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sexta-feira 22 de dezembro de 2023 às 13:50h

Conselho de Ética da Câmara: casos explodem com polarização e redes sociais

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


O ano da Câmara dos Deputados termina com um tapa na cara (literalmente) e o maior número de representações no Conselho de Ética, desde o mensalão. Foram 31.

O que aconteceu

Aumento das denúncias é uma tendência, avaliam cientistas políticos, diz Felipe Pereira, do Uol. Na quinta-feira (21), o PT entrou com duas representações após o episódio do tapa na cara desferido pelo deputado Washington Quaquá (PT-RJ) em Messias Donato (Republicanos-ES).

A combinação entre polarização e redes sociais provoca essa explosão de casos. Para embasar a afirmação, especialistas ressaltam que o aumento de representações no Conselho de Ética começa em 2018, ano da eleição de Jair Bolsonaro (PL).

O ano de 2023 termina com cinco vezes mais denúncias do que em 2017, quando cinco foram registradas. O número só não é maior que o de 2006, ano seguinte ao escândalo do mensalão.

Apesar do alto número de denúncias, sete em cada 10 são arquivadas, historicamente.

Tapa é resumo da situação

O tapa de Quaquá no rosto do colega Donato é um resumo do cenário atual. A opinião é de Josué Medeiros, cientista político, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do Observatório Político e Eleitoral.

A presença de Lula no plenário fez com que petistas e bolsonaristas travassem uma espécie de guerra de torcidas. Tudo era gravado para ser compartilhado nas redes sociais.

“É uma nova dinâmica no parlamento”, afirma Medeiros. Quaquá avançou na direção de Donato com o celular na mão e aos berros. O tapa foi registrado por um deputado da oposição que também gravava a cena.

Ano de eleição deve seguir com o número alto de denúncias, mesmo se houver punição. O cientista político afirma que a tendência de representações no Conselho de Ética deve seguir até a metade de 2024. Nem um castigo exemplar para o caso do tapa consegue interromper o aumento de denúncias, avalia Josué Medeiros.

O cientista político ressalta que parte da militância — dos dois lados da polarização — aplaude atitudes como as de Quaquá. E diz que os apoiadores desejam fazer a mesma coisa que o deputado petista fez. Somente a parte não envolvida na disputa Lula x Bolsonaro condena.

Eles se especializaram em criar situação de conflito, jogar na rede e alimentar seu público.

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Isso é visto como postura combativa. Quaquá é personagem criticado na esquerda, mas o gesto de anteontem caiu nas graças [da militância] porque fez o que todos têm vontade de fazer.

Josué Medeiros, do Observatório Político e Eleitoral

Lira pediu decoro

A forma de deputados influencers atuar levou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) a pedir calma no começo do ano. Ele estava preocupado com possíveis embates que pudessem manchar a imagem da Casa.

O apelo de Lira não surtiu efeito porque deputados dependem desse tipo de comportamento para manter o núcleo mais duro do eleitorado, afirma Carlos Ranulfo, cientista político da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

O especialista ressalta que o comportamento atual é mais interessante para o bolsonarismo. Ranulfo explica que o aumento de tensões vai na contramão da harmonia que o Planalto precisa para governar o país.

Abastecer o WhatsApp e o Instagram virou uma forma de se fazer política, observa o cientista político da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Ranulfo Paranhos. Ele diz que bolsonaristas ensinaram este caminho ao conseguirem virar deputados graças à atuação nas redes sociais, em 2018.

Ele ressalta que a lista dos denunciados no Conselho de Ética coincide com os mais populares. A relação tem nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP), Samia Bomfim (PSOL-SP), André Janones (Avante-MG) e Erika Kokay (PT-DF).

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