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terça-feira 6 de agosto de 2019 às 12:38h

Desvalorização de moeda chinesa poderia causar “guerra cambial”

POLÍTICA


O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caía 2,4%, aos 100.187 pontos às 14h20 desta segunda-feira, 5.  No mesmo horário, o dólar subia 1,6% aos 3,95 reais, no maior valor da moeda durante o pregão desde o dia 31 de maio. O principal motivo foi a desvalorização da moeda chinesa, o yuan, em sinal de retaliação do governo Xi Jinping às novas tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos.

O yuan atingiu o patamar de 7 para 1 com relação ao dólar (um dólar = sete yuans), a maior desvalorização em mais de dez anos. O movimento foi visto pelo mercado financeiro como uma retaliação do país asiático aos Estados Unidos em meio à escalada de tensões na guerra comercial entre as duas nações. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou o Banco Central Chinês de “manipulação cambial”.

O governo chinês tem uma certa ingerência sobre a taxa de câmbio. Na prática, a moeda é influenciada pelos cenários globais de investimento, mas com um controle do banco central para que ela não ultrapasse certo níveis. A desvalorização do yuan derrubou mercados pelo mundo. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones operava em queda de 2,7% e a Nasdaq, de 3,2%. Na Europa, a bolsa de Londres caía 2,5% e a francesa, 2,2%.

“A China permitiu que o yuan se desvalorizasse fortemente. Isto aumenta o potencial de venda da China e diminui o dos Estados Unidos, porque o dólar fica mais forte, encarecendo os produtos americanos; e o yuan fica mais barato no mundo todo, baixando o preço dos produtos chineses”, afirma Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.

Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram novas tarifas adicionais aos produtos chineses. Um dia antes, representantes dos dois países se encontraram para negociar um acordo para combater a guerra comercial, o que não acontecia desde o G20, em junho.

Pelo Twitter, Trump criticou a medida nesta segunda. “A China baixou o preço de sua moeda para quase uma mínima histórica. Isso se chama manipulação cambial”, afirmou ele. Além disso, ele também reclamou da postura do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos). “Você está vendo Federal Reserve? Essa é uma grande violação que vai enfraquecer a China ao longo do tempo!’, acrescentou o presidente de forma irônica.

Na semana passada, o Fed cortou a taxa de juros no país pela primeira vez desde a crise financeira de 2008, em 0,25 ponto percentual. Trump, no entanto, cobrava uma redução mais intensa de 0,5 ponto. “Ele reclama porque o Fed cortou só 0,25 ponto e agora não há como o dólar se defender — vai ter que esperar até a próxima reunião do Fed (os encontros ocorrem a cada 45 dias)”, diz Nehme.

Entenda a guerra comercial

A tensão comercial entre China e Estados Unidos começou em meados de 2018. Trump foi eleito com uma bandeira forte contra os produtos “made in China”, acusando o país asiático de prejudicar a indústria nacional e gerar desemprego.

O ápice ocorreu quando o presidente anunciou tarifas de 25% sobre 50 bilhões de dólares de alta tecnologia chineses e 10% sobre 200 bilhões de dólares de outras mercadorias, em março do ano passado. Houve retaliação chinesa e a partir de então os dois países iniciaram uma queda de braço que, por envolverem as duas maiores potências econômicas do globo, passou a gerar consequências em todo o mundo. A situação esfriou no fim de 2018, com o início de negociações para uma trégua.

Quando a guerra comercial parecia perto de uma solução, Trump anunciou em maio deste ano a elevação de 10% para 25% das tarifas sobre produtos de alta tecnologia chineses. O motivo, segundo o presidente, foi o fato da China ter supostamente quebrado o acordo comercial que os dois países estavam negociando. A medida teve retaliação chinesa poucos dias depois, com aumento das tarifas a produtos dos Estados Unidos, estimados em 60 bilhões de dólares. Seguiu-se um período maior de tensão, até que, durante o G20, foi anunciada uma trégua e o reinício das negociações para um acordo.

Na semana passada, no entanto, após encontro de representantes dos dois países, Trump anunciou a imposição de tarifas adicionais de 10% sobre 300 bilhões de dólares de produtos chineses, a partir de 1° de setembro. Segundo o presidente americano, apesar das conversar estarem avançando, a China não cumpriu sua promessa de comprar produtos agrícolas dos Estados Unidos em grande quantidade. Nesta segunda, a China negou a acusação. De acordo com a mídia estatal, a afirmação de que o país não teria comprado produtos agrícolas de Washington foi “sem fundamento”. Horas depois, no entanto, o Ministério de Comércio do país informou que de fato companhias nacionais pararam de comprar produtos agrícolas dos Estados Unidos.

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