domingo 28 de abril de 2024
O ex-comandante do Exército general Freire Gomes e o ex-presidente Jair Bolsonaro — Foto: Alan Santos/PR
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terça-feira 19 de março de 2024 às 10:00h

E se o general Freire Gomes desse a ordem?

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Os comandantes de área, ou seja, das regiões militares, obedeceriam a ordem do general Freire Gomes caso ela fosse favorável ao suposto golpe? Essa pergunta foi respondida a Míriam Leitão, do jornal O Globo, por um ex-comandante de área. “Uma ordem ilegal não seria cumprida”. Por mais importante que tenha sido a atuação do general Freire Gomes, é um equívoco pensar que um homem segurou a instituição, segundo avaliação que eu ouvi. Os comandantes de área são poderosos porque têm tropas. Eles é que fariam o golpe andar, se houvesse a quebra da ordem constitucional. Um almirante, que comandava tropas da Marinha em 2022, me disse que o almirante Garnier não determinou movimentação de tropas. Por que ele ofereceu apoio e não acionou seus subordinados? Há muito ainda a entender dessa intentona de Bolsonaro.

Foi ruim a declaração do presidente Lula de que Bolsonaro não deu golpe porque foi um “covardão”. Isso pode gerar material para as redes sociais, mas o entendimento da frase pode ser pelo oposto. Deveria, então, ter tido a coragem? Esse não é um tempo bom para ambiguidades e escorregões. No que Lula tem toda razão é que subiram muito de patamar as evidências do crime de Bolsonaro de usar a estrutura de Estado, a presidência da República, para conspirar contra a democracia, assediar militares a que o seguissem. E o que deteve a trama feita diretamente do Palácio do Planalto foi uma rede muito mais complexa de pessoas, eventos e barreiras institucionais.

O andar das investigações permitirá entender cada vez mais os eventos recentes. Como disse Lula, o que parecia ser “insinuação”, hoje já se sabe com certeza. Mas tudo é muito tênue. Relações pessoais e familiares ligam pessoas que estiveram há pouco mais de ano em campos opostos e em campanhas de ódio estimuladas pelos golpistas. Um exemplo dessa mistura entre a caserna e a casa está na relação entre Braga Netto e Batista Jr. O brigadeiro e o general trabalharam juntos na Secretaria de Assuntos Estratégicos, no Planalto, no governo Fernando Henrique. Braga Netto era muito amigo do pai de Batista Jr., que também comandou a FAB. Quando Braga Netto dá a ordem à milícia digital — “senta o pau no Batista”, “inferniza a vida dele e da família” — ele não disparava contra um inimigo. Trabalhara com o brigadeiro, era amigo da família.

O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, que deu informações valiosas em seu depoimento, e que foi dique de contenção do golpismo, recebeu ontem ataques do ex-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. “Ou cometeu crime de prevaricação ou é um caluniador”, disse Ciro. Ora, ora. Quem tem que se explicar é o senador Ciro Nogueira. Tudo isso acontecia diante dos seus olhos e ele nada via? Foi chefe da Casa Civil de agosto de 2021 a dezembro de 2022, justamente na escalada golpista. Estava no gabinete ministerial mais importante do Planalto, é político experiente, com adesões a governos de esquerda e de direita, e nada percebeu sobre minutas, reuniões, conspirações? O que queria quando insinuava ameaças aos adversários de Bolsonaro com seu patético “tic tac, tic tac”? Se nada viu, não é o político sagaz que diz ser. Se viu e nada disse, recolha para si as ofensas que disparou.

Há no mandato Lula uma aflição em relação ao desempenho do governo que não se refere apenas ao último número da popularidade. Quando caiu a aprovação, isso aumentou o nível de preocupação, mas a ideia é a de que se o governo não for bem-sucedido, há o risco de fortalecimento da extrema direita. Claro que o projeto de poder do PT é de ter mais um mandato, mas muita coisa depende do desempenho desta administração. Na área econômica, essa ansiedade por resultados pode levar ao seu oposto, se a decisão for usar o descontrole de gastos para tentar forçar o crescimento, leia-se pressão sobre o ministro da Fazenda. Fernando Haddad já se antecipou às críticas que sempre recaem sobre a Fazenda. Ao apresentar a agenda do ano, disse que, em 2023, o gasto real aumentou: 80% com o Bolsa Família, 16% com saúde, 20% com educação, 51% na assistência social, 72% de investimento público.

Lula falou ontem da desordem da máquina pública que recebeu. É verdade. É natural, porém, que o eleitor queira soluções mais imediatas para os problemas urgentes que enfrenta na educação, saúde, qualidade de vida, combate à violência. O governo precisa realizar aquilo que prometeu na campanha. Isso é parte da defesa da democracia.

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