Com máscara cirúrgica, terno e carregando apenas uma Bíblia, Cabo Daciolo desembarcou discretamente no aeroporto de Brasília na última quarta-feira (13) e deu entrevista a revista IstoÉ.
Sem cargo, partido ou hesitação, avisou que não desistiu do sonho da Presidência, e que já tem um plano para realizá-lo.
“Vou pegar o carro e andar por todo o Brasil. Tenho um ano e meio para fazer isso. Quando minha esposa estiver pronta para se sentar a meu lado no carro e dar uma andada, aí vai ser o momento”, disse, em conversa com a coluna, horas antes de uma reunião com Damares Alves no Ministério dos Direitos Humanos sobre a fome no país.
Após angariar 1,3 milhão de votos e ficar em sexto lugar na eleição presidencial de 2018, à frente de Marina Silva, Guilherme Boulos, Alvaro Dias e Henrique Meirelles, a ideia de Daciolo era cair na estrada.
A tarefa foi adiada em meio ao diagnóstico de que sua mulher enfrentava uma leucemia.
Agora, disse, se prepara para colocar o projeto em prática.
Nos últimos dois anos, vivendo da aposentadoria de bombeiro, posto que o lançou na política, Daciolo se divide entre ajudar a mulher, que ainda precisa ir ao médico mensalmente, ficar com os filhos e usar seu “kit monte” — com objetos como tênis e repelente, que usa para subir montes no Rio de Janeiro e orar.
Um de seus preferidos é o das Oliveiras, na Zona Oeste da cidade.
“Sigo minha busca espiritual muito intensa. Tem dias que fico no monte. Nesse cenário, se não tiver espiritualidade elevada para receber informações do alto com soluções, você olha e pensa que não tem jeito. O que mais faço é praticar jejum. Todos os dias, faço”, disse enquanto dividia-se entre uma xícara de café com leite e um copo de água.
Daciolo disse que Jair Bolsonaro é igual a Lula, e não merece mais do que uma nota cinco. Paulo Guedes teve pior sorte.
“Lula e Bolsonaro são iguais, nota cinco. Para Paulo Guedes dou nota zero, é o grande vilão da nação, é ‘privatiza tudo’. Diz que não tem dinheiro para o auxílio emergencial, mas tem”, afirmou, em uma prévia do que manifestaria a Damares Alves sobre o auxílio emergencial.
Com a Bíblia à mesa, Daciolo atacou a bancada evangélica no Congresso, fiel a Bolsonaro. E levou um conselho ao presidente há algumas semanas em um encontro.
“Quando estive com Bolsonaro, a primeira coisa que disse a ele foi: ‘Vigie com a bancada evangélica, com os que estão te cercando. Dizem ser de Deus, mas não são”.
O futuro presidenciável também desaprovou a admiração de Bolsonaro por Donald Trump, que incitou a invasão ao Congresso norte-americano.
“A invasão é muito preocupante, um péssimo exemplo para o mundo todo. Temos que orar para que isso não aconteça no Brasil. Se eu for presidente, abrirei diálogo com todos os países, em prol da nação”.
Satisfeito por ser reconhecido vez ou outra pelas pessoas no aeroporto, Daciolo também acenou com uma cadeira no Senado e até o governo fluminense. Voltar à Câmara está descartado. Mas o que o move de verdade é nítido: o Planalto.
No fim daquele dia, tomaria o avião para o Rio e voltaria a submergir.
“O sonho é a Presidência. Sei que um dia vai acontecer. O tempo é que não sei”.