No primeiro levantamento do Datafolha após o primeiro turno das eleições municipais em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) surge com 58% dos votos válidos. Seu opositor, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, tem 42%.
O instituto ouviu 1.254 mil eleitores na terça (17) e na quarta (18), e a pesquisa tem margem de erro de três pontos para mais ou menos. Ela foi encomendada pelo jornal Folha de S.Paulo e pela Rede Globo, e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número SP-03437.
O prefeito liderou a corrida no primeiro turno, recebendo 32,85% dos válidos no domingo (15). Boulos teve 20,24%.
Os votos válidos excluem os brancos e nulos, que são descartados pelo TRE na contagem. Na amostra total, o tucano tem 48%, ante 35% do psolista, enquanto 13% dizem que vão anular ou votar em branco e 4%, afirmam não saber.
Covas apresenta um resultado bastante homogêneo, refletindo o resultado da eleição no primeiro turno, quando ganhou em todas as seções eleitorais da capital paulista.
O tucano tem vantagem similar sobre Boulos no quesito renda, sendo preferido (60% a 40% dos válidos) entre os mais pobres, as faixas intermediárias e entre os mais ricos (56% a 44%), avançando sobre um eleitorado próximo de Boulos. Vence entre os menos instruídos (68% a 32%).
Entre os grandes grupos socioeconômicos, Boulos só ultrapassa Covas entre os mais jovens: tem 59% ante 41% de preferência entre eleitores de 16 a 24 anos. Na faixa acima, 25 a 34 anos, está na frente num empate estatístico, 53% a 47%. Os dois segmentos somam 32% da amostra do Datafolha.
Ele tem melhor desempenho também entre funcionários públicos (64% a 36%) e vence numericamente o empate entre eleitores pretos (53% a 47%).
Entre os evangélicos, o prefeito consolidou a tomada de espaço sobre Celso Russomanno (Republicanos) no primeiro turno: tem 62% ante 38% de Boulos.
Em outro estrato associado a bom desempenho do psolista, aqueles que têm curso superior, há um empate técnico com vantagem numérica para Covas: 53% a 47% dos votos válidos.
O prefeito tem seu melhor desempenho entre aqueles que têm mais de 60 anos (74% a 26%), algo que remonta a seu sobrenome —ele é neto do governador tucano Mário Covas (1930-2001).
No primeiro turno, a alta abstenção de 29,3%, estimulada pela pandemia da Covid-19, foi vista como um sinal de alerta pelos estrategistas de Covas justamente por afastar das urnas eleitores mais velhos, de grupo de risco.
Entre quem não foi votar, o Datafolha apontou motivos de saúde como principais para 21%, mas apenas 5% citaram especificamente a pandemia, enquanto 2% disseram estar com Covid-19. O desinteresse afastou 19%, enquanto 18% estavam viajando.
O grau de decisão relatado pelos entrevistados é alto: 81% no geral, e 82% entre os eleitores de ambos os candidatos.
O Datafolha também questionou o momento de decisão do voto. No geral, 12% tomaram sua decisão no primeiro turno no mesmo dia da votação, enquanto 56% o fizeram um mês antes ou mais. Escolheram Covas na última hora 12% e Boulos, 5%, refletindo a maior convicção do eleitor do PSOL àquele ponto.
Fazem menções corretas ao número de seu candidato 65% dos ouvidos, enquanto 28% não sabem o que digitar na urna eletrônica e 3%, erraram a citação. Há paridade de conhecimento entre pró-PSDB (65%) e pró-PSOL (66%).
A migração de votos de outros adversários na primeira rodada, por óbvio dado o resultado global, até aqui favoreceu Covas. Entre os eleitores de Russomanno, que acabou em quarto com 10,5% dos válidos, 56% vão de Covas e 27%, de Boulos.
Aqui a comparação é em votos totais, pois a fatia de quem vai anular ou votar em branco é significativa: 13% dos eleitores de Russomanno, que novamente começou a corrida líder e ficou fora do segundo turno.
Entre quem votou no deputado do Republicanos no primeiro turno, 52% acham que ele deveria mesmo apoiar Covas —57% anteviram a oficialização da medida.
O apoio a Covas por Russomanno tem sido usado contra o tucano —que rejeita associação com o presidente.
É uma tentativa de colar o desgaste do ocupante do Planalto na cidade, que tem alta rejeição, assim como seu principal adversário e aliado de Covas, o governador João Doria (PSDB).
Nesse jogo, o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Boulos também tem óbices: a maioria dos paulistanos diz rejeitar um candidato secundado pelo ex-presidente.
Covas tem buscado associar a imagem de Boulos à do PT, que apoia o candidato, visando também reativar a disputa com o antipetismo que marcou pleitos anteriores na capital. Entre os 8,65% que votaram no petista Jilmar Tatto no primeiro turno, dizem preferir o psolista 72% agora, ante 18% que votarão no tucano.
No caso de Arthur do Val (Patriota, que teve 9,78% dos válidos), é ainda mais importante a questão dos nulos e brancos: 29% de seus apoiadores rejeitam votar tanto em Covas quanto em Boulos, enquanto 47% dizem apoiar o tucano e 15%, o psolista.
Já os votos de Márcio França (PSB), terceiro colocado no domingo passado com 13,64% dos votos válidos e que resiste a apoiar alguém agora, estão rigorosamente divididos: 38% para Covas, 38% para Boulos e 19%, para nenhum dos dois.
Entre seus eleitores, acham que ele deveria apoiar Covas 49% e Boulos, 38%, enquanto 45% dizem que ele vai com o tucano e 37%, com o nome do PSOL.
A corrida eleitoral mais curta da história da redemocratização de 1985 coloca pouca margem para erro dos candidatos.
Boulos escorregou na quarta (18) ao receitar contratação de funcionários públicos para sanar o déficit previdenciário municipal, um contrassenso que repercutiu entre o eleitorado mais simpático a ele, rico e de classe média, em redes sociais.
Já Covas está tendo de reafirmar que não vê uma segunda onda da Covid-19 na capital e que não acredita haver motivos para novas medidas restritivas neste momento.