Filiado ao partido desde 1995 é chefe do setor de combate à covid-19 em São Paulo
Filiado ao PSDB desde 1995, quando aceitou o convite do amigo, paciente e governador Mário Covas para ingressar no partido, o médico infectologista David Uip, 68 anos, de tempos em tempos volta a ser citado como alternativa eleitoral tucana. Foi assim em 2016, quando foi convidado para ser candidato a prefeito do Guarujá, no litoral paulista, e em 2017, quando o médico surgiu como alternativa “oustider” para disputar a sucessão de Geraldo Alckmin. Nenhuma das duas avançou.
Com a projeção que ganhou à frente do Centro de Contingência do Estado para monitorar a covid-19, o ex-secretário da Saúde de Geraldo Alckmin entrou novamente no radar do PSDB para as eleições de 2022. Dirigentes e parlamentares tucanos falam abertamente que Uip pode disputar o cargo que desejar. Ou seja, o Senado ou até mesmo o Palácio dos Bandeirantes dentro de 2 anos, caso Doria dispute o Palácio do Planalto.
Confrontado com a ideia, porém, Uip rejeita eventual candidatura, especialmente depois de ver sua família virar alvo das redes bolsonaristas após confrontar publicamente o presidente Jair Bolsonaro. “Recebemos ataques todos os dias. Tinha gente que falava para a minha filha: ‘seu pai é um vagabundo, devem cassar o CRM dele’. E teve o vazamento da receita (de cloroquina) que culminou com um boletim de ocorrência no DEIC, que está investigando o caso”, disse Uip ao jornal Estado de SP.
Uip diz que a receita foi vazada de seu consultório. “A clínica tem 12 médicos, sendo 9 infectologistas. A cloroquina foi comprada com vários outros antibióticos de um arsenal que compramos para a clínica. A (receita) cloroquina vazou, mas os outros não”, disse.
‘Outsider técnico’
“É importante que o PSDB tenha um candidato próprio a governador em São Paulo e o David Uip é um nome de peso no partido”, disse César Gontijo, tesoureiro nacional do PSDB e aliado de Doria. Já a líder do PSDB na Assembleia Legislativa, deputada Carla Morando, avalia que o médico seria a melhor opção para disputar o Senado. “Ele é articulado, tem visão e pensa de forma concreta”.
Em 2017, o entorno do então governador Geraldo Alckmin apostou no médico, que era seu secretário da Saúde, para disputar o governo paulista e frear a articulação do então prefeito Doria pelo cargo. A avaliação à época era a mesma de hoje: Uip tem a “aura” da antipolítica e entraria na disputa como um “outsider técnico”.
Sem tempo ou disposição para entrar nas disputas internas fratricidas do PSDB, o médico ficou fora em 2017 e abriu caminho para a eleição de Doria. Não será diferente em 2022, garante. “Não há qualquer possibilidade de eu disputar eleição para qualquer cargo. Sou um técnico”. Por que então entrar no PSDB se não tem um projeto político-eleitoral? “As pessoas esquecem. Muito antes disso fui assessor especial do governo Mário Covas. Além de ser médico e amigo, ele pediu que o assessorasse. Até por conta dessa evolução de assessor e depois secretário eu deveria ter um vinculo com o PSDB”, justificou. “Sempre achei que era preciso ter um vínculo claro com um partido.”
No núcleo de especialistas criado pelo governador, Uip assumiu a face pública no combate a pandemia e deixou em segundo plano o Secretário de Estado da Saúde, o médico José Henrique German. Sem apego aos holofotes, German não se incomodou com o papel de coadjuvante nas entrevistas. “Ele é meu amigo há mais de 40 anos. O German é um ser superior”, disse Uip ao Estado.
Além de German, Uip chamou para o Centro de Contingência outro médico e amigo de longa data, o infectologista Marcos Boulos, que é pai o ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL). Os dois foram sócios em uma clínica há 25 anos. “Quando o Guilherme nasceu fui no pós parto visitar ele e a mãe, Ivete”, contou Uip. Atualmente, o médico que atendeu os ex-presidentes José Sarney, Lula, Michel Temer e Dilma Rousseff, se divide entre o Bandeirantes, seu consultório e a Universidade de Saúde do ABC, onde é reitor.
Após contrair o coronavírus e se curar, o médico viu seu tratamento ser politizado. Adversário político de Doria, Bolsonaro exibiu uma receita de cloroquina do consultório de Uip e afirmou que o médico assim endossava o uso do remédio, que não tem chancela da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas virou mote do discurso do presidente. O médico respondeu publicamente: “Presidente, eu respeitei o direito de não revelar seu diagnóstico. Respeite o meu de não revelar meu tratamento”.