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domingo 21 de maio de 2023 às 08:27h

De chofer a guardião: como Nelson Piquet se aliou a Bolsonaro

NOTÍCIAS, POLÍTICA


A amizade entre Jair Bolsonaro (PL) e o ex-piloto da Fórmula 1 Nelson Piquet começou com um tuíte. Em maio de 2019, o então presidente fez uma postagem na qual prometia a construção de um novo autódromo no Rio de Janeiro com o nome Ayrton Senna. Filho de Piquet, o piloto Nelsinho não gostou da ideia e o respondeu lembrando que a antiga pista de Jacarepaguá já tinha nome — e era o do pai dele. “Não vejo o porquê disso. Senna foi o único campeão mundial do Brasil?”, questionou. A reclamação chegou a Bolsonaro, que convidou o filho e o pai para um encontro no Palácio do Planalto, dando início segundo Eduardo Gonçalves, do O Globo, a uma duradoura relação.

Mais do que um admirador declarado de Bolsonaro, Piquet se tornou um dos maiores doadores na campanha de 2022 (R$ 501 milhões); chofer, ao conduzir o Rolls-Royce presidencial durante o 7 de Setembro de 2021; e, mais recentemente, o guardião do acervo presidencial.

Foi para a propriedade do ex-piloto — a Fazenda Piquet, no Jardim Botânico, região nobre de Brasília — que o estafe de Bolsonaro enviou 175 caixas, com mais de nove mil presentes recebidos nos quatro anos de mandato. A propriedade de 91 hectares, que conta com pista de pouso para aeronaves e uma escola de equitação, fica a menos de cem metros do condomínio para onde o ex-presidente se mudou com a família. À Polícia Federal, Bolsonaro afirmou que o galpão foi “emprestado”, sem custos.

Entre os itens que foram guardados no depósito de Piquet estavam as joias sauditas recebidas de autoridades árabes e que agora estão sob investigação da PF. Mas há outros presentes que mostram a proximidade entre os dois: um capacete de Piquet com a sua assinatura (“Para o meu presidente”), uma caneca autografada e uma estatueta do ex-piloto feita de resina.

A troca de favores, porém, começou antes. Em julho de 2019, dois meses após o encontro no Planalto, Piquet e o filho convenceram o então mandatário a encampar a ideia de trazer a Fórmula E (de carros elétricos) ao Rio de Janeiro. Bolsonaro chegou a assinar uma carta em apoio ao projeto, que acabou não vingando. A primeira corrida do tipo em solo brasileiro ocorreu em março, no Anhembi, em São Paulo. Mas isso não impediu que a relação entre os dois se estreitasse.

— Não sei como (a relação) começou, mas, de uma hora para a outra, passei a vê-lo em vários eventos do governo — contou o senador Hamilton Mourão (Republicanos-DF), ex-vice-presidente da República.

Eduardo Pazzuello (PL-RJ), deputado e ex-ministro da Saúde, disse que Piquet “passou a frequentar algumas agendas”:

— Até consegui um autógrafo — lembra.

Procurado por telefone e e-mail, o tricampeão de Fórmula 1 não respondeu ao jornal O Globo.

Além de atuar como “embaixador” da Fórmula E, Piquet fundou há mais de 30 anos a empresa Autotrac Comércio e Telecomunicações, especializada em rastreamento de veículos por satélite. Uma das únicas que fornecem esse tipo de serviço no país, a empresa mantém um contrato de R$ 3,5 milhões anuais com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ligado ao Ministério da Agricultura, desde 2019.

O contrato foi celebrado sem licitação no primeiro ano do governo Bolsonaro, e recebeu dois aditivos em 2020 e 2021, que totalizam R$ 6,6 milhões. Há uma cláusula no documento prevendo que ele “pode ser prorrogado por interesse das partes até o limite de 60 meses” — ou seja, até cinco anos.

Filho de um ex-ministro da Saúde e deputado cassado na época da ditadura militar, Piquet sabe que o relacionamento próximo com governantes destrava negócios no Brasil. Ele mesmo costuma contar em entrevistas que a Autotrac só deslanchou depois que ele se reuniu com o então presidente Itamar Franco nos anos 1990.

Com Lula, porém, a relação é outra. O ex-piloto chegou a ser acionado pelo Ministério Público após ter se manifestado contra o resultado das urnas na última eleição e por ter pedido “Lula lá no cemitério”. A Justiça de Brasília, no entanto, arquivou o processo.

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