Segundo a Folha de S. Paulo, os anos no poder levaram Jair Bolsonaro (PL) a atravessar uma fronteira perigosa no mundo da política: a marca dos 50% de rejeição. Em 2018, o capitão conseguiu se eleger porque foi capaz de conter o repúdio da maioria do eleitorado, enquanto surfava num sentimento de oposição ao PT. Agora, ele entra na campanha à reeleição em desvantagem.
O cenário não era exatamente confortável para Bolsonaro há quatro anos. Seus índices de rejeição subiram cedo, mas ele segurou esses números e chegou à véspera do segundo turno com a oposição de 45% dos eleitores.
A nova pesquisa do Datafolha mostra que 55% dos entrevistados acreditam que ele não merece um novo mandato.
O movimento desses ponteiros será um fator determinante da próxima eleição. O cenário de uma disputa concentrada entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT) indica que a rejeição a um deles favorecerá o outro.
A pouco mais de seis meses da disputa, a conexão entre voto e rejeição é quase tão intensa quanto a correspondência identificada às vésperas da eleição de 2018.
De acordo com os números atuais do Datafolha, 60% dos entrevistados que rejeitam Lula declaram apoio a Bolsonaro no primeiro turno. Entre aqueles que rejeitam o atual presidente, 68% votam no petista.
Em 2018, Bolsonaro recebia o voto de 69% daqueles que rejeitavam a candidatura de Fernando Haddad (PT). A força no sentido contrário era menor: 43% de quem rejeitava o capitão votava no petista –o que pode ser explicado pelo fato de que, naquele momento, Bolsonaro ainda não era uma força política sólida.
A polarização da disputa de 2022 atualiza esse quadro. O antibolsonarismo se cristalizou como uma força relevante da campanha. Já o antipetismo refluiu ao longo dos últimos anos, sob a liderança de Lula, mas começa a dar as caras.
Lula é hoje o candidato com a segunda maior taxa de rejeição: 37% dos eleitores dizem que não votam nele de jeito nenhum.
O petista está bem distante de Bolsonaro nesse quesito, mas os números apontam para alguns desafios em sua campanha –especialmente porque cada variação para cima beneficia diretamente o atual presidente.
A esta altura, há sinais de uma resistência à candidatura de Lula em segmentos que têm ampliado sua adesão a Bolsonaro. Em alguns deles, o petista margeia aquele patamar de risco dos 50%.
Eleitores com renda intermediária (de dois a cinco salários mínimos por mês) dão a Lula uma rejeição de 48% no primeiro turno –mesmo índice registrado por Bolsonaro. Esse grupo representa um terço da população e é um dos potenciais motores da recuperação do presidente neste início de ano.
Outros focos de rejeição ao petista são pouco surpreendentes: 46% entre os eleitores com ensino superior completo, 45% na região Sul, 45% entre eleitores que se declaram brancos e 48% no segmento evangélico.
Seguindo a lógica da polarização, Bolsonaro consegue seus menores índices negativos em alguns desses segmentos: 43% dos evangélicos se recusam a votar nele, assim como 46% dos eleitores do Sul.
Um de seus pontos fracos está na fatia do eleitorado com ensino superior completo –que foi um grupo importante para sua vitória há quatro anos. Atualmente, 57% dos eleitores dessa categoria dizem que não votam em Bolsonaro de jeito nenhum.
Esses antigos territórios bolsonaristas devem ser os principais alvos de sua campanha, numa expectativa de reverter a reprovação ao governo e, por consequência, a rejeição à candidatura do presidente.
Em outros segmentos, uma reviravolta parece quase impossível. No Nordeste, por exemplo, 62% dos entrevistados se recusam a votar em Bolsonaro.
O presidente sabe que não deve ganhar a disputa na região, mas um repúdio em massa amplia a vantagem de Lula e dificulta a tarefa de compensar essa diferença em outras regiões.
Um obstáculo complementar aparece na fatia de eleitores de baixa renda: 61% dos entrevistados desse segmento rejeitam Bolsonaro –que deve usar a máquina do governo e programas como o Auxílio Brasil para amenizar os números.
Quando a campanha esquentar, reduzir o nível de rejeição se tornará uma tarefa urgente para Bolsonaro. Ele precisa ficar abaixo do limite de 50% para se livrar do carimbo de inelegível.
No caso de Lula, os números da rejeição aparecem diretamente ligados aos esforços do PT para construir uma chapa ampla. O objetivo da sigla é estancar o antipetismo, agarrar um punhado de eleitores arrependidos de Bolsonaro e evitar uma onda a favor do atual presidente.