A política baiana apresenta um mapa eleitoral nos vinte maiores municípios da Bahia com uma clara polarização e divisão de forças entre a base aliada do governador Rui Costa (PT) e a oposição liderada pelo prefeito demista ACM Neto (DEM).
O PT conquistou Lauro de Freitas e disputará o segundo turno em Feira de Santana e Vitória da Conquista contra o MDB, que mantém na Bahia aliança com o Democratas, liderado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto.
O DEM conquistou Salvador, Alagoinhas, Barreiras, Camaçari, Eunápolis e Guanambi, mostrando, portanto, muita força nas cidades com maior porte populacional. Apenas com o resultado do primeiro turno, é possível verificar que o DEM é o partido que irá governar a maior da população na Bahia (30,44%), seguido do PSD (17,52%), PP (14,19%) e o PT (14,19%).
A disputa entre DEM e PT ocorre paralela ao crescimento do PP e do PSD como forças de coalizão aliadas ao governador Rui Costa. Apesar disso, os partidos construíram algumas alianças nos municípios contra o PT. Isso fez com que adquirissem, nestas eleições, um tamanho político robusto e protagonismo suficiente para redesenhar um novo bloco político alternativo à polarização entre petistas e democratas.
O PP, liderado pelo vice-governador João Leão (pai do deputado federal Cacá Leão), e o PSD, liderado pelo senador Otto Alencar (pai do deputado federal Otto Alencar Filho), juntos conquistaram duzentas de 417 prefeituras. Nesta ferramenta do UOL de resultados das eleições é possível identificar a quantidade de prefeituras que os demais partidos obtiveram no primeiro turno.
Sem dúvida, as eleições ocupam uma centralidade na vida das pessoas, em especial, nos municípios médios e pequenos. As prefeituras têm sido o principal espaço institucionalizado de geração de oportunidades de trabalho e renda para a população. Apoiar publicamente com força e vigor uma candidatura pode ser um movimento decisivo para alcançar ganhos materiais e status político. Por isso, era esperado que, mesmo com a pandemia, as campanhas mantivessem mobilizações difíceis de conciliar com o isolamento social.
Na maior parte dos municípios baianos a pandemia foi a principal bandeira destas eleições com a população totalmente envolvida com as pautas relacionadas à saúde e emprego. Além do que, a crise sanitária “plasmou” para o ambiente eleitoral a perspectiva de valorização de políticos experientes com mandato e carreira política estabelecidas, deixando pouco espaço para outsiders defensores da “nova política”.
Vitória de Bruno Reis em Salvador
Se o clima no interior do estado foi de muita disputa política e embates entre os candidatos, a eleição na capital foi bastante tranquila. A vitória de Bruno Reis (DEM) já era esperada. Todas as pesquisas de intenção de voto apontavam o favoritismo do candidato da situação, apoiado pelo prefeito e ex-deputado federal, ACM Neto (DEM).
Reis obteve 66,2% dos votos válidos. A candidata do PT, Major Denice teve 18,86%, Pastor Sargento Isidório (AVANTE), 5,33%, Cezar Leite (PRTB), 4,65%, Olívia (PC do B), 4,49%, Hilton Coelho (PSOL), 1,39%, Bacelar (PODE), 0,92%, Celsinho Cotrin (PROS), 0,13% e Rodrigo Pereira (PCO), 0,04%.
Em relação ao comparecimento eleitoral, 1.395.106 pessoas foram às urnas no dia 15 de novembro em Salvador. Deste total, 87,03% votaram em algum dos candidatos na disputa, 3,36% votaram em branco e 9,61% anularam o voto.
A abstenção eleitoral na capital aumentou em relação ao pleito de 2016, que registrou 21,25% do total de eleitores soteropolitanos. Na eleição deste ano, subiu para 26,46%.
Nova via para a sucessão ao governo estadual em 2022?
O resultado na capital fortalece o nome de ACM Neto, que também é presidente nacional do DEM, para a disputa à sucessão do governo baiano em 2022. Mas é importante também voltar às atenções para outras movimentações no cenário político, bem como para a força de outras siglas partidárias.
Diante de um equilíbrio político multipolarizado, a depender das estratégias em jogo para 2022 e dos fatores nacionais envolvendo a montagem dos palanques para a disputa presidencial, PP e PSD terão grandes chances de definir o próximo vencedor nas eleições ao governo, marchando juntos ou separados. Será que estão dispostos a construir uma terceira via à polarização histórica DEM x PT? Vamos acompanhar.
* Cláudio André de Souza é professor adjunto de ciência política Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus dos Malês (BA).
Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.