A deputada e ex-líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), disse à CPI das Fake News, nesta quarta-feira, que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é um dos coordenadores de estrutura montada pelo grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para fazer ataques virtuais. Segundo a deputada, Eduardo está “amplamente envolvido” no esquema, do qual também fazem parte assessores dele e de outros deputados federais e estaduais, além de integrantes do Planalto.
A deputada foi convidada a depor na comissão de inquérito e, antes de começar a ser questionada, fez uma apresentação com dados levantados nas redes do deputado e do presidente por uma ferramenta criada pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, chamada Botometer, que identifica robôs no Twitter. O levantamento foi feito a pedido dela.
— O que eu vou mostrar aqui é fruto de uma investigação que eu comecei a fazer com muito mais intensidade depois que eu virei o alvo de ataques coordenados na internet. Inclusive os laudos apresentados são assinados por perito renomado —disse Joice.
Entre os diversos dados, em uma tela na CPI, a deputada exibiu reproduções de um grupo em uma rede social chamado “SECRETO2 G.O”, no qual, segundo ela, os integrantes coordenam os ataques nas redes, incluindo um dos assessores de Eduardo na Câmara. O levantamento apresentado pela deputada aponta que, somadas, as redes de Eduardo e Jair são seguidas por mais de 1,8 milhão de robôs, que seriam usados para impulsionar as informações falsas e difamatórias.
— Nós temos quase dois milhões de robôs em apenas duas contas de Twitter. Eu quero crer que o presidente Bolsonaro não sabe disso. Mas pelo que vocês vão ver nas conversas do grupo do gabinete do ódio, o deputado Eduardo Bolsonaro está amplamente envolvido e é um dos líderes desse grupo que chamamos milícia digital.
O grupo chamado de “gabinete do ódio” é, supostamente, formado por assessores do Palácio do Planalto ligados ao núcleo duro da família Bolsonaro. Eles seriam encarregados de coordenar ataques virtuais e disseminação de notícias falsas nas redes sociais.
A deputada também disse que Carlos esteve envolvido com o grupo, mas se afastou. Segundo ela, os ataques são orquestrados. As postagens são programadas em dia e hora por uma agenda.
— As instruções são passadas por um grupo. São vários deles, mas um vou abrir para vocês. É um grupo do gabinete do ódio que tantos dizem que não existe. Vocês vão ver prints das conversas desses grupos. As instruções são passadas, principalmente pelo Eduardo e assessores ligados a ele. O Carlos [Bolsonaro] também teve muita atividade, mas agora ele está mais com o freio de mão puxado — afirmou a deputada.
Joice também sugeriu que a comissão siga “o rastro do dinheiro” para saber quem paga pela manutenção da estrutura, já que assessores estão envolvidos.
— De onde vem esse dinheiro? Não estamos falando de trocado, estamos falando de milhões — disse a deputada.
Durante a apresentação, ela afirmou que o grupo na rede social, que era protegido por senha, foi notificado de que estava sendo exposto por ela e foi excluído. Joice disse que todas as análises trazidas por ela, incluindo os nomes citados e como estão envolvidos no esquema, serão entregues à comissão.
Abin paralela
Questionada sobre quais recomendações daria para ajudar nas investigações da CPI, Joice afirmou que os deputados deveriam convidar o ex-ministro da Secretaria de Governo Gustavo Bebianno. A deputada disse que Carlos Bolsonaro teve a intenção de criar uma “Abin paralela”, em referência à Agência Brasileira de Inteligência, o que intensificou o atrito entre Bebianno e o filho do presidente.
– Tem muito para ser investigado. Acho importante também ouvir o ex-ministro Bebianno, que acompanhou muito de perto o modus operandi que se desenrolava dentro desse núcleo de comunicação. Inclusive ele me deu uma informação, e eu estou dando essa informação porque ele falou claramente, com testemunha, e disse que confirmaria à CPI. Houve uma tentativa, no início, de que o Carlos tentou montar uma “Abin paralela” para que houvesse grampo de celular, dossiês feitos. E isso teria criado um atrito. E o nome foi esse, uma Abin paralela – disse Joice.
Joice também foi questionada pela relatora da CPI, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), sobre quem participa do núcleo econômico do “gabinete do ódio”.
– Uma parte a gente já sabe. É dinheiro público que vem de deputados para pagar assessores que trabalham, que são indicados para isso. Os assessores entram para isso – afirmou a deputada.
Joice disse ainda que, no núcleo político da estrutura, há ainda altos funcionários do governo, incluindo Filipe Martins, assessor especial da presidência da República.