Presidente do PSD, partido da base do governo de Lula da Silva (PT), e secretário de Governo e Relações Institucionais na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, Gilberto Kassab avaliou na quarta-feira que uma reeleição do atual presidente não seria fácil, se a disputa fosse hoje, e fez críticas à condução da economia ao afirmar que o titular da Fazenda, Fernando Haddad (PT), é um “ministro fraco”. A declaração se somou na quarta-feira a outras sinalizações negativas de integrantes do PSD ao governo Lula, em um momento em que a legenda negocia mais espaço na Esplanada dos Ministérios.
Kassab destacou que Lula tem perdido apoio mesmo na sua base eleitoral e que não tem uma marca forte, como teve em seus primeiros mandatos.
— Hoje (a reeleição) não é fácil. Em quase 23 anos, desde que Lula se elegeu, o PT nunca teve uma queda (de popularidade) no Nordeste. Se fosse hoje, ele estaria na campanha, mas não na posição de favorito, mas sim de derrotado. Mas Lula sempre é um candidato forte — afirmou Kassab em evento realizado pelo UBS e UBS/BB, em São Paulo.
Recuo na aprovação
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na segunda-feira mostrou que houve queda de cinco pontos percentuais na aprovação ao governo do petista, puxada pela avaliação dos eleitores com menor renda e pelos moradores da Região Nordeste, tradicional reduto do PT. A desaprovação à gestão Lula avançou para 49% e superou numericamente o apoio ao governo (47%) pela primeira vez desde o início do terceiro mandato do presidente na série histórica do instituto.
O presidente do PSD acrescentou que o sucesso da economia depende de um ministro forte na área, que consiga se impor no governo. Após listar ex-ministros que considera que considera que foram titulares da economia fortes, como Pedro Malan, Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Paulo Guedes, Kassab disse ver Haddad com dificuldades para comandar a pasta:
— Ele (Haddad) externaliza convicções e projetos, que acabam não se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da economia fraco não é um bom indicativo.
Após a fala de Kassab, o ministro da Fazenda afirmou que não havia lido a declaração ao ser questionado sobre as críticas enquanto apresentava à imprensa uma proposta de reformulação do crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada.
— Não li essa declaração, não tomei conhecimento — disse Haddad.
Também no evento de quarta-feira, Kassab elogiou Tarcísio de Freitas, a quem se referiu como um “candidato forte”. O presidente do PSD, que atua como articulador político do governador, porém, ponderou que Tarcísio indica preferência por buscar a reeleição no governo de São Paulo e não pretende disputar o Planalto. Para a corrida presidencial em 2026, o presidente do PSD citou ainda os nomes do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), seu correligionário.
— Outro candidato é o Tarcísio, lógico. Mas ele não será candidato. Está muito decidido. Ele tem dito publicamente que tem de continuar como governador. Se o Tarcísio não for candidato, cada partido vai lançar o seu. Todos eles vão ter 15%, 16% (de votos) e um deles vai para o segundo turno — avaliou.
O PSD tem hoje três ministérios no governo Lula, (Minas e Energia, Agricultura e Pesca), mas convive com insatisfações internas de políticos que não conseguem emplacar seus apadrinhados em cargos da máquina federal e, na outra ponta, de uma ala que resiste a aderir à gestão petista. Em meio à expectativa de que a gestão Lula faça uma reforma ministerial, a legenda avalia que está sub-representada, após ter bom desempenho nas eleições municipais, e tenta trocar a pasta da Pesca, que tem André de Paula à frente, pela do Turismo, sob a chefia de Celso Sabino, do União Brasil.
O Turismo tem um orçamento três vezes superior ao da Pesca e inclui a possibilidade de direcionar verbas para atividades que atraem atenção do eleitorado, como shows e eventos. O pleito do PSD e a costura dos espaços que ficarão com o União Brasil contribuíram para atrasar a reforma, inicialmente prevista para meados de janeiro.
Escolha de Gleisi
Em outra crítica de um integrante do PSD ao governo, o senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu na quarta-feira que a possível escolha da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, para a Secretaria-Geral da Presidência, cogitada internamente, “não será boa para o presidente Lula”.
— Eu adoro a Gleisi, a Gleisi é minha amiga, não tenho nada contra ela, mas ela é militante — disse Aziz em entrevista ao portal Uol.
O senador também questionou como Lula poderá colocar no governo “uma ministra que faz críticas a outro ministro”.
— Gleisi faz críticas ao Haddad… Como é que você vai botar uma ministra que faz crítica a outro ministro? Me explica aí isso. Como é que você faz isso, hein? Eu queria entender o raciocínio — acrescentou.
Lula avalia nomear Gleisi para a vaga ocupada hoje por Márcio Macêdo, também do PT, por considerar que a petista tem boa relação com movimentos sociais e já demonstrou capacidade de mobilização com a esquerda e na defesa do governo. A pasta comandada por Macêdo é responsável pela interlocução com a sociedade civil.
Ausência de Ratinho Jr.
Em mais uma sinalização do PSD ao governo Lula, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, não participou na quarta-feira de uma cerimônia para anunciar investimentos para obras em estradas do Paraná e não enviou representantes ao evento, o que gerou incômodo na gestão federal. Diante da ausência do governador, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, cobrou “reciprocidade” de governadores da oposição durante a cerimônia no Palácio do Planalto.
— Às vezes, é difícil para alguns governadores prisioneiros da polarização que não reconhecem, mas o presidente Lula segue republicano e trabalhando sempre em parceria, porque o Brasil pode fazer muito mais — disse Mercadante, sem citar nomes.
Na semana passada, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também foi criticado por integrantes do governo após faltar a um evento que oficializou a concessão de um trecho da BR-381, localizada em Minas. Na ocasião, Zema trocou farpas com o ministro de Transportes, Renan Filho (MDB).