Em Detroit, Donald Trump deve ampliar as declarações feitas previamente nas redes sociais de que, caso não o apoie, o sindicato dos trabalhadores automotivos está frito.
O ex-presidente ficará de fora segundo Luciana Rosa, da RFI, do segundo debate eleitoral entre candidatos às primárias que acontece nesta noite na Califórnia.
Segundo uma publicação nas redes sociais da empresa, Trump deve falar aos trabalhadores – não sindicalizados – da Drake Enterprises, uma fornecedora de peças automotivas em um subúrbio de Detroit.
Com seu discurso, ele deve criticar as políticas econômicas e os incentivos de Biden para promover veículos elétricos. Políticas de incentivo do governo democrata estão por trás da mudança histórica da indústria automotiva em direção aos veículos elétricos.
Durante sua gestão, Trump reduziu os impostos para as empresas do país, incluindo as gigantes automobilísticas, e nomeou pessoas para o Conselho Nacional de Relações Trabalhistas que, segundo os sindicatos, enfraqueceram as proteções aos trabalhadores.
Paralisação histórica
Esta já é considerada uma greve histórica, uma vez que participam dela funcionários de três grandes empresas do setor: a General Motors, a Ford e a Stellantis.
Sem precedentes também é a participação de um presidente americano, no exercício da função, em um piquete.
“Vocês merecem aquilo pelo qual se esforçaram para conseguir, e vocês merecem muito mais do que o que estão recebendo como pagamento agora”, disse o presidente Joe Biden, com um megafone em punho em meio aos sindicalistas, fazendo eco aos pedidos de aumento salarial dos trabalhadores da indústria automotiva em Detroit.
Na última sexta-feira, o presidente da UAW, a União dos Trabalhadores Automotivos, Shawn Fain convidou o presidente Joe Biden para se juntar ao piquete.
“Convidamos e encorajamos todos os que apoiam a nossa causa a juntarem-se a nós no piquete, desde os nossos amigos e familiares até ao presidente dos Estados Unidos”, disse Fain ao anunciar que 38 fábricas de 20 diferentes estados se uniriam à greve.
Horas depois, o Biden anunciou a viagem a Michigan, dizendo que o faria em solidariedade aos homens e mulheres que lutam para ter parte do valor que eles ajudam a criar.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, garantiu aos jornalistas na segunda-feira que o presidente não interferiria nas negociações entre sindicalistas e montadoras, mas disse que a viagem mostraria que Biden é o presidente mais ‘pró-sindicatos’ da história” do país.
Quando começou a greve e por quê?
A greve começou depois que o contrato do sindicato com as montadoras expirou, à meia-noite do dia 14 de setembro. Em retaliação à negativa das empresas em conceder os aumentos salariais e diminuição da jornada de trabalho reivindicados, 13 mil trabalhadores entraram em greve. Hoje, cerca de 13% dos 146 mil membros do sindicato estão de braços cruzados.
Assim como ocorreu com o sindicato dos roteiristas, o UAW aponta uma disparidade entre aumentos salariais dos CEOs e os lucros que as três montadoras obtiveram nos últimos anos em relação aos ingressos dos trabalhadores.
Greve se transforma em uma batalha eleitoral
Apesar de não ter dado um longo discurso em frente aos trabalhadores reunidos em Michigan, a simples presença de Biden tem um peso muito forte em sua campanha eleitoral para a reeleição.
Isso porque aquele candidato que conseguir o apoio dos sindicalistas abre uma vantagem na preferência dos eleitores em estados-chave, como Michigan.
Junto a outros cinco estados, Michigan faz parte do famoso Cinturão da Ferrugem. Esta região ficou assim conhecida por conta das fábricas que ficaram abandonadas, uma marca da decadência econômica que sucedeu o apogeu industrial experimentado até metade do século 20.
Em 2020, Biden obteve a sua maior vantagem em um estado pêndulo – nem Repulicano, nem Democrata – com 2,8 por cento a mais que Trump, justamente em Michigan. Nas eleições de 2016, o republicano levou a melhor nesse que é considerado um dos colégios eleitorais decisivos. O apoio do sindicato dos trabalhadores automotivos foi chave nessa vitória.
Toda essa atenção aos sindicatos acontece logo após o lançamento da “Iniciativa global Lula-Biden para o avanço dos direitos trabalhistas na economia do século 21”, feito na semana passada.
Ao comentar a parceria inédita com o Brasil para defender os direitos dos trabalhadores, o presidente americano ressaltou que contar com um sindicato forte era essencial para combater a desigualdade.
“É por isso que eu estou orgulhoso que a minha administração esteja caracterizada por ser a mais pró sindicatos da história”, disse Joe Biden em Nova York.