Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid atacou a Polícia Federal (PF) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em mensagens de áudio sobre a condução de investigações que miram o ex-presidente.
Cid, preso em maio, já prestou seis depoimentos à PF.
Ele é alvo de investigações em três casos: trama golpista, joias sauditas e falsificação de cartões de vacina, esta última sendo o motivo para a sua prisão preventiva.
Em setembro, o STF homologou um acordo de delação premiada com tenente-coronel, que passou a cumprir a prisão preventiva em liberdade provisória.
Nos áudios, vazados de reportagem da revista Veja na noite desta quinta-feira, 21 de março, Cid acusou a PF de pressioná-lo a responder “coisa que eu não sei, que não aconteceu”.
“Eles [os policiais] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu… Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, afirmou o tenente-coronel em uma das mensagens.
“Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, acrescentou em outro áudio.
A Veja não revelou o interlocutor de nenhuma das mensagens.
Em outra declaração, Cid atacou Moraes. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, disse o tenente coronel.
Suposto encontro de Moraes
A declaração mais concreta de Cid nos áudios vazados envolve um suposto trecho de seu depoimento à PF que teria sido retirado do relatório da corporação e envolveria uma suposta reunião entre Moraes e Bolsonaro em uma casa do senador Ciro Nogueira (PP-PI).
“Para mostrar ao interlocutor que haveria uma filtragem das informações que são oficializadas pela PF, Cid fala de um suposto encontro entre o ministro e Jair Bolsonaro, que não ficou registrado nos seus depoimentos”, diz a reportagem.
No áudio em questão, Cid afirma: “Quando eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles [agentes da PF] ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale? Não vou botar no papel, porque vou me f*. Mas o presidente [Bolsonaro] se encontrou secretamente com Alexandre de Moraes na casa do Ciro Nogueira. E aí?’.”