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domingo 5 de junho de 2022 às 10:35h

Crises envolvendo Datena e Tiririca atrapalham campanha do PL em SP

NOTÍCIAS, POLÍTICA


O PL, partido que o presidente Jair Bolsonaro escolheu para concorrer à reeleição, pode ser afetado na disputa em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, por episódios envolvendo dois nomes bem conhecidos dos brasileiros: o apresentador José Luiz Datena (PSC) e o deputado federal Tiririca (PL-SP), vistos como importantes puxadores de votos.

O humorista disse conforme reportagem de Stella Borges, do UOL, que irá desistir da reeleição depois que a legenda decidiu passar o número usado por ele na urna para o recém-chegado deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Já Datena, embora não seja filiado ao PL, é pré-candidato ao Senado com a benção do presidente e visto como um nome relevante para ajudar a eleger o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro, ao governo de São Paulo. O apresentador lidera as pesquisas de intenção de voto para a vaga.

Datena, no entanto, vem reclamando de “fogo amigo” vindo do entorno do presidente contra sua pré-candidatura, que crê que ele desistirá de concorrer a um cargo público, como já ocorreu em pleitos passados. “Brigar com adversário é uma coisa, agora não pode morrer com tiro nas costas”, disse o jornalista ao UOL.

Recentemente ele protagonizou um conflito público com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Após a revista Veja noticiar que o dirigente partidário declarou que o jornalista não contaria com candidatura solidificada por causa de “coisa no passado” e que o comunicador já criticou diversos políticos — o que poderia ser um impasse para ganhar a disputa —, Datena respondeu que Valdemar, condenado no escândalo do mensalão, “saiu da cadeia outro dia”.

Bolsonaro precisou entrar em cena para acalmar os ânimos e fez Valdemar pedir desculpas ao apresentador. O ex-deputado ainda divulgou um vídeo dizendo que o partido “precisa” de Datena, numa demonstração da importância da candidatura dele para a legenda. Um nome dos quadros do PL deve ser vice de Tarcísio.

Bolsonaro se filiou ao PL em novembro do ano passado, marcando oficialmente a retomada do “casamento” com o centrão. Com a chegada do mandatário, a agremiação se tornou a maior bancada da Câmara, com 73 parlamentares.

O grupo atual de congressistas do PL é diversificado. Além dos candidatos leais a Bolsonaro, a composição eclética da legenda pode, de acordo com avaliações internas, ajudar a obter os votos fora do espectro político conservador, onde Bolsonaro já possui prevalência. Tiririca, por exemplo, é visto como responsável por atrair o “voto popular”, mas a chegada da família Bolsonaro à legenda pode tirá-lo da disputa este ano.

2222 para Eduardo Bolsonaro

Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca —ex-palhaço que ganhou fama como cantor e com participações em programas humorísticos na TV—, foi eleito pela primeira vez em 2010, com o número 2222, tido como um dos mais fáceis de memorizar. Na ocasião, tornou-se o deputado mais votado do país: foram 1,3 milhão de votos em São Paulo.

Em 2014, Tiririca se firmou como um “puxador de votos” ao ser reeleito com mais de 1 milhão de votos e, de acordo com as regras de quociente eleitoral, conseguiu incluir outros dois candidatos para a lista de eleitos —à época, a agremiação se chamava PR. Em 2018, ele venceu pela terceira vez, porém com menos votos: 445.521.

A ida do clã Bolsonaro para o partido, no entanto, pode interromper essa sequência de vitórias. Em decisão unânime tomada em uma reunião realizada há cerca de 20 dias, a Executiva do PL decidiu transferir o número usado por Tiririca por três eleições seguidas para Eduardo, também visto como um potencial puxador de votos. Em 2018, quando o pai foi alçado à Presidência, ele recebeu 1,8 milhão de votos e se tornou o candidato a deputado federal mais votado da história do Brasil.

Tiririca contou ao colunista do UOL Chico Alves ter ficado chateado ao ficar sabendo da mudança de seu código de votação por terceiros e declarou que “se soubesse que ia perder o número, tinha trocado de partido no período da janela [partidária, período permitido para a troca de partidos antes das eleições]”.

Para ele, mudar seu número depois de três eleições, é “praticamente entregar o patrimônio de voto pra outra pessoa”. O parlamentar disse que se sentiu desrespeitado e traído com a decisão da legenda e que havia decidido que não sairia candidato em 2022.

Costa Neto lamentou a decisão de Tiririca de não se candidatar, mas não demonstrou intenção de demovê-lo. “O Tiririca é muito importante para o PL, mas, se ele desistir de ser candidato, paciência”, declarou ele, por meio da assessoria de imprensa do partido.

A avaliação de integrantes do PL é de que o humorista deve voltar atrás de sua decisão, assim como fez em 2018, quando ameaçou não concorrer, mas acabou convencido a continuar justamente por ser um puxador de votos. A assessoria de Tiririca foi procurada, mas não retornou.

Já o vice-presidente do partido, deputado Capitão Augusto (PL-SP), disse à reportagem que conversou com Tiririca recentemente e que não há definição em relação aos números, sem citar a decisão da Executiva. “[Esse problema] tem tudo para ser resolvido. Não tem nada definido ainda, só em agosto. Não tem porque ficar discutindo isso agora”, disse.

“O PL está enfrentando o desafio de acomodar uma família que tem muito poder”, diz o cientista político e pesquisador Sérgio Praça, da FGV (Fundação Getulio Vargas), que vê uma aposta do partido em Eduardo com a transferência do número. “Mesmo que ele acabe não tendo um desempenho tão bom terão se aproximado do presidente, cuja família é detentora do poder político hoje.”

‘Fator’ Datena

Ainda conforme Stella Borges, do UOL, a costura para o jornalista ser candidato na chapa de Tarcísio não é recente. Em fevereiro, Bolsonaro telefonou para Datena dizendo que ele poderia ajudar seu ministro a se eleger governador. Em março, no entanto, o apresentador confirmou candidatura ao Senado na chapa de Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa a reeleição ao governo paulista.

Após ter se irritado com as movimentações do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), que no fim de março ameaçou desistir de concorrer a Presidência e seguir no comando do estado, Datena se filiou ao PSC e colocou seu nome “à disposição” para concorrer ao Senado.

Pouco mais de uma semana após ter trocado o apoio a Garcia, o apresentador foi vaiado e chamado de “comunista” por apoiadores de Bolsonaro ao aparecer ao lado de Tarcísio em um evento no interior de São Paulo. Datena já foi filiado ao PT e não poupa o governo de críticas em seus programas. Em entrevista ao UOL, o apresentador revelou que o “último cara” em quem votou foi o ex-presidente Lula.

O empresário Otávio Fakhoury, presidente do diretório estadual PTB de São Paulo, afirmou ser contra o apoio à candidatura de Datena. O PTB apoia a candidatura de Tarcísio ao governo. “Sou eleitor de Bolsonaro. Mas no Datena eu não voto!”, escreveu ele em seu Twitter recentemente.

Mesmo após o presidente ter anunciado o jornalista na chapa de Tarcísio, o nome dele ainda enfrenta resistências. Parte desses ataques viria do Republicanos, legenda que abriga Tarcísio, algo que o presidente do partido, deputado Marcos Pereira (SP), rechaçou.

“Tem um monte de cara que não quer que eu entre”, disse Datena à reportagem, sem citar nomes, ressaltando que conta com a “lealdade” de Bolsonaro. “A política rejeita pessoas boas, essas pessoas são avessas a ter gente do bem. Se eu desistir vai ser porque eu percebi que a política me regurgita, não por medo desses caras.”

Sobre as declarações de Valdemar, Datena diz não guardar ressentimentos. “Eu sou um cara cristão, mas ele teve a resposta que ele mereceu naquele momento. Quem sou eu para perdoar alguém? Não tenho mágoa do Valdemar.”

Na quinta-feira (2), o jornalista e Tarcísio se encontraram para “alinhar a campanha”. Datena é visto nos bastidores como um importante “puxador de votos” em São Paulo tanto para Tarcísio, desconhecido por grande parte do eleitorado paulista, quanto para Bolsonaro, cuja taxa de rejeição é alta.

“Datena pode ajudar o Tarcísio. Sem dúvida pelo grau de conhecimento [do estado], aparece bem colocado nas pesquisas. Agora, precisa ver se ele vai em frente. Se o Tarcísio se associa agora e ele desiste, pode trazer um desgaste para a candidatura. Estão esperando para ver. Agora, se a candidatura se consolidar com certeza vai ampliar essa presença”, avalia o cientista político Leandro Consentino, do Insper.

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