Apesar de ainda não ter traçado toda a estratégia para atuação na disputa municipal do próximo ano, o presidente Lula da Silva (PT) já definiu que vai mergulhar de cabeça em, pelo menos, duas campanhas: a de São Paulo e a de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. De acordo com Sérgio Roxo, do O Globo, lideranças petistas revelaram, a expectativa é que o mandatário se envolva diretamente em locais onde o confronto com o bolsonarismo for claro.
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Esse é um dos elementos que fará com que Lula se engaje na campanha do pré-candidato do PSOL em São Paulo, o deputado Guilherme Boulos, que terá o apoio do PT. Uma das principais estratégias do parlamentar é vincular o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), a Jair Bolsonaro. Nunes busca uma aliança com o ex-presidente, e os dois já tiveram encontros. Há ainda a possibilidade de o ex-ministro Ricardo Salles ser o candidato de Bolsonaro.
No segundo turno da eleição presidencial, Lula bateu Bolsonaro na capital paulista por 53,54% a 46,46% dos votos válidos. Uma vitória de um candidato vinculado ao governo federal na maior cidade do país teria impacto na disputa política travada com o grupo do ex-presidente.
Diante desse cenário, a previsão é que Lula participe de eventos e faça gravações para propaganda eleitoral da campanha de Boulos. O PSOL e o PT de São Paulo trabalham para marcar ainda este ano uma agenda na cidade com as presenças do presidente e do pré-candidato. No dia 25 de outubro, Boulos se reuniu com Lula no Palácio do Planalto e divulgou o encontro nas redes sociais. O presidente replicou a postagem.
Dentro da campanha de Boulos, o desejo é explorar ao máximo a ligação com Lula, diferentemente do que ocorreu na eleição de 2020. Na ocasião, o líder sem-teto não se vinculou diretamente ao petista nem no segundo turno, quando o PT o apoiou formalmente. O candidato do PSOL mostrou Lula apenas em uma propaganda em que também apareciam Flávio Dino, Marina Silva e Ciro Gomes. O petista, na ocasião, ainda sofria os reflexos políticos de condenações na Operação Lava-Jato, depois revistas.
Dupla motivação
Além da motivação de polarizar com o bolsonarismo, Lula tem uma relação próxima com Boulos. No ano passado, o petista participou diretamente da negociação que fez com que o líder sem-teto desistisse de concorrer ao governo do estado para aderir à candidatura do petista Fernando Haddad. O acordo incluiu o compromisso de que o PT o apoiaria na eleição municipal.
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Na disputa pela prefeitura de 2020, Lula tentou, cinco dias antes do primeiro turno, fazer com que o então candidato do PT, Jilmar Tatto, diante de seu mau desempenho nas pesquisas, recomendasse o voto em Boulos. Tatto, porém, resistiu.
Já na eleição de São Bernardo do Campo, cidade onde iniciou sua vida política como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula considera questão de honra a conquista do município, que foi berço da fundação do PT.
No segundo mandato (2007-2010) de Lula, o PT também montou uma operação especial para vencer na cidade. Com uma das campanhas mais caras do país na época, Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho, foi eleito prefeito em 2008.
A cidade passou a receber, então, vastos recursos federais. Em 2011, por exemplo, já com Dilma Rousseff na Presidência, foi o município brasileiro mais beneficiado por repasses do governo federal por meio de convênios. Foram R$ 122 milhões (em valores da época), enquanto São Paulo recebeu R$ 52,7 milhões; e o Rio, R$ 78,8 milhões.
Este ano Lula tem acompanhado as articulações do pré-candidato do PT, Luiz Fernando Teixeira, que foi inclusive recebido no Palácio do Planalto, em agosto. O Sindicato dos Metalúrgicos vai se engajar na campanha.
Na cidade do ABC, não há horário eleitoral. Por isso, a participação de Lula deve se concentrar na sua presença em eventos. O atual prefeito é o tucano Orlando Morando, opositor radical do PT.
— É bem provável que o presidente participe das campanhas em que o nível de polarização com a extrema-direita e o bolsonarismo seja forte, também nas maiores cidades e nos locais onde exista acordo político entre o PT e outras forças — resume o senador Humberto Costa (PT-PE), à frente das articulações eleitorais do PT.
É provável que Lula se empenhe ainda na campanha do petista Emídio de Souza em Osasco, na Região Metropolitana. Deputado estadual em São Paulo, ele é amigo de Lula. Após a eleição, foi cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, posto que ficou com Márcio Macedo.