Declarações e atitudes do presidente brasileiro Jair Bolsonaro causam “grande preocupação” na opinião pública europeia e podem prejudicar o acordo entre Mercosul e União Europeia, segundo o eurodeputado Nicola Danti, membro da delegação do Parlamento Europeu para relações com o Mercosul.
O parlamentar, que integra o grupo Renew Europe (centro-direita), afirma que as declarações de Bolsonaro servem como munição aos opositores do acordo.
“É uma grande desculpa para muitos dos que não querem o acordo. Dizem ‘se ele tivesse outra política para mulheres, outra política para a Amazônia, outra política de direitos humanos’.”
“As relações com o presidente brasileiro são certamente problemáticas. Suas afirmações e posições são vistas na Europa e em quase todos os governos europeus com preocupação”, afirmou Danti.
Acertado em junho do ano passado, o texto está em fase de revisão e ainda precisa ser aprovado por unanimidade pelo Conselho Europeu (que reúne chefes de governo dos 27 países membros) e pelo Parlamento Europeu, para que possa ser implantado provisoriamente.
Para que entre oficialmente em vigor, precisa também da aprovação de todos os 27 Parlamentos nacionais dos membros da UE. Se um dos países disser não, volta-se à estaca zero.
“Não posso dizer que há hoje maioria no Parlamento para aprovar o acordo”, disse Danti em entrevista a um grupo de jornalistas do Mercosul, nesta quarta (19). O apoio varia muito de acordo com o país de origem dos parlamentares.
Segundo o eurodeputado, opinião pública e diplomacia europeia veem com apreensão declarações do presidente que “sempre contradizem o que está escrito” no acordo Mercosul – UE.
O parlamentar citou como exemplo cláusulas vinculantes como o compromisso de manter-se no Acordo de Paris e cumprir suas metas.
“Não vou criticar a política de outros países, mas, quando vemos, a nível brasileiro, a falta de atenção às demandas ambientais, é um elemento que vai contra o que está sendo defendido no acordo, de desenvolvimento sustentável, tutela ambiental, preservação das florestas. Uma vez ratificado o tratado, isso se tornará obrigatório.”
O anúncio de acordo entre os dois blocos no ano passado “é só o começo do processo, que terá que ser levado adiante com a opinião pública”. Preocupações protecionistas, segundo o deputado, sustentam “muitos inimigos do lado europeu e mesmo nos países do Mercosul”.
O membro da delegação europeia disse ouvir constantemente críticas ao acordo no Brasil e na Argentina, principalmente da indústria, preocupada com a concorrência europeia.
Por Ricardo Della Coletta e Ana Estela de Sousa Pinto / Folhapress