Os residentes do condado de Vigo, no Estado americano de Indiana, têm uma espécie de talento. Exceto por duas exceções notáveis, em 1908 e 1952, todos os candidatos à Presidência escolhidos pela região desde 1888 acabaram chegando à Casa Branca.
Por conta desse histórico conforme a BBC, o clima entre os eleitores do condado de Vigo pode servir como uma espécie de prévia para o resultado da eleição presidencial dos EUA em 3 de novembro.
Para Susan e Terry Hayhurst, possuir uma fazenda de 688 hectares não os impediu de viajar pelo mundo. Elas estiveram na Europa a trabalho e também para férias. A sua filha Hayley, de 25 anos, está estudando moda em Londres.
E quando se trata de política, para eles, Donald Trump é a única opção viável.
Terry cultiva milho e soja no sudoeste do condado e mantém duas dúzias de gado hereford. O Estado de Indiana é um dos principais exportadores de soja do país — cerca de metade da produção é vendida para a China.
A guerra comercial do governo Trump com a China provocou uma resposta de Pequim, que colocou uma tarifa de 33% sobre uma variedade de soja dos Estados Unidos em 2018. Mas Hayhurst, formado pela Universidade Purdue, acredita que a agricultura americana saiu mais forte desta guerra comercial — a disputa acabou se enfraquecendo e a tarifa foi retirada.
Ele acha que o presidente Trump fez um trabalho extremamente bom no episódio.
“Há muito tempo os EUA têm sido condescendentes com esses outros países. Mas acho que estamos muito melhor agora com nosso relacionamento com a China.”
“[Trump] parece muito áspero e grosseiro e acho que todos nós gostaríamos que houvesse um pouco mais de polidez. Mas, ao mesmo tempo, talvez seja disso que precisamos agora.”
Susan Hayhurst sente que o resto dos EUA às vezes se esquece do papel essencial que desempenha o chamado “país sobrevoado” — as partes do país que muitos americanos só veem quando estão viajando de avião, lá do alto.
“Não somos caipiras; não somos pessoas andando de macacão”, diz ela. “A agricultura é um grande negócio.”
Situado nas margens do rio Wabash, o condado de Vigo tem uma divisão bastante equilibrada de residentes rurais e urbanos. A população mais conservadora é compensada por várias faculdades e universidades espalhadas pela região, incluindo a Universidade Estadual de Indiana, que tendem a ser mais liberais.
O condado tem algumas dinâmicas eleitorais pouco comuns. Embora Trump tenha vencido facilmente as primárias republicanas de 2016 aqui, não houve um vencedor claro no lado democrata, onde a votação foi dividida entre os candidatos Hillary Clinton e Bernie Sanders.
Além do mais, a linha que divide o republicano do democrata aqui é frequentemente confusa — não é incomum que políticos locais mudem de partido, sem muita reação do eleitorado. Isso porque os eleitores tendem a escolher indivíduos em vez de partidos. Mas os resultados das eleições locais em 2016 e 2018 sugerem que as pessoas estão mudando de lado com menos frequência agora.
Quinze minutos de carro ao norte da fazenda dos Hayhursts está Terre Haute, cidade com população de cerca de 60 mil pessoas. É também o local onde fica uma grande prisão federal, que abriga sequestradores de aviões condenados, membros da gangue MS-13 e supremacistas brancos, como Dylann Roof, que matou nove pessoas que oravam em uma igreja da Carolina do Sul em 2015.
Como em outros lugares nos EUA, os cafés e restaurantes de Terre Haute colocaram mesas ao ar livre na tentativa de impulsionar seus negócios nesse desastroso ano de pandemia.
É aqui, em um banco de madeira em um quarteirão da avenida Wabash, que Pat Goodwin, democrata que está concorrendo a um dos principais cargos do condado — o de comissário (cada condado de Indiana tem três comissários, que, juntos, governam a região) — tenta explicar a dinâmica eleitoral local.
Ele diz que a cidade não está na “vanguarda da mudança” e sua divisão quase uniforme de residentes urbanos e rurais reflete bem o clima político do país. “Talvez seja parte da razão pela qual somos um termômetro.”
Questões como a proposta de uma nova prisão e um escândalo de suborno em uma rede pública escolar provavelmente serão grandes questões nas eleições locais no próximo mês. Mas na pesquisa presidencial, Goodwin, que trabalhou como engenheiro para a cidade por oito anos, acredita que houve um afastamento em relação a Trump.
“Ninguém previu a mudança que vimos nos últimos sete, oito meses devido ao fracasso absoluto do presidente na sua resposta à pandemia”, disse ele. “Muitas pessoas talvez não queiram ouvir isso; temos muitos apoiadores do presidente Trump. Mas os números não mentem. Ele fez um trabalho terrível.”
Goodman diz que há um entusiasmo crescente pelo candidato do Partido Democrata, Joe Biden, que não existia quando Hillary Clinton concorreu em 2016. Depois das duas vitórias de Barack Obama aqui, em 2008 e 2012, Donald Trump derrotou Clinton com ampla margem de 15 pontos percentuais — ou 6.002 votos.
“Vai ser extremamente apertado”, disse Goodwin. “Vai ser por pouco.”
O resultado pode ser decidido por eleitores como Kyla Brown, de 23 anos, que se formou em biologia no Instituto de Tecnologia Rose-Hulman em maio. Apesar dos estilos e mensagens contrastantes vindos das campanhas de Trump e Biden, ela ainda não decidiu em quem votará no próximo mês.
“É uma decisão muito difícil porque ambas as nossas escolhas não são ideais”, diz ela. “É incrível que estejamos onde estamos e termos esses candidatos que temos.” Ela está preocupada com a idade avançada de Biden, mas diz que os comentários de Trump são desanimadores. “Ele é muito rude e degradante para muitas pessoas”, diz ela.
Como muitas comunidades no Meio-Oeste, o passado socioeconômico recente do condado de Vigo foi marcado pelo declínio industrial. A gravadora Columbia Records tinha uma fábrica de prensagem de discos e um centro de distribuição aqui até 1982, que empregava 6,2 mil pessoas no auge. Enquanto a recessão de 2009 sufocava empresas em todo o país, a empresa sucessora da Columbia Records, BMG Columbia House, fechou em Terre Haute com a perda dos últimos 147 empregos que restavam.
O governo Trump foi criticado em alguns setores por cancelar as negociações de estímulo financeiro com os democratas na semana passada, o que poderia ter ajudado proprietários de pequenas empresas sem dinheiro a se recuperarem das restrições impostas pela pandemia de coronavírus.
Ele fez campanha como o candidato da lei e da ordem enquanto chamava os manifestantes do Black Lives Matters de “um símbolo de ódio” e alegava — falsamente — que Joe Biden iria parar de financiar a polícia.
Nos últimos meses, a cidade enfrentou um surto de roubos. Uma das vítimas é o Café Delish no lado norte de Terre Haute — uma nova caixa registradora que custou mais de US$ 1 mil (R$ 5,5 mil) foi roubada em um assalto em setembro.
Mas, quando se trata de escolher políticos, a autenticidade, em vez da lei e da ordem, é a prioridade para a proprietária Senka Delich. “Trump não é um político; ele não é educado. Ele é real”, diz ela. “Ele diz coisas que você mesmo diz, ou que eu digo quando estou brava.”
Delich diz que chegou aos Estados Unidos há 27 anos vindo da ex-Iugoslávia, depois que seu marido foi morto na guerra da Bósnia. Quando ela chegou, teve que tirar roupas do lixo para vestir a si mesma e suas filhas.
Mais importante, ela diz: “Trump ama seu país”.
O amor ao país e a perspicácia do presidente para negócios são qualidades que Delich compartilha.
“Cheguei aqui sem nada; não falava inglês. Agora tenho dois restaurantes e uma cafeteria. Trabalho de 16 a 17 horas por dia; adoro isso”, diz ela. “Se você quer trabalhar, você pode viver [o sonho americano].”
“Isso é um paraíso.”