Na convenção que o oficializou candidato a governador de São Paulo, João Doria (PSDB) se apresentou como xerife anticorrupção e cutucou o adversário Paulo Skaf (MDB), com quem disputa o voto conservador no estado.
Em evento na capital paulista, neste sábado (28), Doria prometeu “ir à luta” também por Geraldo Alckmin (PSDB), que disputará a Presidência. Os dois, antes afastados, mostraram-se afinados ao nacionalizar a eleição paulista, primeiro colégio eleitoral do país e estado-chave na disputa presidencial.
Com alta rejeição na capital após renunciar ao mandato na prefeitura, Doria disse não ter “medo de cara feia” e retomou o discurso antipetista e antilulista com o qual venceu a eleição em 2016.
“Vamos lembrar os nossos heróis como Sergio Moro, que, juiz destemido e corajoso, pôs Lula na cadeia e está pondo vários outros”, discursou.
“Não há seletividade, não. Vai pra cadeia quem merece ir pra cadeia. De qualquer partido, inclusive o meu. Se é ladrão, cadeia!”, exclamou.
Em resposta a críticas à longevidade da era tucana em São Paulo, que já dura 24 anos, o candidato deixou um recadinho, como afirmou, a Skaf. Até então seu alvo vinha sendo o governador Márcio França (PSB), em quem tenta colar a imagem de candidato de esquerda.
“Não há estafa do PSDB, não. O que o povo quer a continuidade daqueles que são honestos, decentes e trabalham”, disse.
Com uma risada de deboche, continuou. “E você não tem autoridade para falar de continuidade. Nós temos, porque quem elege é o povo, não são pequenos grupos. É o povo e pelo voto.”
O MDB de Skaf chegou à Presidência com Michel Temer após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
‘ZÉ NINGUÉM’
Com estilo oposto à polarização forçada por Doria, Alckmin pregou a pacificação nacional e a humildade na política.
“Governador [André Franco] Montoro gostava de lembrar o padre Lebret, que dizia: nós devemos na política ser um zé ninguém a serviço de uma grande causa. A causa que nos motiva é melhorar a vida da população”, discursou.
Governador por quatro mandatos, disse que passava o bastão a Doria depois de elencar feitos das gestões tucanas, inclusive a própria. Chamou a melhoria em índices de segurança pública um “caso reconhecido internacionalmente”.
O presidenciável, que oficializará sua candidatura em uma semana, falou da miscigenação de São Paulo como resumo do Brasil.
“É a terra da oportunidade, onde japonês fala português com sotaque italiano. Tem um cadim de cada canto do Brasil, a síntese da alma brasileira”, disse Alckmin, natural de Pindamonhangaba (SP). “Por isso aqui as mulheres são tão bonitas”, galanteou, ao lado da esposa, Lu.
Em sua campanha, para evitar a fama de arrogante que a política paulista carrega, o ex-governador se apresenta como nascido “no interior do Brasil”.
‘ROUBALHEIRA INFINITA’
Em vídeo enviado do exterior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) seguiu linha similar à de Doria defendendo o fim da impunidade e o combate à corrupção.
“O povo quer coisas simples, transporte, moradia, educação, saúde e segurança. Para isso não é preciso roubar, essa roubalheira infinita que há na Brasil. É preciso pôr um ponto final nisso”, afirmou na mensagem exibida em um telão.
Com o palco repleto de políticos dos partidos da coligação (PSD, DEM, PP, PRB e PTC), um vídeo abriu o ato comparando o estado hoje à situação em 1994, antes de o PSDB assumir o Palácio dos Bandeirantes.
“Estava abandonado”, disse o locutor para então narrar melhorias implantadas pelas gestões tucanas desde então.
O presidente do PSDB paulista, Pedro Tobias, foi na mesma linha. Afirmou que SP “estava quebrado” até que vieram os governadores tucanos, os quais nomeou um por um. Tobias excluiu apenas Alberto Goldman, desafeto de Doria que, em artigo na Folha de S.Paulo, o acusou de tê-lo excluído dos que poderiam discursar no evento.
“O presidente estadual do partido, ao meu pedido para usar da palavra na recente convenção estadual, [respondeu]: “Vou falar com o João Doria, ele paga a convenção, é ele quem manda”. Aonde chegamos!”, escreveu Goldman.
A cantora baiana Gilmelândia, que canta o jingle da campanha em ritmo de axé, puxou o hino nacional em tom dramático, dividiu o microfone com Doria e, ao final, gritou o slogan Acelera, SP.
TRÂNSITO
A movimentação de políticos e apoiadores tucanos provocou transtornos na região da convenção.
Segundo a CET (companhia de trânsito), devido ao volume de carros no entorno, agentes foram deslocados para o local para ajudar a orientar o trânsito.
O trecho final da rua Tagipuru, ao lado da entrada da estação Palmeiras-Barra Funda do Metrô, foi fechado, o que complicou o tráfego e gerou protestos de moradores.
O jardim e o estacionamento de um condomínio em frente à convenção foram ocupados por correligionários, e a polícia foi chamada.
Agentes de trânsito disseram a moradores que contaram mais de 120 ônibus na região, além de vans, e que ficaram constrangidos em coibir irregularidades pois a convenção “é do partido do prefeito”, Bruno Covas. A reportagem viu veículos estacionados em faixas exclusivas de ônibus da rua Auro Soares de Moura Andrade.