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O chefe da Secom, Paulo Pimenta (PT) — Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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segunda-feira 27 de fevereiro de 2023 às 07:58h

Entrevista: ‘É melhor que haja lei sobre fake news. O Judiciário é lento’, diz Paulo Pimenta

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), órgão ligado à Presidência, Paulo Pimenta defendeu, em entrevista ao GLOBO, a aprovação de um texto para combater notícias falsas e afirmou que o processo no Poder Judiciário é “lento e moroso”, em relação ao tema. Para ele, a política pensada pelo governo não vai perseguir opinião, mas “tratar de conteúdo criminoso”.

Há uma indefinição clara na legislação brasileira sobre desinformação. Qual a importância de o Congresso votar o projeto das fake news?

Esse é um debate que o mundo está fazendo. Estamos às vésperas de a Suprema Corte americana julgar uma ação que pode mudar completamente o modelo comercial das chamadas big techs como conhecemos até hoje. É fundamental que o Congresso vote, porque se não votar ocorrem situações como a que foi criada na campanha eleitoral: o tribunal acaba normatizando por decisões administrativas, com decisões judiciais pontuais. É melhor que haja uma legislação perene, debatida de forma ampla, e que dê segurança jurídica para todos.

O governo pretende identificar e punir pessoas que produzam desinformação. Isso não extrapola a função do Executivo?

O que estamos tratando é de conteúdo ilegal, conteúdo criminoso. Por exemplo: a divulgação do link do remédio que não tem comprovação na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a divulgação impulsionada de links de golpes na internet, conteúdo homofóbico, racista, antidemocrático. Não é questão de opinião. Acho também que deveríamos ter uma distinção entre o que é conteúdo impulsionado e monetizado. Países da Europa estão caminhando numa direção em que, quando o conteúdo é impulsionado ou monetizado, deixa de ser tratado como opinião e passa ser tratado como mídia.

O Poder Judiciário já combate as fake news…

O problema é que o processo no Poder Judiciário é lento e moroso. Você recebe no seu celular um conteúdo impulsionado de um link que é um golpe para roubar os dados da sua conta bancária, e a plataforma não tem nenhuma responsabilidade? Hoje, o mundo inteiro está definindo uma lei sobre isso. Não tem motivo para o Brasil ficar fora.

Como fazer isso sem coibir a liberdade de expressão e intimidar críticos do governo?

Não estamos tratando de opinião. Pelo contrário. Temos que estimular a liberdade de crítica, liberdade de ação da oposição. Somos totalmente contrários a qualquer tipo de regulação de opinião ou de liberdade de expressão. O que estamos tratando é de conteúdo criminoso e ilegal.

Integrantes do PT e o próprio presidente ainda chamam de “golpe” o impeachment de Dilma Rousseff, chancelado pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal. Qual o intuito de insistir nisso?

É uma disputa de versões sobre um fato histórico. Estamos convencidos, e a vida demonstrou isso também, que na realidade houve um processo de quebra de legalidade democrática que envolveu o afastamento da Dilma, a prisão do Lula, condutas e procedimentos da Lava-Jato. Qualquer pessoa minimamente informada no Brasil sabe que na realidade se tomou uma decisão de cassar a Dilma e depois se procurou um motivo. Vamos disputar essa narrativa.

Essa postura gera um constrangimento para a aliança com o MDB, um importante aliado do governo?

O MDB conhece a nossa posição sobre o assunto. Isso jamais foi objeto de debate para a construção da aliança.

Lula prometeu buscar a pacificação em seu governo. Por que o presidente tem atacado o ex-presidente Jair Bolsonaro, resgatando a ideia da “herança maldita” , e o presidente do Banco Central, Campos Neto, por causa da alta dos juros?

Pacificação não significa cumplicidade com impunidade. No meio desse processo, tivemos o 8 de janeiro que representou uma tentativa organizada, financiada por setores antidemocráticos que tentaram derrubar o governo e dar um golpe no Brasil. Queremos dialogar e pacificar o país a partir do compromisso com a Constituição e a democracia. A questão dos juros é uma opinião do presidente, que tem todo nosso respaldo e nosso apoio. O presidente do Banco Central está sujeito a críticas. Achamos que a questão dos juros é central para que o país possa retomar o mínimo de crescimento necessário para gerar emprego.

Lula disse que é preciso tirar mais bolsonaristas “escondidos” e “infiltrados” no governo. Ainda há um clima de desconfiança?

Defendo que pessoas que exercem posições de comando como secretários, diretores, que respondem por órgãos estratégicos e estiveram no governo Bolsonaro não permaneçam nas suas funções. Acho que por questão ética deviam pedir demissão. Já deveriam ter saído. Se não saíram, deveriam ser exoneradas.

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), criada no governo Lula, tem audiência limitada e gerou um custo de quase meio bilhão de reais para os cofres públicos somente em 2022. Esses recursos não poderiam ser direcionados para outra finalidade?

A EBC é mais que uma TV pública. Temos a Agência Brasil e parcerias com TVs comunitárias, universitárias, que garantem a vinculação de um conteúdo que muitas vezes não tem um objetivo comercial. A EBC tem papel importante como uma empresa pública de comunicação e queremos aprimorar o trabalho dela. A manutenção do espaço de produção de conteúdo público é fundamental para o governo e para a democracia do país.

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