A CPI da Covid terá quebras de sigilo, vai mirar em Eduardo Pazuello e não será afetada por “milícias digitais”, disse o senador Alessandro Vieira, do Cidadania de Sergipe, autor do pedido ao STF para instalar a comissão.
“A pressão de fora, das redes sociais, das milícias digitais, vai estar acontecendo sempre. Não vejo muito espaço de impacto nisso aqui dentro”, afirmou Vieira, suplente do vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá.
Suplentes têm as mesmas atribuições dos titulares durante os trabalhos — como pedir explicações de autoridades e compartilhamento de investigações —, à exceção do voto.
Vieira é delegado da Polícia Civil de Sergipe, instituição que comandou por pouco mais de um ano, até 2017.
Esta experiência em investigação é considerada estratégica entre os senadores para que a CPI avance.
Leia os principais trechos da entrevista publicada pela revista Época:
Quando encerrar os trabalhos, a CPI terá chegado a uma lista de autoridades do governo federal culpadas na gestão da pandemia?
Tenho certeza de que isso é absolutamente possível: entregar uma radiografia para os brasileiros. Com certeza não se trata de um único erro, ou de um único responsável. Você tem uma cadeia de equívocos que acabou colocando o Brasil nessa situação. Temos que ter calma para avaliar os fatos para depois, sim, fazer indiciamentos e encaminhamentos, com um plano de trabalho rápido e eficiente para saber como e por que chegamos nessa situação de quase 400 mil mortos pela Covid. A comissão vai apresentar um relatório completo. A gravidade dos fatos não permite que você transforme isso em pizza ou interrompa sem apresentar relatório. Seria uma desmoralização absoluta. Não acredito nisso.
Essa radiografia também apontaria crimes?
Possivelmente, sim.
Pazuello e seu entorno serão alvo de quebras de sigilos ou medidas semelhantes?
O ministro Pazuello é uma peça importante da investigação. Acredito que tem que se fazer a cronologia completa, começando lá no Mandetta, avaliando passo a passo como foi a tomada de decisão do governo federal, o que fez, o que deveria ter feito e não fez, para que a gente possa montar todo esse panorama. Seguramente o Pazuello vai ser uma figura muito presente na análise da CPI.
Como avalia a pressão governista para Renan Calheiros não ser o relator?
Faz parte da dinâmica tradicional em Brasília os governos tentarem dominar ou inibir CPIs. É sempre uma demonstração de medo, seja da transparência ou da apuração. Com relação ao Renan, na medida em que está lá como senador indicado pela maior bancada, não há muito o que se falar. Tenho certeza de que ele vai saber contornar eventuais impedimentos ou suspeições.
A ofensiva do governo vai se repetir ao longo dos trabalhos?
A pressão para fora, para redes sociais, para as milícias digitais, vai estar acontecendo sempre. Para dentro, não vejo muito espaço. São apenas onze titulares. O perfil dos senadores não é muito compatível com aquelas obstruções ruidosas, aquela gritaria que a gente vê em algumas outras CPIs. Então acho que não vai ter efeito dentro da CPI.
Será um cenário diferente dos confrontos da Câmara?
A conduta do Senado geralmente é mais ponderada, com uma relação mais respeitosa entre os colegas, mesmo quando há discordâncias. Na Câmara é mais natural o confronto ideológico ruidoso. Não acho que teremos esse tipo de problema na CPI. A maior parte das questões vai ser resolvida por consenso, algumas outras poucas por voto. Tem uma maioria sólida que quer fazer a investigação avançar.
O senhor foi pressionado pelo governo, após ter pedido que o STF mandasse o Senado instalar a CPI?
Acredito não fazer parte do rol dos mais queridos do governo. Tenho uma postura independente. Cobro o que acho necessário e voto, na imensa maioria dos casos, favoravelmente a projetos do governo. Mas não passo a mão na cabeça do erro. Temos que respeitar o básico da democracia: todos estão submetidos à lei. Tanto faz se é o presidente da República ou o faxineiro. Todos têm de estar na mesma linha. Isso não gera uma simpatia do governo, que gosta muito mais da turma que fica ali pendurada em cargos ou emendas.