O período eleitoral no país ainda mal começou, mas a polarização já tomou conta do debate no cenário brasileiro. Enquanto as duas principais candidaturas à presidência da República seguem trocando farpas e acusações, uma pesquisa do Instituto Ideia revelou que sete a cada dez mesários voluntários defendem a adoção de mais medidas de segurança pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Entre os entrevistados, 75% pedem maior policiamento ou seguranças particulares nas sessões eleitorais, seguido por aumento no número de fiscais (5%), ações contra os bocas de urna (4%) e revista dos eleitores (2%). Inédito, o levantamento apontou ainda que 33% dos mesários estão preocupados com o trabalho na eleição deste ano, que acontece em outubro. Além disso, 30% temem ser atacados durante a votação.
Para o CEO do instituto, Maurício Mouro, os resultados trazem um alerta para que o TSE adote alguma medida preventiva nas próximas eleições. “Não há um comparativo com outro levantamento para mostrar a evolução, mas nas respostas sobre problemas que os mesários tiveram em outras eleições e a expectativa nesse pleito me surpreendeu muito. Os números são superlativos, há muitas pessoas preocupadas com a segurança e eventos negativos ao longo do processo”, pontuou.
Conforme o levantamento, as situações que os mesários têm mais medo são ameaças, ataques físicos e confrontações verbais. Outro dado que preocupa é que 20% dos entrevistados acreditam que haverá fraude, resultado dos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o sistema eleitoral. “A própria urna se tornou uma ferramenta de polarização, que é uma coisa que não aconteceu em outros pleitos. Aumentou o nível de desconfiança sem nenhum evento concreto que justificasse”, complementou o especialista.
Resultados em outras eleições
A pesquisa do Instituto Ideia também questionou os mesários sobre situações vividas em eleições passadas. Segundo os dados, 38% dos entrevistados nunca tiveram medo de trabalhar em um pleito. Nas últimas votações, 22% relataram já ter tido algum problema enquanto atuavam como mesários. Os principais foram confrontações verbais, hostilidade, ameaças, exposição de dados pessoais, assédio moral, ataque com armas e assédio na internet.
Quase 193.000 mesários participaram das eleições de 2018, segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), sendo cerca de 190.000 voluntários. Conforme a entidade, foram registradas 133 ocorrências pela Polícia Militar, com 91 conduções, durante o primeiro turno. Porém, não há informações se os casos ocorreram com mesários ou entre os eleitores. Já no segundo turno, o número teve alta de 62,4%, saltando para 216. Ao todo, 41 pessoas foram conduzidas pela corporação e ocorreram 71 registros de apreensão de material.
O TRE lembrou ainda que implantou para as eleições deste ano o Gabinete Institucional de Segurança, que conta com membros do tribunal e das forças de segurança de Minas Gerais e do governo federal. “Entre os temas a serem discutidos e definidos está a garantia e integridade dos locais de votação, especialmente daqueles que exercem as relevantes funções de mesário”, informou o órgão.
A pesquisa do Instituto Ideia foi realizada entre 28 de abril e 5 de maio de 2022 com 651 mesários de todo o país. A margem de erro é de 2,85 pontos percentuais para mais ou para menos.
Garantia da transparência e confiabilidade
Já a chefe do Núcleo de Mesários do TRE-MG, Juliana Dornelas, acrescentou que os mesários são essenciais para a democracia. “Eles são responsáveis por verificar a confiabilidade e garantir a transparência de todo o processo. Seguem procedimentos, conseguem observar os lacres nas urnas, fazem a conferência dos documentos que saem”, enfatizou.
As convocações dos voluntários começam no dia 5 de julho e, por isso, quem quer participar do processo neste ano deve fazer a inscrição antes desse prazo. “Temos uma modalidade de mesário voluntário universitário, que tem outras vantagens. As horas de trabalho e treinamento podem ser computadas como horas complementares nas faculdades conveniadas com o TRE”, explicou.
Quem é mesário ganha dois dias de folga por eleição trabalhada, além de vale-alimentação. “Também pode contar como critério de desempate em concursos, alguns municípios em Minas possuem uma lei que isenta quem atuou como mesário na inscrição de concurso”, finalizou.