não seria aprovado, aprovamos. Superamos o pessimismo de vários e o pessimismo leviano de outros, de que não seria possível aprovar a agenda prioritária econômica e social.

Há uma crítica de que sem conversar com Lira, o senhor sobrecarrega Rui Costa e o Fernando Haddad. Como responde a isso?

Esse é um governo de gente experiente, que já governou esse país. Já fui ministro da coordenação política com outros ministros da Fazenda que tinham também um papel ativo fundamental na aprovação (de projetos). Ainda bem que a gente tem pessoas como o Haddad, como Rui, como os líderes para dialogar. A tarefa de agir e dialogar com o Congresso e garantir a aprovação de todos os projetos não é tarefa só de um. Nosso papel é de coordenação. O resto é fofoca, é especulação. Como diz minha filha, Shake It Off (Deixa pra lá). Minha filha é fã da Taylor Swift. Haters gonna hate, hate, hate. (Os ressentidos vão odiar, odiar, odiar).

A campanha para a Câmara está afunilando. Partidos da base, como PSB e PDT, estão encaminhando apoio a Elmar Nascimento. Como vê?

Desconheço essa informação. A gente tem experiência suficiente para saber que qualquer tipo de antecipação não significa nada nesse momento. E não favorece quem é pré-candidato.

Ainda assim a movimentação ocorre. Como o governo vai fazer para não sair chamuscado dessa disputa?

Só sai chamuscado quem entra na fogueira. Acenderam a fogueira na disputa da Câmara muito cedo. Nós temos experiência suficiente para não entrar. A nossa dedicação na relação com a Câmara será aprovar o que é importante para o país. A antecipação atrapalha a agenda de votações. Essa fogueira que pode, sim, chamuscar muita gente que entrou antecipadamente, e nem vai entrar quando a disputa de fato vier. Essa é a diferença: esse é um governo experiente. Acender a fogueira de forma antecipada chamusca quem entrou primeiro.

O ministro Carlos Lupi (Previdência) então se chamuscou com o PDT, ao encaminhar apoio a Elmar?

Isso é especulação. Qual é a ata que tem isso? Fui à festa do Elmar, do (Antônio) Brito e do Marcos Pereira. Significa que eu apoio algum deles? Não vamos entrar nesse universo de especulação.

Há uma recomendação para que os ministros não apoiem pré-candidatos?

Há uma recomendação do governo explícita, do coordenador político do presidente Lula, de que nesse momento a nossa concentração na relação com a Câmara e com o Senado é se dedicar ativamente às votações. Agora, é natural que ministros de líderes de um determinado partido tenham predileção maior ou menor por um candidato.

Lira espera ter apoio do governo para o candidato que ele escolher. O governo está disposto a apoiar?

O governo reconhece como natural que o presidente da Câmara possa liderar o debate do processo, mas não vamos entrar na disputa antecipada.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, cobrou os ministros que estão fora da articulação a ajudarem mais. Concorda?

Não, eles ajudam muito. Foram fundamentais. Ou não teríamos aprovado esses itens da agenda econômica e social. O partido do presidente não tem cem deputados.

Mas o governo perdeu votações, com votos contrários de parlamentares do PP, União Brasil, PSD e MDB, no caso do marco temporal e da saída temporária de presos.

Toda a agenda de cotas para a população negra, a recriação do Minha Casa Minha Vida, do Mais Médicos. Tudo isso foi feito com votos de parlamentares de partidos que estavam junto com o governo anterior. O que é central, que é agenda econômica e social, sempre tivemos adesão enorme desses partidos.

A pesquisa Quaest divulgada nesta semana mostrou recuperação da aprovação do governo. Onde o governo estava errando?

Não fico preocupado com pesquisas anteriores nem saio comemorando as atuais. Mais do que a fotografia, o importante é o filme. O Brasil desde 2013 não reunia três coisas ao mesmo tempo: crescimento econômico, inflação controlada e desemprego em queda. O Brasil reposicionou seu papel no mundo. Conseguimos salvar a democracia e construir uma frente ampla que isola os extremistas. Mas é lógico que o governo sempre pode melhorar.

Lula diz que fará campanha contra adversários ideológicos nas eleições municipais. Quais são?

Os extremistas de direita. Tem algumas cidades simbólicas onde a disputa nossa é contra os extremistas de direita, como aquelas que abraçam o ex-presidente.

Como Ricardo Nunes?

Abraçou o ex-presidente, foi lá tomar bênção. A maioria das eleições municipais tem uma dedicação ao tema local, mas algumas disputas são simbólicas e nacionais, como a eleição do Rio. O Eduardo Paes reúne uma frente ampla que vai derrotar os extremistas de direita do Rio. O puro suco do bolsonarismo. E o presidente Lula vai estar junto dessa frente ampla. Na cidade de São Paulo, infelizmente o atual prefeito resolveu abraçar Bolsonaro.

E isso não pode abalar a relação com o MDB?

Tenho certeza que não. As disputas municipais não têm qualquer impacto sobre a atuação desses partidos aqui (em Brasília). Vamos ter cidades com disputas com partidos que no Congresso Nacional estão votando junto conosco, fazem parte do governo. Tem uma diversidade do país, uma fragmentação das estruturas partidárias que faz com que essa disputa na grande maioria das cidades não tenha qualquer conexão.

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