segunda-feira 20 de maio de 2024
Cidade de Roca Sales, no interior do Rio Grande do Sul, ficou destruída com as enchentes. Foto: GUSTAVO GHISLENI/AFP
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sexta-feira 10 de maio de 2024 às 08:05h

Enchente no Rio Grande do Sul coloca em xeque alta de 2% no PIB brasileiro

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Os impactos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul, Estado com o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, para a economia nacional podem variar, em estimativas preliminares, de 0,2 a 0,3 ponto percentual (p.p) e impedir segundo reportagem de Anaïs Fernandes, Marcelo Osakabe e Marta Watanabe, do jornal Valor, que, apesar da atividade geral resiliente, o ano de 2024 feche com um PIB agregado muito acima de 2%.

A XP Asset já revisou sua projeção para o PIB do Brasil neste ano de 2,4% para 2,1%. Se antes a expectativa era de crescimento de 0,7% no segundo trimestre, sobre o primeiro, agora a gestora espera queda de 0,2%. “E a impressão que eu tenho, hoje, é que o impacto pode ser ainda mais negativo do que nossas contas sugerem”, diz o economista-chefe, Fernando Genta.

Isso porque sua estimativa leva em consideração mais o efeito direto das enchentes na economia gaúcha e menos seus “transbordamentos”, explica Genta. Por exemplo: tendo em vista que o ajuste anual do salário mínimo já foi dado, a alta nos preços de alimentos, por problemas com as safras no RS, pode levar a uma corrosão do poder de compra das famílias e, portanto, afetar o consumo no PIB.

Em um primeiro exercício, Fernando Fenolio, economista-chefe da Wealth High Governance, estima que o impacto negativo pode variar de 0,02 ponto percentual no PIB nacional, se houver recuperação total da capacidade industrial gaúcha e 25% de perda da colheita local remanescente, a 0,34 ponto percentual, se a perda da colheita que resta for integral e a recuperação da indústria não passar 25%.

Um impacto de 0,22 ponto percentual, causado por uma perda total da colheita remanescente, mas 75% de recuperação da capacidade industrial, parece um cenário mais provável no momento, segundo Fenolio. “Vamos revisar o PIB. Temos 2% neste ano, matematicamente, iria para 1,8%”, diz. A inflação, por sua vez, iria de 3,8% para 4%. “É um choque de oferta clássico, menos PIB e mais inflação.”

Nos cálculos preliminares da 4intelligence, o desastre pode fazer ainda de acordo com o jornal Valor, o crescimento do PIB gaúcho chegar a apenas 0,5% este ano, de 5,5% projetados anteriormente. Considerando que o Estado representa cerca de 6,5% da economia nacional, a estimativa é que as enchentes reduzam em 0,2 ponto percentual a expansão do PIB do Brasil em 2024. Assim, a projeção oficial da 4i de alta de 1,9% do PIB do Brasil este ano pode ir a 1,7%.

“O principal impacto na atividade se dará em maio. Em junho, acreditamos que grande parte das atividades estará normalizada, a depender dos danos físicos e do ritmo de reconstrução”, diz, em relatório, o Bradesco, que também vê impacto potencial da tragédia de 0,2 a 0,3 p.p. sobre o PIB brasileiro.

Por outro caminho, a G5 Partners tem conta semelhante, de perda de 0,3 p.p. “Como nunca houve desastre natural da magnitude do que aconteceu no Rio Grande do Sul, buscamos referência de impactos semelhantes em outros locais e usamos como base os efeitos dos furacões Katrina e Rita nos EUA em 2005”, diz o economista-chefe, Luis Otávio Leal.

A partir de um estudo do Departamento de Comércio dos EUA, que mensurou trimestralmente o impacto desses furacões no PIB americano, e adaptando os parâmetros às métricas no Brasil, Leal calculou que as enchentes devem tirar 10,5 pontos percentuais da variação do PIB gaúcho no segundo trimestre de 2024, em relação ao primeiro. Com isso, sua projeção para crescimento do PIB nacional em 2024 cairia de 2,1% para 1,8%.

A G5 não mexeu na estimativa, mas, antes das enchentes no Estado, a expectativa era elevar a previsão de PIB nacional para o ano, após a divulgação dos dados oficiais do primeiro trimestre.

“Creio que a comparação com o efeito dos furacões Katrina e Rita não é descabida, porque houve destruição similar de ativos. A estimativa, porém, não alcança outras variáveis, como a capacidade de reação americana em comparação com a brasileira”, diz Leal, observando que os EUA já têm toda uma organização estruturada para desastres do tipo.

Na avaliação do Banco Pine, a projeção para o crescimento do PIB do Brasil em 2024, de 2,3%, pode ser revista para 2,1%, em um exercício inicial.

“O impacto tende a ser mitigado para o PIB nacional. Regionalmente, é muito mais e, pensando em trilhões de reais, tem uma perda de riqueza. Mas fico ainda mais preocupado com o agronegócio”, diz o economista-chefe do banco, Cristiano Oliveira. Ele nota que, se o Estado tem peso de 6,5% no PIB nacional, no PIB agro a participação é quase o dobro, ao redor de 12,5%.

Olhando apenas para o Estado, a 4i estima que o setor mais afetado será a agricultura, podendo crescer, apenas no segundo trimestre, em torno de 25% a menos que o esperado. “Sozinho, o PIB do agro gaúcho deveria crescer 18,9% em 2024, se recuperando de uma quebra gigante de safra em 2022 que não foi inteiramente reposta em 2023. Essa alta, agora, pode ficar em apenas 1,9%”, diz o economista-chefe, Bruno Lavieri.

Impacto pode ser ainda mais negativo do que nossas contas sugerem”

— Fernando Genta

Supondo que metade do que ainda esteja nos campos gaúchos tenha sido perdida, 7,5% da produção de arroz no Brasil e 2,2% da soja podem estar comprometidos, calcula o Bradesco, ponderando que essas ainda “parecem ser estimativas conservadoras”.

Considerando isso e também eventuais impactos no plantio do trigo, que apenas começou, e nos abates de frangos e, principalmente, de suínos, o Bradesco estima que a queda do PIB agro brasileiro em 2024 poderia se aprofundar dos esperados 3% para 3,5%.

“E tem toda a infraestrutura com a qual o agronegócio trabalha, dos silos de armazenagem, estradas, transmissão de energia. Tudo isso deve ficar comprometido por algum tempo”, diz Oliveira, do Pine. Por isso, para ele, o efeito da tragédia gaúcha no PIB tende a ser mais “duradouro e preocupante” do que, por exemplo, na inflação.

Nos serviços, os transportes devem sofrer por mais tempo diante das interdições nas rodovias, enquanto os serviços prestados às famílias podem ver atividades relacionadas a lazer, hotelaria e serviços pessoais mais impactadas, aponta o Bradesco. A projeção da 4i para os serviços no Estado passou de alta de 1,9% para queda de 3,1% no ano, com prejuízos concentrados no segundo trimestre.

A indústria pode sofrer menos: a estimativa para 2024 foi de 1,8% para 1%. “A extrativa quase não tem peso no Estado, ao passo que a manufatura, que é importante pela produção de veículos e máquinas, deve ter impacto pontual e se recuperar adiante, já que a demanda ficou apenas represada. Além disso, devemos ver algum impulso da construção, dado que os estragos das enchentes devem impulsionar obras”, diz Lavieri.

Para 2025, a 4i elevou a previsão de PIB gaúcho de 2% para 6,1%. “Nós mantivemos a projeção para o nível dos serviços e da indústria. Crescem um pouco menos em 2024, mas se recuperam no ano seguinte. Já a agricultura deverá continuar abaixo do inicialmente esperado”, afirma Lavieri.

“É muito provável que o agronegócio da região sinta as consequências do evento atual por muito meses ainda, colocando em dúvida, inclusive, o sucesso da próxima safra”, afirma Oliveira. Ele lembra que, a partir de julho, o La Niña, que tende a deixar o clima seco no RS, deve voltar. Embora isso possa parecer bom diante das tragédias causadas pelo excesso de chuvas, para as culturas da região é prejudicial. “Infelizmente, eventos climáticos extremos tendem a atingir bastante o Estado, até pela sua localização”, diz.

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