O escritor Olavo de Carvalho morreu nesta terça-feira (25) aos 74 anos nos Estados Unidos. O trabalho do autointitulado filósofo era seguido pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL). Eduardo (PSL-SP), que chegou a classificá-lo como “ícone”, e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) exaltavam as teorias do ensaísta. A partir dos filhos, o presidente passou a acompanhar Carvalho, o que fez com que ele passasse a ser tido como “guru do bolsonarismo”.
Discípulos de Carvalho integraram o governo de Bolsonaro, como os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo Vélez (Educação). As crises geradas por eles fizeram com que os seguidores do ensaísta, sempre em embate com a ala militar da gestão Bolsonaro, perdessem espaço. Eles deixaram o governo e viraram críticos à gestão de Bolsonaro.
Veja a seguir frases de Olavo sobre Bolsonaro e o seu governo:
“Não sou guru do Bolsonaro”
Olavo de Carvalho rebateu mais de uma vez a afirmação de que seria o “guru” do bolsonarismo. Em dezembro do ano passado, durante uma live que contou com diversas críticas ao presidente, o professor negou novamente ser mentor de Bolsonaro.
O Brasil vai se dar muito mal, gente. Não venham com esperanças tolas, porque é o seguinte: a briga já está perdida. Existem chances de fazer voltar… Existe uma chance remota, mas só se o Bolsonaro acordar, mas eu não sei como fazê-lo acordar. Dizem que eu sou o ‘guru do Bolsonaro’. Isso é absolutamente falso. Conversei com ele somente quatro vezes na minha vida. E duvido que ele tenha lido um só livro inteiro. Se ele tivesse lido com atenção, teve muita coisa que ele fez e não faria.
Elogios no início do governo
No início do mandato, a relação entre o escritor e governo ainda era positiva. Com apenas dois meses de governo, o presidente promoveu um jantar nos Estados Unidos com aliados e apoiadores do então presidente norte-americano Donald Trump, que também contou com a presença de Olavo de Carvalho.
Me surpreendeu positivamente, porque esses jantares normalmente são muito blá-blá-blá, mas este não. Teve muitas conversas bilaterais e haverá medidas concretas que serão anunciadas em breve.
“Enfia a condecoração no c…”
Em junho de 2020, porém, Olavo de Carvalho deu início a críticas mais incisivas contra o governo Bolsonaro. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o escritor chegou a dizer que derrubaria o presidente, se ele continuasse “inativo e covarde”.
O filósofo reclamava da suposta falta de apoio de Bolsonaro a seus aliados em meio a derrotas sofridas pela ala ideológica do governo.
E o que Bolsonaro fez para me defender? Bosta nenhuma. Aí vem com ‘condecoraçãozinha’. Enfia a condecoração no cu. Porque eu fui seu amigo, mas você nunca foi meu amigo. Quantos crimes contra o Olavo você investigou, seu Bolsonaro? Nenhum. Você nem se interessou.
Bolsonaro é honesto, mas é um fracasso
Em novembro de 2020, quando a aliança do governo com o centrão já estava avançada, em detrimento da ala ideológica liderada por Olavo, o escritor disse que Bolsonaro era um fracasso na luta contra o comunismo.
Como administrador público, o Bolsonaro é o mais honesto e eficiente que já tivemos. Como estrategista na luta contra o comunismo, é um fracasso vivo rodeado de conselheiros ignorantes ou mal intencionados.
O ensaísta também criticou o presidente por supostamente não ajudar aliados durante as eleições municipais de 2020. Candidatos apoiados por Bolsonaro tiveram derrotas importantes em capitais, como Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo; Delegada Patricia (Podemos) em Recife; Coronel Menezes (PL), em Manaus; e Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte.
O péssimo desempenho dos bolsonaristas na eleição não tem mistério nenhum. Ludibriado pela conversa mole de generais-melancias, o presidente confiou demais no sucesso inevitável da sua liderança pessoal, sem perceber que ela não passava, precisamente, disso: uma liderança pessoal sem respaldo militante e incapaz, por isso, de transmitir seu prestígio a qualquer aliado.
“Poster Boy”
Já em dezembro do ano passado, as críticas de Olavo a Bolsonaro eram recorrentes e mais incisivas. Em live no Youtube ao lado do também insatisfeito Abraham Weintraub, o escritor disse que Bolsonaro o usou para se eleger.
Então, a minha influência sobre o Bolsonaro é zero. Ele me usou como ‘poster boy’. Me usou para se promover, para se eleger. E, depois disso, não só esqueceu tudo o que dizia, como até os meus amigos que estavam no governo ele tirou”
“Não existe direita. Existe bolsonarismo”
Olavo também disse que o presidente era apenas um “gerente administrativo”.
O Bolsonaro é o melhor gerente administrativo que este país já teve. Ele é tudo isso e só isso.
O Bolsonaro não é obedecido em praticamente nada, nada. Quem manda no Brasil é a turma do STF, da mídia, do show business. Acabou. E o pessoal das Forças Armadas? Assiste a tudo isso. Só acredita em neutralidade ideológica. Ou seja, no Brasil só existem duas possibilidades: ou você é comunista ou você é neutro. Não existe direita. Existe bolsonarismo.
Olavo de Carvalho, em entrevista à Jovem Pan