A CPI do 8 de Janeiro se encaminha para suas últimas semanas de trabalho com uma lista de depoimentos de ex-ministros, mas ainda dividida sobre a possibilidade de convocar Jair Bolsonaro. Até mesmo entre integrantes governistas há dúvidas sobre sobre os prós e contra de trazer o ex-presidente.
Na terça-feira, será ouvido o ex-ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), enquanto o depoimento do ex-ministro da Defesa Braga Netto está previsto para semana que vem.
Em relação a Bolsonaro, uma parte dos parlamentares avalia que ele precisa ser confrontado publicamente com as informações da delação do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. Como mostrou a coluna da jornalista Bela Megale, do O Globo, Cid disse que o ex-presidente teve uma reunião com comandantes das Forças Armadas em que um cenário de golpe foi discutido.
O entendimento de uma parte dos governistas é que ficará difícil o ex-presidente dominar a narrativa na sessão diante do que disse seu ex-auxiliar. Outra parte da base, no entanto, acha que é arriscado trazer Bolsonaro para CPI e teme que isso seja uma forma de dar palanque para ele e dê uma chance de reverter um momento negativo.
– Precisa avaliar politicamente a necessidade de trazê-lo (Bolsonaro). Eu fiz esta proposta no início da CPMI. Na terça, teremos uma reunião deliberativa. Vamos ver o que conseguimos aprovar – disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
A própria senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI, já disse em entrevista ao O Globo que não vê “necessidade de ouvir o Bolsonaro”. Por outro lado, ela não afastou a possibilidade de pedir o indiciamento do ex-presidente.
— Bolsonaro pode não vir, mas ele não vindo, não significa que ele está isento de qualquer tipo de indiciamento, como eu também não posso dizer se ele será indiciado ou não— afirmou.
Outros nomes ligados a Bolsonaro e que mantinham uma relação próxima durante o governo dele já tem consenso para irem à CPI do Congresso. Governistas desejam que esses personagens colaborem e indiquem qual a participação que o governo passado teve na facilitação dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes.
Com fim previsto para o dia 17 de outubro e ainda com uma sessão dedicada para ler o relatório de Eliziane, o tempo para ouvir todas as pessoas desejadas pela base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem a maioria na comissão, é curto.
Soma-se à falta de tempo a ausência de sintonia entre a relatora e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), que já convocou uma sessão de requerimento nesta semana para também atender pedidos da oposição, como convocar um representante da Força Nacional, algo feito com o objetivo de desgastar o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Em uma manobra, Maia já anunciou que vai fazer uma votação em bloco, em que pedidos governistas e da oposição serão apreciados ao mesmo tempo. Em entrevista coletiva na semana passada, o deputado disse que “ou aprova todos os requerimentos ou rejeita todos”.
Entre as prioridades dos governistas estão os ex-ministros militares Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), que já têm data programada para irem à comissão. Sem data marcada, também estão na mira o almirante Garnier, ex-comandante da Marinha, Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais do governo Bolsonaro, o empresário Meyer Nigri e o general Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid. Além da reconvocação do próprio Mauro Cid.
Também há uma movimentação para aprovar a quebra do sigilo fiscal e bancário de Garnier e para pedir relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Heleno irá depor nesta terça-feira. Já Braga Netto deve ir ao Congresso na próxima semana. Também nesta semana a CPI irá ouvir Alan Diego dos Santos, um dos apontados na tentativa de ataque com bomba no aeroporto de Brasília.
O deputado Rafael Britto (MDB-AL), um dos autores de requerimento para convocar Heleno, disse que “ainda existem esclarecimentos a serem dados pelo ex-chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), do governo Bolsonaro, em especial sobre o seu envolvimento nos atos do dia 08 de janeiro e sobre seus indicados ao GSI”.
Garnier e Filipe Martins entraram na mira da CPI após a delação de Cid. De acordo com relatos do ex-assessor de Bolsonaro, ambos se mostraram favoráveis a um golpe para impedir que Lula assumisse a Presidência. Fundador da construtora Tecnisa e próximo de Bolsonaro, Meyer Nigri chegou a ser investigado pela Polícia Federal por manter conversas de teor golpista com outros empresários durante a eleição de 2022.