Após autorização por sua Carta Régia, o cacau começou a ser cultivado oficialmente no Brasil em 1679, mas antes disso, essas árvores já eram encontradas no Pará e arredores. Os padres da Companhia de Jesus, ali estabelecidos desde o inicio do século XVII, foram pioneiros no cultivo do cacau na região.
No Brasil, as sementes de cacau chegaram em 1746 trazidas por um francês que presentou Antônio Dias Ribeiro, um fazendeiro do Sul da Bahia
Um dos doces mais venerados no mundo, o chocolate tem origem nas regiões tropicais das Américas Central e do Sul. Segundo uma lenda asteca, Quetzalcoatl, deus da Lua, roubou da terra uma árvore de cacau – fruto que é a matéria-prima do chocolate – para presentear seus amigos homens com uma delícia dos deuses. Na época, o costume dos indígenas da região era produzir uma bebida escura feita com as sementes fermentadas do fruto do cacaueiro batizada de tchocolath (tchocol, de amargo, e ath, de água).
Segundo reportagem de Lívia Andrade, da Veja, o líquido foi levado à Europa por Fernando Cortez, espanhol responsável pela colonização do México. Ele ficara intrigado com a poção escura que os nativos bebiam e ofereciam aos deuses, porque ela dava a eles um vigor impressionante. “Uma taça da tal bebida permite aos homens caminhar um dia inteiro sem a necessidade de outros alimentos”, escreveu Cortez ao imperador Carlos V. A lenda e as propriedades do chocolate foram se difundido a ponto de influenciar o botânico sueco Carlos Linnaeus, que classificou o cacaueiro como theobroma cacao, do grego theo (deus) e broma (alimento).
A importância do fruto fez dele uma moeda de troca. Com dez favas (sementes) se comprava um coelho e com 100 favas, um escravo. As primeiras fábricas de chocolate foram abertas na Espanha e na França no fim do século 16, época em que o chocolate era feito apenas com cacau e açúcar. No entanto, em 1870, o chocolateiro suíço Daniel Peter, influenciado por seu conterrâneo, o químico Henri Nestlé, que inventara o leite condensado, resolveu juntar leite aos outros ingredientes da receita. Nascia assim o chocolate ao leite.
No Brasil, as sementes de cacau chegaram em 1746 trazidas por um francês que presentou Antônio Dias Ribeiro, um fazendeiro do Sul da Bahia, com algumas delas. O clima favoreceu o plantio e as lavouras cacaueiras prosperaram na região, que ficou conhecida pelos coronéis do cacau, fato que – inclusive – inspirou obras literárias do consagrado escritor Jorge Amado. A produção abundante levou os irmãos Neugebauer e o sócio Gerhardt, todos imigrantes alemães, a fundar a primeira fábrica de chocolate brasileira, em Porto Alegre, em 1891. Vinte e um anos depois, o cônsul suíço Achilles Izella lançou a pedra fundamental de outra marca nacional, a Lacta. Depois veio a Kopenhagen em 1928, a Garoto em 1929 e, em 1959, a suíça Nestlé começou a fabricar chocolates no Brasil.
A abundante oferta de matéria-prima atraiu grandes players, como a Cargill, até hoje a maior processadora de cacau da América Latina. De 1986 até 1990, o Brasil foi o segundo maior produtor mundial da commodity, chegando a produzir 458 mil toneladas de amêndoas/ano. Hoje, está em sétimo lugar do ranking com uma produção de 214 mil toneladas no ano passado. O declínio deixou as indústrias moageiras, aquelas que prensam o cacau para extração de manteiga de cacau e massa de cacau, com capacidade ociosa. Atualmente, elas importam matéria-prima para suprir a demanda das fábricas de chocolate do Brasil.
O declínio das lavouras cacaueiras se deve à introdução criminosa (como ficou comprovado) da vassoura-de-bruxa, praga que dizimou as plantações. No entanto, em 2016 a cadeia do setor lançou um plano para dobrar a produção brasileira de cacau em 10 anos. “Somos o único País do mundo que produz cacau, processa a amêndoa, fabrica chocolate e tem mercado consumidor”, diz Eduardo Bastos, diretor-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
De fato, há espaço para crescer. “O brasileiro consome em média 2,5 quilos de chocolate por ano, enquanto o suíço, o austríaco e o alemão consomem um volume superior a 7 quilos por pessoa/ano”, diz Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab, associação que representa a indústria brasileira de chocolate e cacau. Nos últimos anos, cresceu o número de chocolatarias artesanais no Brasil, aquelas que trabalham no conceito Bean to Bar e fazem todas etapas da fabricação do chocolate desde a amêndoa até a barra. A exemplo do que aconteceu no mundo do vinho, a tendência é que se valorize cada vez mais a origem da matéria-prima e as características peculiares do chocolate feito com o cacau de uma determinada região.
1- Existem mais de 16 espécies de cacau, as duas mais comuns no Brasil são: a Theobroma cacao L (criollo venezuelano) e a Theobroma leiocarpun Bern, chamado popularmente de cacau forasteiro ou cacau roxo. O cacau roxo se subdivide em quatro variedades: Comum, Pará, Maranhão e Catongo.
2- O cacau chegou ao Brasil pelo Estado do Pará, trazido pelo francês Louis Frederic Warneaux. No mesmo ano, em 1679, Antônio Dias Ribeiro recebeu algumas sementes do colonizador francês e começou a cultivar a amêndoa em Ilheus e Itabuna, sul do Bahia, o que ajudou no desenvolvimento econômico da região.
3- O cultivo de cacau nas cidades baianas foi tão bem-sucedido que contribuiu para enriquecer a cultura brasileira, servindo de inspiração até para as obras do consagrado escritor Jorge Amado.
4- Na metade do século 19, o Brasil já era o maior exportador de cacau do mundo, chegando a mandar para o exterior, em 1880, mais de 70 mil toneladas. Com a produção do cacau em alta, começaram a surgir, no fim do século 19 e início do século 20 as indústrias de chocolate no país. Em geral, elas eram familiares, fundadas por imigrantes da Alemanha, Letônia e Suíça.
5- A primeira fábrica de chocolate foi a Neugebauer Irmãos & Gerhardt, fundada em Porto Alegre no ano de 1891. A empresa pertencia aos irmãos alemães Franz, Ernest e Max Neugebauer e ao sócio Fritz Gerhardt.