quarta-feira 26 de junho de 2024
O ex-presidente Trump voltou ao Congresso americano pela primeira vez desde a invasão em 2021. No mesmo dia, particiopu de conversa com cerca de 90 CEO’s de grandes corporações onde prometeu mais corte de taxações — Foto: Anna Moneymaker / AFP
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segunda-feira 17 de junho de 2024 às 10:21h

Eleições EUA: Wall Street não vê ameaça e enche cofres de Donald Trump; entenda

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A princípio tímido, o que já foi batizado por parte do jornalismo político americano como o “retorno dos endinheirados” começou em março, quando Donald Trump alcançou a maioria dos delegados nas primárias do Partido Republicano à Casa Branca. Se intensificou desde então e arqueou sobrancelhas mais distraídas na última quinta-feira, quando o ex-presidente se reuniu, a portas fechadas, em Washington, com cerca de 90 CEOs de corporações americanas, entre eles Jamie Dimon (JP Morgan Chase), Jane Fraser (Citigroup), Brian Moynihan (Bank of America), Doug McMilon (Walmart), Charles W. Shcarf (Wells Fargo) e Tim Cook (Apple), em evento da Business Roundtable, associação dedicada ao lobby empresarial. Convidado, o presidente e candidato à reeleição Joe Biden não pôde ir, pois viajaria para a Cúpula do G7, na Itália.

O canto de sereia de Trump foi resumido, reservadamente, por um dos participantes do encontro, como um “retorno aos anos dourados de 2017”. O editor de Opinião da Bloomberg, Robert Burgess, foi menos curto e propositadamente mais grosso: “Os bilionários têm memória seletiva. Basta olhar a economia americana hoje para perceber que seu real objetivo é o retorno das esmolas dadas pelo ex-presidente aos ricos e o afrouxamento das regulamentações impostas por Biden.”

— Mas é natural a reaproximação com um dos prováveis presidentes dos EUA a partir de janeiro. Além disso, falo com o setor produtivo o tempo todo, e há a percepção de que seus interesses nunca foram tão contrariados quanto nos anos Biden — diz Erik Gordon, especialista em corporações e regulações antitruste da Universidade de Michigan.

A viagem de Trump a Washington foi recheada de simbolismos. Além da “conversa informal” de uma hora e meia com os CEOs, ele também retornou ao Capitólio pela primeira vez desde a invasão do prédio por manifestantes trumpistas em janeiro de 2021, que levou a um dos processos de impeachment que enfrentou. Além da mensagem de um partido unificado, o ex-presidente buscou, em um tour de estadista, aparar as arestas com alguns dos nomes mais ricos do país.

Despesas na Justiça

Dólares e números importam mais do que nunca na disputa acirrada, em que Biden e Trump aparecem em empate técnico na maioria das pesquisas e projeções — e em que o republicano usa fundos de campanha para pagar despesas na Justiça.

Até o fim de abril, Biden, detentor da caneta presidencial, celebrava folgada frente de US$ 35 milhões em relação a Trump. Vantagem fundamental para garantir a compra de mais espaço em canais de TV locais nos estados decisivos, menos “tribalizados” do que as redes de notícias 24h. No mês passado, no entanto, os republicanos anunciaram US$ 141 milhões em doações, das quais pouco mais de US$ 53 milhões recebidas nas 24 horas após a condenação judicial de Trump, inédita para um ex-presidente.

Um júri em Nova York decidiu no dia 30 de maio que o então candidato falsificou registros do pagamento de US$ 130 mil à ex-atriz pornô Stormy Daniels e assim encobriu escândalo sexual com potencial de afetar sua vitoriosa corrida à Casa Branca em 2016. A sentença sai mês que vem, pouco antes da Convenção Republicana, mas não o impede de seguir na disputa. E, ao que tudo indica, com mais dinheiro no bolso.

A campanha trumpista não anunciou o acumulado. Os democratas, por sua vez, não informaram o consolidado de maio, mas em nenhum mês chegaram perto do recorde adversário. Tudo indica que Trump ultrapassou o adversário no cômputo total. E, se a média das pesquisas registrou crescimento de Biden (de 2 a 4 pontos percentuais) após a condenação de Trump, no ambiente das grandes corporações, atesta o professor Gordon, acendeu-se o sinal amarelo de uma indesejada judicialização da disputa.

Trump e Wall Street se distanciaram no fim de 2020, quando o então presidente se negou a aceitar a derrota nas urnas para Biden — separação que parecia ter se acimentado após a invasão do Capitólio. À época, um de seus hoje mais entusiasmados eleitores no universo corporativo, o CEO do grupo Blackstone, Stephen Schwarzman, com patrimônio estimado em US$ 41 bilhões, reagiu publicamente contra a “afronta aos valores da democracia”. O investidor Bill Ackman clamou pela renúncia do republicano. E Kenneth Griffin classificou o político como “o loser em pessoa”.

Pois os dois bilionários, informa o site Politico, consideram anunciar seu apoio e despejar dinheiro na versão 2.4 de Trump. Também são esperados Bernie Marcus, da Home Depot, Larry Ellison, da Oracle, e Cantor Fitzgerald, da Howard Lutnick.

Em jantar realizado no fim do mês passado, em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, Trump prometeu, revelou o Washington Post, a 20 líderes da indústria do petróleo que, se eleito, apressará processos de aquisições de empresas e derrubará medidas de proteção ambiental aprovadas por Biden. A moeda de troca seria o derramamento de US$ 1 bilhão na campanha republicana, que nega o toma lá dá cá.

Até mesmo em bastião tradicionalmente democrata, o Vale do Silício, a investida republicana rendeu frutos, ainda que Biden lidere com folga as contribuições anunciadas. Na semana passada, uma ação de campanha coordenada pelo investidor David Sachs em São Francisco rendeu pelo menos US$ 12 milhões a Trump. Uma das principais motivações seria a atuação de Lina Khan, comandante da poderosa Comissão Federal de Comércio, vocal defensora da aplicação de leis antitruste contra Google, Facebook, Apple e Amazon. Foi apelidada pelas Big Tech de Darth Vader.

O argumento público dos bilionários para reconsiderarem Trump é a preocupação com os rumos da economia com Biden, marcado pela alta da inflação na primeira metade de seu governo, e o receio de aumento do gasto público. Mas analistas dos dois lados do espectro político concordam que o que se deseja mesmo é menos impostos e regulamentações para os negócios.

Mais especificamente: a manutenção da Lei de Redução de Impostos e Aumento de Empregos, aprovada por Trump no “ano dourado” de 2017, que expira justamente no ano que vem. Democratas têm expressado seu desejo de deixar a medida caducar. Para eles, ao diminuir a taxação sobre lucros das empresas, beneficiou-se de forma desproporcional a parcela mais rica da população e aumentou-se o déficit fiscal do país. Trump prometeu mais cortes.

Lucros de 44%

Estudo do Institute on Taxation and Economic Policy (ITEP) divulgado mês passado mostra que as 296 maiores empresas do país economizaram US$ 240 bilhões entre 2018 e 2021 por conta da alteração. Nesse período, lucraram 44% a mais e pagaram 16% a menos ao governo federal. Porém, com a pandemia de Covid-19 no meio, Trump deixou o governo com uma redução de 2,7 milhões de postos de trabalho, de acordo com o Banco Central americano. Algo somente registrado na Grande Depressão, em 1929.

Em encontros com empresários, os democratas têm batido em outras três teclas: a de que os índices econômicos são especialmente positivos; de que o setor produtivo precisa parar de aumentar o preço dos produtos; e de que o pleito este ano não é sobre modelos distintos de direção da economia, mas da sobrevivência da democracia.

— Mas boa parte do setor produtivo vê a invasão do Capitólio como um protesto político que saiu dos trilhos. Não creem que a democracia está ou foi ameaçada por Trump. Onde estavam os tanques, perguntam — diz Gordon.

À rede NBC, Kathy Wylde, CEO da Parceria por Nova York, que reúne lideranças de negócios da cidade, deu a senha para o desafio de Biden: “A ameaça ao capitalismo por Biden para nós é mais preocupante do que o risco à democracia por Trump”.

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